A tragédia dos líderes sociais na Colômbia

imagemPor Tania Peña

Bogotá (PL) O crescente número de crimes contra líderes sociais na Colômbia causa comoção em amplos setores do país e da comunidade internacional.

O procurador geral da Colômbia, Fernando Carrillo pronunciou, em 21 de julho, uma frase que poderia se interpretar como uma sentença: “a morte do processo de paz é a morte sistemática dos líderes sociais”.

E a seguir, colocou uma nota discordante no discurso governamental em relação com o tema: o perfil de sistematicidade dos fatos que ele atribui ao grau de impunidade que os rodeia.

“O sistemático é a impunidade nestes casos; apenas começam a se produzir os primeiros resultados em relação ao esclarecimento destes crimes”, afirmou Carrillo.

Também Alberto Brunori, alto comissionado para os direitos humanos da ONU na Colômbia, disse que é preocupante a impunidade em torno da crescente cifra de homicídios de líderes sociais.

“A ausência de punições para os autores desses crimes favorece uma maior violência, exercida como um meio de controle social”, frisou.

Segundo a Defensoria do Povo, nos últimos dois anos e meio, foram assassinados 321 líderes sociais na Colômbia.

Por isso o passado 6 de julho se acenderam centenas de milhares de velas nas principais cidades do país sul-americano, em sinal de repúdio à criminalidade crescente.

Através das redes sociais transcenderam também manifestações na Austrália, Espanha, Alemanha, Bélgica e Noruega, entre uma dúzia de países que responderam à convocatória do denominado “Velatão pela Vida”.

Desde as Nações Unidas, a Corte Constitucional e o Episcopado da Colômbia se transmitiram mensagens de consternação pela escalada de feitos violentos contra líderes comunitários, camponeses, indígenas e representantes de movimentos políticos.

“O recrudescimento da violência afeta as condições para uma verdadeira paz, estável e duradoura”, expressou a ONU num comunicado.

Conforme o organismo internacional, são inúmeras as violações aos direitos individuais e coletivos dos moradores de departamentos como Antioquia, o Cauca, Chocó, Córdoba, Nariño, Norte do Santander e Vale do Cauca.

A onda criminosa obrigou o governo a convocar uma reunião de emergência que determinou um plano de medidas para avançar na proteção aos líderes sociais.

Após o encontro da Comissão Nacional de Garantias, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, deu a conhecer que se fortalecerá a Unidade Nacional de Abrigo com mais recursos e ficarão em andamento esquemas de segurança coletiva.

O Ministério de Defesa prometeu fortalecer o instrumento de reação rápida que hoje trata os alertas gerados pela Defensoria do Povo, acrescentou o chefe de Estado.

No entanto, para o Monsenhor Darío do Jesus Monsalve, Arcebispo de Cali, “enquanto não se desmontarem as estruturas que originam estas mortes, não vamos poder ter a segurança de socorrer a vida de ninguém e menos ainda dos líderes e das lideres sociais”.

E, na verdade, analistas advertem que o Cauca, Antioquia e Chocó são aqueles pontos da geografia nacional mais violentos devido a sua posição estratégica na produção e comercialização de coca e cujos territórios são disputados por bandos do crime organizado.

Entre janeiro de 2016 e junho de 2018 foram assassinados 78 líderes no Cauca, bastião da luta indígena e camponesa na Colômbia, defensora dos acordos de paz e da substituição dos cultivos de uso ilícito.

Muitas das mortes estão ligadas aos processos de restituição de terras. Trata-se de proprietários legais de prédios deslocados por grupos à margem da lei que, ao retornar às suas propriedades, amparados em uma decisão judicial, são assassinados.

Também os conflitos associados à defesa do meio ambiente e do território face a interesses privados foram causas de homicídios.

Tanto é assim que os litígios por terra, território e recursos naturais representam 83 por cento dos homicídios em 2018.

Outro perfil é o de líderes de organizações que procuravam a verdade sobre os crimes que sofreram as vítimas ou eram reclamadores de terras.

A Organização Nacional Indígena da Colômbia e o Conselho Regional Indígena do Cauca asseguram que os assassinatos de líderes originários se produzem para usurpar o território ancestral.

A luta histórica dos povos nativos representa “um risco para a política neoliberal que vem acompanhada de exploração de ouro e petróleo”, assinalam as coletividades indígenas.

Em entrevista para Prensa Latina, o Secretário Geral do Partido Comunista, Jaime Caycedo, qualificou de muito grave a alta da onda de crimes contra ativistas sociais, defensores dos direitos humanos, líderes de esquerda, camponeses e indígenas.

Estão a se repetir, de algum jeito, situações e experiências que tinham ficado no passado, como ocorreu com o extermínio da União Patriótica, e isto não é um bom presságio em um momento de trânsito de um governo a outro, asseverou Caycedo.

Segundo o padre Francisco Do Roux, presidente da Comissão da Verdade, os líderes assassinados na Colômbia eram homens e mulheres de paz, jamais levaram uma arma; e justamente por isso eram extraordinariamente frágeis, embora imensamente valiosos do ponto de vista ético.

Em comovedora descrição da tragédia que vivem, comentou Do Roux que em outros países seriam heróis nacionais, enquanto aqui os matam.

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