O obscuro Governo Moisés
Comandante Moisés (PSL) governador eleito de SC
Rodrigo Lima, militante do PCB em Santa Catarina
As eleições de 2018 marcaram uma inflexão no cenário político estadual de Santa Catarina. A vitória do Comandante Moisés para o governo do estado, com 71,09% dos votos válidos obtidos no segundo turno, representou um deslocamento da hegemonia política do campo da centro-direita para a extrema-direita.
No estado a onda bolsonarista foi avassaladora. Jair Bolsonaro obteve em Santa Catarina maior votação proporcional no primeiro turno, 66% dos votos válidos. No segundo turno o bolsonarismo conseguiu seu segundo melhor desempenho no país, ficando atrás apenas do Acre. Nas eleições de 28 de outubro Bolsonaro atingiu 75,92% dos votos válidos entre o eleitorado catarinense.
O PSL foi o partido que elegeu mais deputados federais, quatro das dezesseis vagas reservadas para o estado, e a segunda maior bancada de deputados estaduais, ficando atrás apenas do tradicional MDB. A votação expressiva dos bolsonaristas fez com que o PSL, sem ter coligado com nenhum outro partido, atingisse tamanha representatividade institucional.
O fenômeno bolsonarista entre os catarinenses pode ser compreendido a partir de várias causas e fatores. Pode-se destacar que os efeitos da crise econômica, política e social que vive o Brasil, tiveram como consequência a busca da maioria do eleitorado em torno de alternativas à direita no espectro político, processo que já vinha se consolidando no contexto do ciclo petista no governo federal. É interessante notar que em 2002, entre os estados brasileiros, Santa Catarina foi o que deu a maior votação proporcional a Lula.
Outro fator relevante foi o esgotamento do ciclo liderado pelo MDB, que esteve no centro das decisões políticas e institucionais nos últimos 16 anos. Os emedebistas sofreram a maior derrota eleitoral, seu candidato a governador sequer foi ao segundo turno. A crise política também atingiu os partidos de centro-direita no estado, que estiveram alinhados em maior ou menor medida aos governos arquitetados pelo MDB.
O forte desgaste do governo de Raimundo Colombo (PSD) que implementou uma série de medidas que precarizaram os serviços públicos e pioraram as condições de vida da população catarinense, já muito afetadas pelas consequências da recessão econômica, também contribuíram para que a alternativa bolsonarista ganhasse fôlego.
Outro elemento foi a crise que afeta o Partido dos Trabalhadores. O PT, enquanto principal organização de centro-esquerda no contexto catarinense, ficou isolado no cenário político estadual. O lulismo, e o esgotamento da sua estratégia democrático popular, não foi visto como possibilidade de mudança no cenário político regional.
No campo da esquerda também podemos elencar a incapacidade da esquerda socialista, que representada em candidaturas do PSOL, PCB e PSTU não conseguiu apresentar uma alternativa viável e radical para os problemas que afligem o povo catarinense.
O bolsonarismo com seu falso discurso antissistema, aglutinando segmentos oriundos da direita tradicional do estado, contando com apoio de segmentos importantes da burguesia e da classe média conseguiu canalizar a insatisfação popular. Amplos setores da classe trabalhadora e dos segmentos mais pobres da população catarinense também aderiram ao projeto de extrema-direita.
O PSL passou de uma força inexpressiva no estado para o principal partido político. É possível afirmar que nem os bolsonaristas mais convictos, alguns meses antes das eleições, imaginassem que o resultado eleitoral os levaria ao governo do estado.
O partido formou uma chapa no improviso. Comandante Moiśes foi definido como candidato a governador no penúltimo dia previsto para convenções eleitorais, depois do PSL não ter conseguido emplacar o seu candidato ao Senado em nenhuma coligação com os partidos tradicionais. O programa de governo é um documento mal elaborado, com apenas cinco páginas, e sem nenhuma proposta concreta para nenhum dos problemas que o estado enfrenta.
Moisés foi eleito sem apresentar um projeto político, sem um programa de governo. Apenas tentou reproduzir o discurso do capitão da reserva, que teve efeito eleitoral, mas pouco serve para governar um estado da federação. O PSL não possui quadros suficientes para ocupar os principais postos da máquina pública. O discurso de “gestão técnica” revela uma fragilidade política e uma falta de consistência na formação do futuro governo.
O falso discurso de nova política já começou a desmoronar na composição do secretariado. Ao anunciar a manutenção de dois secretários do governo Pinho Moreira, Moisés sinaliza uma composição com o MDB, no sentido de garantir maioria na ALESC, mantendo práticas tradicionais da política catarinense.
Santa Catarina passa por graves problemas relacionados a divida pública, que já ultrapassa os R$ 19 bilhões; a precarização da educação e da saúde publica; o aumento da violência e da presença de facções criminosas; a desvalorização dos servidores públicos do estado; a falta de saneamento básico; e índices de baixo crescimento econômico e desemprego. A crise financeira do estado deve estourar no ano de 2019.
Para nenhum destes problemas Comandante Moisés e o PSL apresentaram soluções concretas.
O eleitor catarinense descobrirá, antes do que se imagina, que através de bravatas pode se ganhar uma eleição, mas não pode se governar um estado.