São Carlos nas mãos da especulação imobiliária

imagemMaurício Parisi*

São Carlos se encontra em situação semelhante à de todo o país. Entregue às elites locais, o povo trabalhador fica refém das políticas exploradoras e inconsequentes da burguesia brasileira.

Nas últimas eleições municipais, foi eleito prefeito o senhor Airton Garcia, que apesar da personagem criada à semelhança de um trabalhador rural, nada mais é do que um oligarca latifundiário, tratando-se do prefeito com o maior patrimônio declarado no país, superando até João Dória.

Não demorou para a população sucumbir às políticas inconsequentes de sua gestão. O PSB, seu partido, apresenta-se em sua verdadeira face no estado de São Paulo: mera linha-auxiliar do PSDB. Portanto, dá continuidade à política das cúpulas oligarcas tanto quanto na gestão anterior, de Paulo Altomani (PSDB).

As crises na saúde e no transporte público são sintomáticas da ingerência em que se encontra a prefeitura municipal. Com a maior parte das UPAs fechadas, sem verba suficiente para operar, salários atrasados, sobrecarregando a Santa Casa e as poucas Unidades de Pronto-Atendimento ainda abertas.

O transporte público, que já era desastroso na gestão PSDB, com a empresa Athenas Paulista, conseguiu ficar ainda pior na atual gestão do PSB. A empresa Suzantur mostrou todo o despreparo e péssima qualidade que somente as mais desastrosas licitações emergenciais podem prover à população. Nada de novo no verdadeiro monopólio mafioso que são as empresas de transporte no estado, simulando a concorrência e prometendo mundos e fundos e entregando o de sempre: trabalho precarizado com altos custos pro setor público e um serviço tenebroso e de risco para a população.Prova disso é o fato de que o número de usuários do transporte público na cidade tem despencado nos últimos anos.

Esses são somente breves e alarmantes exemplos de que a promessa do “novo” na política deve ser tomada com bastante desconfiança pois, na prática, o que os partidos da ordem entregam sempre é mais da velha política exploratória burguesa. Sucessivas gestões completamente despreparadas que tratam a política como um verdadeiro negócio.

A discussão do Direito à Cidade, tão importante nestas eleições de agora, não significa absolutamente nada para as últimas gestões da prefeitura de São Carlos. A cidade segue sendo conhecida pelos vários empreendimentos imobiliários de péssima qualidade, através do Programa Minha Casa Minha Vida (um dos mais recentes, o Jardim Zavaglia, já possui grande parte dos imóveis entregues com avarias decorrentes de despreparo durante as obras) em concomitância com suntuosos empreendimentos de luxo, caso dos vários condomínios fechados que encontramos na cidade.

A cidade de São Carlos, portanto, segue sendo verdadeira refém do mercado imobiliário especulativo. Esta não possui déficit habitacional, o que apenas reforça o caráter especulativo do Programa Minha Casa Minha Vida, que não atua sobre uma demanda mas, pelo contrário, cria demanda, visando fortalecer um nicho de mercado e praticando a velha política de segregação socioespacial em nossas cidades. Essa política empurra os mais pobres para as periferias urbanas sem prover sequer a mais básica infraestrutura.

Para além disso, por conta das Universidades locais (duas públicas, UFSCar e USP, e uma privada, UNICEP) o mercado imobiliário segue fervoroso na prática da especulação urbana, atentando não só contra a população através do aumento dos preços de imóveis, mas também através do verdadeiro esfacelamento do patrimônio histórico da cidade. O centro da cidade e, principalmente, a Avenida São Carlos, outrora conhecidos pelos diversos casarões históricos de arquitetura típica, hoje nada mais são que o retrato de uma cidade que se tornou uma boca banguela, tomada de todos os lados pelo avanço desenfreado do mercado imobiliário.

A população são-carlense não possui outra alternativa senão reconstruir e fortalecer a organização dos trabalhadores enquanto classe na cidade. Nesse sentido, nestas eleições, o PCB se apresenta como força política que, mais do que somente criticar e se colocar contra as políticas exploratórias vigentes, se coloca decididamente na vanguarda desse movimento através de um projeto e plataforma políticas consequentes e revolucionárias.

*Historiador formado pela USP, professor da Rede Municipal de São Paulo e candidato a deputado federal pelo PCB com o número 2121