Corte Suprema de Justiça da Colômbia desqualifica os arquivos do computador bombardeado como provas legais!

São esses supostos arquivos do Word contra o jornalista sueco Joaquín Pérez Becerra, editor da agência de notícias, ANNCOL, que agora caem por decisão da Suprema Corte de Justiça. Logo o jornalista sueco poderá voar para a Suécia, reencontrar sua família e amigos, porque ser editor de um meio alternativo e crítico contra o terrorismo de Estado na Colômbia, não é um delito.

TEGUCIGALPA / 18-05-2011 / Numa decisão que deve causar semanas de insônia aos generais, promotores e a dupla Uribe & Santos, a Suprema Corte da Colômbia desclassificou os “supostos” arquivos do computador do assassinado chefe guerrilheiro Raúl Reyes. Como consequência da decisão, todos os processos jurídicos que foram iniciados ou estão para iniciar com a fundamentação dos arquivos caíram.

O líder guerrilheiro foi morto quando seu acampamento foi bombardeado em 1º de março de 2008, há 1,7 quilômetros adentro do território equatoriano. A aviação colombiana enviou vários mísseis de 500 quilos ao acampamento, seguidos por uma frota de helicópteros Black&Hawks, que lançaram tiros e rajadas de metralhadoras aos guerrilheiros. O último passo foi a invasão direta das tropas terrestres, contingentes das Forças Especiais, que deram tiros de graça, contra vários guerrilheiros que estavam gravemente feridos e, também, contra quatro estudantes mexicanos.

O fato de que os laptops tinham “sobrevivido” a semelhante bombardeio que tirou a vida de 25 guerrilheiros, vinha sendo muito questionado pelos especialistas no assunto.

Porém, o motivo lógico da decisão da Corte foi que os três laptops e umas memórias USB ficaram em poder dos Comandos Especiais do exército durante três dias consecutivos e não nas mãos da polícia Jurídica.

A própria Interpol constatou, em sua investigação sobre os computadores, que mais de 48.000 arquivos tinham sido removidos, movidos, trocados, apagados e que vários arquivos tinham data e ano de 2014 ou outros anos. Isto confirma que os militares não só tinham copiado os supostos discos rígidos, mas também os tinham manipulado da maneira mais descarada.

O ex-presidente Álvaro Uribe e seu então ministro de defesa, Juan Manuel Santos, hoje presidente, entregaram cópias dos discos ao Centro Britânico de Estudos Estratégicos (ISIS). Este instituto é conhecido por ser dirigido por ex-agentes da CIA e outros personagens conhecidos pela simpatia à direita. Em 10 de maio, o ISIS começou uma literal comercialização dos supostos arquivos do laptop de Raúl Reyes, acusando tanto o presidente Hugo Chavez como o presidente do Equador, Rafael Correa, de terem ligações diretas com a guerrilha das FARC.

Também é importante sublinhar que os supostos arquivos do computador de Raúl Reyes não são correios eletrônicos (e-mails), mas arquivos do software Office Word, o que um capitão do exército declarava há dois anos.

E são esses arquivos de Word que o juiz aceitou como “provas” no processo judicial contra o jornalista sueco Joaquín Pérez Becerra. Becerra, editor da agência de notícias, ANNCOL, foi deportado da Venezuela, onde chegou em 22 de abril procedente da Suécia, para a Colômbia, em 25 de abril.

Se cumprida a decisão da Corte Suprema de Justiça, o jornalista sueco poderá voar o mais rápido possível para a Suécia, para reencontrar sua família e amigos.

As Forças Militares colombianas possuem uma unidade especial chamada “Departamento E-5”. Lá, trabalham os maiores jornalistas colombianos, recrutados para promover o trabalho propagandístico de um dos atores da guerra.

Essa parte psicológica da guerra vem sendo consideravelmente reforçada durante a última década. Os militares possuem emissoras de rádio e canais de televisão em todo o território nacional que possuem uma audiência considerável, comparados com as grandes estações nacionais, como Caracol e RCN.

É um segredo público entre os jornalistas na Colômbia que, justamente o “Departamento E-5” [1], tenha sido delegado de criar, modificar e manipular arquivos para serem usados como “provas” contra opositores na Colômbia e no exterior. E, assim, o laptop de Raúl Reyes era considerado um verdadeiro “tesouro” para esses porta-vozes da guerra na Colômbia.

Fonte: http://carloslozanoguillen.blogspot.com/2011/05/ultima-hora-corte-suprema-de-justicia.html

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza