A história reafirma a necessidade de um Partido Comunista

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Secretaria de Relações Internacionais do PCB

Jaime Caycedo Turriago, secretário geral do Partido Comunista da Colômbia, organização que completou 89 anos de existência, fala, em entrevista ao semanário Voz, publicada em 17 de julho, da vigência do projeto revolucionário, do sucesso da solução política para o conflito armado como uma tese para construir uma paz democrática, das dificuldades na implementação do acordo em Havana e da necessidade de unidade no cenário eleitoral imediato.

Voz: Passaram-se 30 anos dos eventos do “Muro de Berlim”, com a subsequente queda do chamado “socialismo real” e a virada de muitos projetos comunistas para a socialdemocracia. No entanto, o PCC ainda segue existindo. Por que o Partido, que experimentou a tragédia da guerra suja e de consideráveis divisões internas, hoje mantém sua coesão ideológica e um roteiro ajustado ao momento político?

Caycedo: É real que o Partido Comunista Colombiano foi forjado na matriz do movimento comunista internacional. Após a derrota do nazifascismo, os triunfos da Revolução Chinesa e, em seguida, as revoluções cubana e vietnamita mostraram uma sequência de exemplos, esperanças e expectativas, o que ofuscou o sentido crítico sobre as experiências anticapitalistas de variantes iniciais do socialismo.

A contrarrevolução mundial posterior não conseguiu consolidar um “fim da história”, mas mudou as referências relativas ao período inicial. O capitalismo se tornou global, mas suas contradições se aprofundaram, a desigualdade social tem aumentado, suas contradições atingem dimensões que põem em crise toda a civilização.

Tivemos que aprender a lutar também sob o fogo da “guerra fria” anticomunista e elaborar uma estratégia adequada à realidade geopolítica complexa que nos foi imposta pelo imperialismo após o 9 de abril de 1948. Esse ponto de viragem na história tornou necessário multiplicar as formas de resistência de massa e aproveitar os poucos resquícios democráticos.

A tão vilipendiada pela extrema direita “combinação de formas de luta” foi um efeito, não uma causa, foi uma resposta legítima da área popular, foi o resultado de múltiplas resistências e expressão de rebeldia contra o terrorismo de Estado, a violência dos poderosos, as tentativas de exclusão da vida política, criminalização, linchamentos e perseguição contra aqueles que faziam protesto em defesa dos direitos sociais e da liberdade política.

O mérito dos comunistas é ter mantido uma atitude consistente no meio dessas vicissitudes e persistentemente defender a necessidade de uma solução política para uma paz democrática.

Paz democrática

Voz: Hoje, o país vive episódios de tensão frente ao momento em que se desenhou o Acordo de Paz, a continuação da violência nos territórios e o retorno ao poder de forças reacionárias. Qual é a leitura que o Partido está fazendo em face da esperança deste processo de paz incompleto mas vigente?

Caycedo: A ideia de uma solução política foi formulada pela primeira vez no 13° Congresso do PCC, em novembro de 1980. A ideia era que, abrindo os espaços democráticos, seria possível avançar em soluções possíveis para superar as principais causas da guerra.

A transição desencadeada pelo Acordo Final, assinada pelas FARC-EP e o Governo do Santos em 2016, contém o componente da cessação da guerra mais o componente de garantias e de reformas estendidos para corrigir as causas sociais e políticas subjacentes ao fundo do conflito armado.

Uma fração da classe dominante quer agora renovar a contrainsurgência como linha de Estado, continuando o extermínio de ativistas e da oposição social e política. Isto é, deseja reativar uma guerra com um lado armado e outro desarmado. O caso para o momento atual é que o caminho da solução política é um processo de luta de massas, prolongada e crescente, exigindo acumular forças para se consolidar, forçando o sistema a cumprir plenamente o acordo que hoje faz parte da institucionalidade da transição.

Duke, como principal responsável, e o Centro Democrático, como partido do governo, buscam demolir as instituições da transição. Mas eles não conseguirão. O ponto decisivo agora é a batalha pela democracia, que, na Colômbia, precisa ser reinventada.

O papel do Sistema Integrado de Verdade, Justiça, Reparação e Não Repetição e do Tribunal Especial para a Paz e Unidade de busca de pessoas desaparecidas é estabelecer as bases para evoluir para um sistema diferente. O papel dos PDET – Programas de Desenvolvimento com Enfoque Territorial –, do PNIS – Programa Nacional Integral de Substituição de Cultivos de Uso Ilícito –, dos projetos produtivos, das 16 circunscrições Territoriais é aproximar o processo das pessoas.

A mobilização popular de 26 de Julho deve exigir que o governo cumpra o que foi acordado, sem mais desculpas, e que se avance no acordo político para tirar as armas do exercício da política, o que significa desfazer a junção das estruturas das forças de segurança com os grupos paramilitares.

A unidade

Voz: Hoje o Partido tem uma presença significativa na União Patriótica e mantém a ideia de convergência como uma tática para a mudança política, sendo este ano eleitoral fundamental para este fim. Qual tem sido a estratégia do PCC para construir esses espaços estratégicos de unidade?

Caycedo: A estratégia tem sido a de uma Frente Ampla para a paz democrática, e hoje o Partido mantém sua coesão ideológica e um roteiro ajustado ao momento político. Para este fim, uma tática de convergência bem sucedida ocorreu em diferentes campos: paz, ação parlamentar, mobilizações de base, combinadas com flexibilidade na busca por acordos eleitorais.

Um exemplo é o acordo Colômbia Humana – UP, cujo objetivo é facilitar novas convergências, compromissos e alianças. A nossa proposta é atingir a maior extensão compatível com o acordo sobre o programa comum, ligação zero com a corrupção e ligação zero com o paramilitarismo.

Nós nos opomos a qualquer forma de exclusão para a esquerda e todos os vetos para os comunistas e para as Farc. A unidade tem que ser inclusiva e manter a coerência quando afirma defender a paz. Tudo o que foi dito acima significa que existem condições para avançar e ganhar espaços em municípios, departamentos e capitais, na perspectiva de lutar por um governo democrático em 2022.

Mensagem para a militância

Voz: São 89 anos de um Partido com história, que quer mudar a história. Qual é a mensagem para a militância e para o povo colombiano como um todo neste momento de crise na política nacional?

Caycedo: A história reafirma a necessidade de um Partido Comunista, com iniciativa e presença no povo, com uma visão revolucionária de seu papel, com uma clara concepção do seu projeto de luta pelo socialismo, as alianças necessárias e a unidade. Não perdemos de vista a necessidade da unidade estratégica dos comunistas e das forças que militam na esquerda avançada.

O 22º Congresso ressaltou sua importância, sem acelerar, mas sem subestimar os passos, os compromissos e a construção de elementos comuns na unidade de ação política e programática. A tarefa de construir um bloco revolucionário popular é um objetivo que não se contradiz com a convergência mais ampla; sua finalidade é fortalecê-la.

Na batalha das ideias este aniversário do Partido tem sido associado com o bicentenário da campanha de libertação revolucionária, o significado internacionalista da paz na Colômbia para a América Latina e a exigência de que o Estado colombiano esteja em conformidade com o Acordo de Paz e responda pelo direito de vida digna de todos.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro

Jaime Caycedo Turriago, secretário geral do Partido Comunista Colombiano. Foto Prensa Rural.

“La historia reafirma la necesidad de un Partido Comunista”