As FARC manifestam sua vontade política de paz, em mensagem enviada ao Encontro Nacional pela Paz
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Num comunicado apresentado na internet e dirigido aos participantes do encontro nacional pela paz, o movimento guerrilheiro das FARC-EP manifestou sua vontade política para iniciar os diálogos com o governo atual, “tendo como única condição, firmar a disposição em encontrar os caminhos que nos permitam criar o entorno para profundas reformas econômicas, sociais e políticas que garantam a Paz com Justiça Social, com todos os setores representativos do povo colombiano e com a comunidade internacional disposta a nos acompanhar”.
Do outro lado, mulheres de diversos países e do grupo “Colombianos e colombianas pela paz” pediam aos guerrilheiros a libertação dos prisioneiros de guerra em seu poder, como um gesto importante para a construção da paz.
Durante o encontro, que reuniu em torno de 30.000 pessoas de todo país, a liderança indígena do Cauca propôs reunir-se com as FARC, para falar da paz da Colômbia. Enquanto isso, a Associação Campesina do Vale do Rio Cimitarra – ACVC, organizadora desta iniciativa, fez o pedido à mobilização cidadã permanente pela paz, como forma definitiva para gerar o diálogo e a solução política para o fim da guerra na Colômbia.
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Segue transcrito o texto completo do comunicado das FARC:
SAUDAÇÃO AO ENCONTRO NACIONAL PELA PAZ
Compatriotas organizadores, apoiadores, observadores e participantes deste encontro de iniciativas e experiências campesinas, afro-descendentes e indígenas pela paz na Colômbia. Mulheres e homens de Barrancabermeja e de Magdalena Medio. Observadores internacionais, colombianos e colombianas.
Expressamos nossa saudação a esta iniciativa e reconhecemos nela uma possibilidade real para avançar pelos caminhos da reconciliação e da reconstrução da nação, posicionando a rota do diálogo e da solução política no cenário das urgências que estremecem o país.
Nós da FARC-EP reiteramos nosso indeclinável compromisso de empreender todas as nossas energias e esforços para receber ideias e acompanhar a busca de fórmulas que desemboquem no diálogo, com o intuito de retirar a pátria da obscura noite do terror a que está submetida nestes 63 anos. Essa situação se dá por causa da voracidade e da opulência do poder de setores oligárquicos minoritários da nação e do estrangeiro, que aumentam seus privilégios mantendo a violência como a opção exclusiva, por parte do Estado, para a imposição das políticas de exclusão que vem caracterizando todos os governos.
Historicamente, desde o início da resistência Fariana, já com 47 anos, clamamos, com toda força que representa esta palavra, por saídas diferentes da guerra. A guerra pela guerra, por privilégios ou enriquecimento pessoal, ou por sentimentos de vingança, não constitui a razão de nossa existência. A razão de nossa luta é por uma ordem social de justiça plena, profundamente humanista e soberana, que garanta o exercício da paz como um direito da humanidade. Porém, este clamor vem sendo, também, historicamente desconhecido e ignorado pelos diferentes governos, que aprofundaram e degradaram o conflito interno, divulgando fracassadas promessas de aniquilamento ou exigências de rendição à insurgência. Apresentam a situação como se fosse um problema isolado do conjunto dos desequilíbrios políticos, econômicos e sociais causados à Colômbia por todos os seus governantes.
A guerra, com todo o peso de sua barbárie, não pode seguir sendo o rumo da nação somente para garantir o crescimento dos interesses do capital financeiro, dos latifundiários e narco-latifundiários, das máfias em todos os âmbitos e das transnacionais que agravam, a cada segundo, a crise social e ambiental, afetando profundamente milhões de colombianos, colocando em perigo a existência do planeta. O sistemático terror do Estado, a violência institucionalizada e para-institucional, responsáveis pelo assassinato, desaparecimento forçado e deslocamento massivo, têm que ser detidos com ações independentes e comprometidas com a paz, como representa este encontro.
A promoção de falácias tão infames e impactantes como o “fim do fim” ou o “pós-conflito”, projetadas para ocultar os abusos, o enriquecimento familiar, a perseguição aos opositores, a corrupção e o autoritarismo dos últimos governos, não pode continuar justificando o crescente gasto militar que se separa da inversão social a que está comprometido o Estado. A maioria dos participantes deste encontro que vivem em territórios onde se desenvolve o conflito, sabem que as confrontações persistem, que existe o terrorismo de Estado, os “falsos positivos”, como eufemisticamente são chamados pelo governo. Sabe que é uma política macabra implantada desde o mais alto escalão do Estado para intimidar a população civil e criar falsas expectativas sobre os avanços militares da força pública oficial. E vocês sabem que a insurgência se move, se apresenta algumas vezes de forma pública e outras de forma clandestina. Mas estamos sempre presentes. Sabem porque a sentem diariamente e são obrigados a enfrentar as consequências do conflito. A resistência armada não se derrota com mentiras, com ameaças, bravatas, nem com manchetes sensacionalistas. A resistência armada existe e se mantém como se mantêm e cresce a pobreza, o desemprego, a falta de moradia, educação, assistência médica e preventiva de saúde, de terras para a produção camponesa, como se mantêm o deslocamento e cresce a violação aos direitos humanos.
A desigualdade vem crescendo e para equilibrar as cargas sociais que atiçam o confronto, não são suficientes os bilhões de dólares que se lançam ao fogo insaciável da guerra. Requer avançar mais além. Requer compromisso, esforço e iniciativas nacionais que obriguem o governo a abrir caminhos para a paz. Assim, nós das FARC-EP percebemos nos encontros diários, em nossas andanças pela terra da pátria e na convocatória deste evento, passos seguros nesse caminho.
Participamos de várias tentativas de diálogo com distintos governos, sempre acompanhados de um profundo compromisso de paz e esperançosos de encontrar na outra parte a mesma disposição e vontade indeclinável para produzir as mudanças estruturais, que reclamam a consolidação da justiça social, como base fundamental para a paz. Porém, os setores do poder representados nesses governos, determinaram que seu único objetivo é o de ganhar tempo para recompor a estratégia dos planos de guerra, prolongando a existência do conflito social e armado com todas as suas calamidades.
Só a mobilização de todas as forças sociais da nação abrirá o caminho para a reconstrução e reconciliação nacional, iniciando de forma imediata o cumprimento de acordos humanitários que resolvam o drama dos prisioneiros de ambas as partes. Inegavelmente, acima de qualquer barulho midiático para ocultar esta realidade, a situação permanecerá enquanto a confrontação armada se mantenha. Assim como as dramáticas condições em que vivem, nas prisões dos Estados Unidos, os comandantes guerrilheiros Simón Trinidad, Sonia e Iván Vargas, que deverão ser repatriados num processo efetivo de reconciliação. Da mesma forma, a liberdade para as vítimas das capturas massivas pelo modelo de criminalização e acusação do protesto social implantado pelo Estado contra os integrantes de todas as forças políticas e sociais de oposição.
Recorrendo aos chamados à busca de uma saída distinta para a guerra, para resolver o conflito social e armado em que vive nossa nação e ante a disposição expressa pelo senhor Presidente para explorar esse caminho, manifestamos perante vocês nossa vontade política, para, o mais rápido possível, dar passos no sentido da criação do cenário propício ao início do diálogo, sob a única condição de que seja firmada a disposição de encontrar os caminhos que nos permitam criar o ambiente para as profundas reformas econômicas, sociais e políticas que garantam a Paz com Justiça Social, com todos os setores representativos do povo colombiano e da comunidade internacional disposta a nos acompanhar.
Reiteramos nosso desejo para que este encontro ajude a abrir os caminhos esperançosos da paz.
Com fraterno respeito.
Secretariado Nacional do Estado Maior Central.
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia FARC-EP.
agosto de 2011.
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza