Aonde vai o Brasil?
A situação eleitoral e o Partido Comunista Brasileiro
Por Gabriel Landi Fazzio, militante do PCB de São Paulo
1. O programa da burguesia para o Brasil
O Brasil passa pelo seu processo eleitoral mais dramático desde a redemocratização, em 1988. A política bipartidária que se consolidou entre PT e PSDB está em crise. As classes dominantes buscam com todas suas forças impôr derrotas profundas à classe trabalhadora e a todo o povo.
Mesmo se dividindo em diversas candidaturas no primeiro turno, a burguesia tem um programa muito bem definido e unitário. Por um lado, quer aumentar a exploração dos trabalhadores através da retirada de direitos. Por outro lado, através dos “ajustes fiscais”, quer tirar cada vez mais recursos dos impostos populares que se destinam à saúde, à educação e todos serviços públicos; com o objetivo de transferir todo esse dinheiro para os banqueiros que parasitam a dívida pública e para os grandes monopólios empresariais, beneficiados com isenções fiscais e crédito barato. Ao mesmo tempo, pregam a privatização das empresas estatais, na maior parte das vezes em favor de monopólios estrangeiros, como é o caso da Petrobras, da Embraer e muitas outras. Esse é o caminho pelo qual a burguesia quer levar o Brasil: seja de modo mais ou menos autoritário, com mais ou menos repressão, a classe dominante está unida na defesa de um “Estado reduzido” para os pobres, mas que seja um poderoso aliado dos grandes grupos econômicos que massacram o povo.
2. As candidaturas puro-sangue da burguesia
Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoêdo; todas essas candidaturas favoritas da classe dominante defendem a mesma bandeira: que os pobres “paguem o pato” da crise. Isso significa, em poucas palavras, menores salários, maior desemprego e condições de vida cada vez mais precárias. Até Marina Silva, que tenta se diferenciar dessas candidaturas claramente elitistas, mesmo ela não apresenta nenhuma alternativa diferente. Defende a reforma trabalhista, a reforma da previdência, e todas as mesmas reformas econômicas que todos os outros, em desfavor do povo explorado. Também ela é uma candidata dos banqueiros e empresários. No fim das contas, tanto quanto João Amoêdo, Marina Silva se reduziu a uma marionete política do Itaú, mas em versão “genérica”, popular.
Enquanto isso, os setores mais reacionários da classe dominante se alinham em torno da medíocre e grotesca figura de Bolsonaro. Essa candidatura defende exatamente as mesmas medidas que todas as anteriores. Não se diferencia, no terreno econômico, em nada! Mas Bolsonaro expressa a consciência de um setor da classe dominante que sabe que não poderá adotar todas essas medidas antipopulares sem, antes, garantir um Estado duramente repressivo. Esses senhores querem eleger um candidato disposto a todo tipo de atrocidade e barbarismo em nome de impôr de cima para baixo as medidas duras que reservam para a maioria da população. Assim, Bolsonaro incita o ódio generalizado a todos os movimentos e grupos sociais que possam tentar resistir a essas medidas: os movimentos sindicais, populares, anti-racistas, feministas, LGBT… Bolsonaro corrompe as ideias de grandes partes da população com sua retórica “anti-sistema” e a favor da “maioria”. Mas ele é apenas a mais apodrecida expressão desse próprio sistema. A “maioria” que Bolsonaro diz representar só existe em seus delírios: como se a maior parte dos brasileiros fosse a minoria de grandes proprietários masculinos, brancos e ultraconservadores que falam pela boca desse capitão dos empresários!
3. As candidaturas de conciliação de classes
Frente à força deste campo burguês puro-sangue, grandes parcelas da população procuram desesperadamente alternativas. Se deparam, então, com as candidaturas de Fernando Haddad e Ciro Gomes. Com uma retórica mais ou menos progressista, nacionalista e popular, esses dois candidatos representem projetos reconhecidamente de conciliação de classes: por um lado, atacam aquilo que há de mais antipopular na retórica da direita; por outro lado, prometem não pôr em risco os negócios dos grandes empresários, e sinalizam através dos jornais com diversas concessões. Ciro Gomes chega ao ridículo de afirmar que pretende unir “aqueles que produzem com a aqueles que trabalham”: como se a burguesia “produtiva” brasileira (industrial e rural) não estivesse fundida, na prática, com os bancos e os investidores financeiros; como se os patrões produzissem alguma coisa, e “aqueles que produzem” não fossem, sempre, os mesmos “que trabalham”. Enquanto isso, Fernando Haddad busca o apadrinhamento de Marcos Lisboa, um economista burguês que nunca hesitou em elogiar a política econômica Temer.
Haddad e Ciro não são idênticos a todo o resto. Mas, ao mesmo tempo, são candidaturas incapazes de ir além de todo o resto. Com suas promessas e contradições, não apresentam qualquer capacidade real de derrotar o programa da burguesia para o Brasil. Caso eleitos, estarão sempre divididos entre a pressão popular e suas promessas para os empresários. Como estão sempre dispostos a concessões e recuos, serão pressionados pela classe dominante a ceder. Caso não cedam tão rápido quanto queira a burguesia, serão derrubados – e, da parte desses candidatos, nenhuma menção é feita sobre como pretenderiam resistir ao golpismo da burguesia brasileira. Por isso mesmo, vendem suas candidaturas como a solução para os problemas do Brasil – em vez de, com honestidade, alertar e preparar os trabalhadores e toda a população para as duras lutas que virão, ganhe quem ganhar. A política dos grandes grupos empresariais não tem deixado nenhuma margem para a dúvida de que foram fechadas todas as possibilidades de uma política de conciliação de classes no Brasil. Ainda assim, esses senhores prometem ao povo que sua eleição colocaria fim à crise econômica e política…
4. Construir uma alternativa da classe trabalhadora para o Brasil!
As eleições colocam, portanto, perspectivas terríveis para o próximo período: na pior das hipóteses, uma resistência em condições desfavoráveis e sob uma intensa repressão; na melhor das hipóteses, um período de intensas lutas e reviravoltas, em que as ilusões das massas frentes aos políticos “progressistas” serão postas à prova, e sob o signo de um possível desfecho catastrófico. Por isso, buscando contribuir com a luta revolucionária da classe trabalhadora contra sua opressão, o Partido Comunista Brasileiro denuncia todos os perigos que se apresentam no horizonte, sem em nenhum momento se deixar arrastar pelo desespero ou pela indiferença. Alerta em alto e bom som sobre as duras lutas de classes que virão, após as eleições, e sobre a necessidade de preparação e organização por parte dos movimentos de massas.
Desenvolvendo sua intervenção política sempre nesse sentido, o PCB defende a candidatura de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, pelo PSOL (50), por uma série de motivos. Em primeiro lugar, porque a candidatura representa a aliança de luta dos setores mais combativos da classe trabalhadora e do povo oprimido. Em segundo lugar, porque é uma candidatura erguida sobre um programa anti-sistêmico, popular e radical de combate às classes dominantes e à sua política reacionária.
Finalmente, defendemos esta candidatura justamente porque, em torno dela, se mobiliza não só a defesa de um candidato, mas principalmente a preparação de todo um campo de luta para o próximo período. Apenas erguendo desde já um programa que vá além dos interesses da classe dominantes; apenas apresentando uma alternativa efetiva para a ampla maioria explorada da população; apenas assim será possível organizar, desde já, as fileiras do movimento popular em luta contra os ataques que virão. Para onde quer que a classe dominante busque conduzir o Brasil, após estas eleições, nós seguiremos organizados para não permitir que um passo sequer seja dado sem resistência. Seguiremos unidos sob a bandeira da luta contra os grandes monopólios capitalistas e seus políticos de aluguel. Vamos sem medo, comprometidos com a luta para mudar o Brasil: para enfrentar todos os retrocessos e conquistar, por nossas próprias mãos, a construção de um futuro socialista para o Brasil!