Por quê Solidariedade com o povo colombiano?

Novamente se escuta falar sobre a Colômbia, a imprensa brasileira de forma mais seguida registra noticias desse país, transparecendo que a situação política e social está cada vez melhor. Já não falam do Plano Colômbia, com a saída de Álvaro Uribe Vélez da presidência da república.

É preciso dar passos à construção de participação democrática mais ampla. O novo governo, de Juan Manuel Santos, parece mais tolerante aos diferentes setores políticos do país e na superação dos problemas colombianos. Dizem preconceituosamente que a violência na Colômbia é causada pelas “mãos negras” e sua relação com o narcotráfico[1]. As situações de violência que existem são anunciadas como se fossem realizadas pelas guerrilhas, que supostamente são terroristas, tendo uma relação direta com o tráfico de drogas, e por uma “extrema direita”, que é alheia ao governo. Aparentemente o governo está se esforçando por mudar esta situação e criar os mecanismos necessários dentro da democracia para sua superação.

Mas em verdade é isso o que está acontecendo? Tem melhorado a situação da Colômbia? As situações de violência que vive a Colômbia são causadas pelo narcotráfico e as guerrilhas são supostamente relacionadas com este? Então por que falar das necessidades de solidariedade entre os povos? Por que haveria necessidade de um espaço social e político no Brasil que dê visibilidade à realidade colombiana e possa gerar solidariedade do povo brasileiro aos movimentos da sociedade civil e organizações políticas democráticas colombianas?

O governo colombiano segue violando de forma sistemática e permanente os direitos humanos. Após o extermínio do partido político de esquerda, União Patriótica – UP, com mais de 5 mil mortes [2], atualmente, outro partido de esquerda, Polo Democrático Alternativo, tem sido ameaçado [3] e algumas de suas lideranças assassinadas [4].

No mundo, 60% dos sindicalistas assassinados são da Colômbia. Foram assassinados mais de 2.778 e foram cometidos mais de 11 mil atos de violência [5]. Aumentou a repressão ao movimento estudantil, principalmente nas universidades [6]. Nos últimos 11 anos foram desaparecidas mais de 34.467 pessoas e foram assassinadas mais de 173.183, segundo os dados tomados pela Fiscalia (Promotoria) Nacional de junho de 2005 até 31 de dezembro de 2010[7].

A violação sexual tem aumentado dramaticamente. Pesquisa da CIDH registra-se que do ano de 2000 até 2010, a cada hora 9 mulheres sofreram agressão sexual. A maioria delas (84%) eram menores de 18 anos. Mais de 50% da população colombiana são mulheres (22,5 milhões); desta, 54% vive na pobreza ou na indigência. Nos últimos 10 anos as mulheres sofreram mais de 600 mil atos de violência, 4 mil assassinatos e 40 mil violações sexuais segundo dados do próprio governo [8]. Mais de 81% das violações são cometidas pelo exército e seus mercenários paramilitares com mecanismos de terror, ficando estes casos na impunidade.

O número de pessoas camponesas com status de refugiadas internas pela violência passa dos 5 milhões sendo o país com mais refugiados internos no mundo, dos quais um 11% são afro-descendentes e indígenas, e do total pelo menos 48% são lares com chefia feminina [9], como também mais de 56% das pessoas refugiadas são mulheres e crianças, somando mais de 70% [10]. A distribuição da terra mostra, segundo dados do mesmo governo, que 78,3% dos proprietários de terra têm menos de 6% da área, enquanto 0,15% deles são donos de mais 55% das terras[11]. Mas o governo colombiano de Juan Manuel Santos e a direita colombiana falam de pós-conflito como se toda a situação de violações estivesse superada [12]. Não reconhecem o caráter político das guerrilhas para não precisar negociar a paz. Como superação do conflito só oferece cadeia ou morte [13].

A Colômbia vive um conflito há mais de 50 anos que além de confronto armado é um fenômeno social com implicações políticas, econômicas e sociais para o povo colombiano em especial os campesinos, indígenas, afrodescendentes e mulheres. Conflito que foi gerado pela iniqüidade social, impunidade e falta de garantias para a participação democrática. A esquerda colombiana entende que superando as injustiças históricas, poderá haver paz no país e se construir uma verdadeira democracia. O governo colombiano tenta isolar os setores de esquerda, movimentos sociais e de direitos humanos e mostrá-los como expressões sem posturas políticas claras, alinhadas às organizações guerrilheiras.

Notas:

[1] La extrema derecha quiere dar la sensación de que el país es un caos: Santos. In: <http://www.elespectador.com/noticias/judicial/articulo-277391-extrema-derecha-quiere-dar-sensacion-de-pais-un-caos-santos >, Acessado 16. Jan. 2012

[2] CEPEDA, Iván. Genocidio Político: el caso de la Unión Patriótica en Colombia. In: <http://www.desaparecidos.org/colombia/fmcepeda/genocidio-up/exterminio.html>, Acessado: 13 Jan. 2012.

[3] Polo Democrático Alternativo denuncia nuevas amenazas de muerte. In:<http://www.elespectador.com/noticias/politica/articulo-270496-polo-democratico-alternativo-denuncia-nuevas-amenazas-de-muerte >, Acessado Jan. 15. 2012.

[4] Van 28 candidatos asesinados para las elecciones. In: <http://www.elespectador.com/noticias/politica/articulo-292152-van-27-candidatos-asesinados-elecciones >, Acessado 15. Jan. 2012

[5] En Colombia son asesinados el 60% de los sindicalistas asesinados en el mundo, por una violencia sistemática del Estado colombiano. In: < http://www.rebelion.org/noticia.php?id=120921>, Acessado 16. Jan. 2012.

[6] Movimiento estudiantil colombiano denuncia que joven muerto en protestas fue asesinado. In: < http://www.aporrea.org/educacion/n190687.html  >, Acessado 17. Jan. 2012.

[7] No informe da Fiscalia General de la Republica de janeiro de 2011. In: < http://www.fiscalia.gov.co/justiciapaz/Index.htm >, Acessado: 16 Jan. 2012. Cifras do Instituto de Medicina Legal da Colômbia são maiores—38.255 desaparecidos. In: <http://www.dailymotion.com/video/xd9scp_mas-de-38-mil-personas-desaparecida_news  >, Acessado 16 Jan. 2012.

[8] Mujeres colombianas, avasalladas por la guerra. In: < http://www.rebelion.org/noticia.php?id=142509&titular=mujeres-colombianas-avasalladas-por-la-guerra->, Acessado 18. Jan. 2012.

[9] SALINAS,  Yamile A. Dinámicas en el mercado de la tierra en Colombia. Bogotá, Colômbia: Documento elaborado -Oficina Regional de la FAO para América Latina y el Caribe Home. 2011, p. 8.

[10] Consultoria para los Derechos Humanos y El Desplazamiento. Consolidar que?. Bogotá: CODHES, Nú. 77, 2011.

[11] Como o mostra em seu livro Yamile Salinas ao tomar os dados do Instituto Agustín Codazzí. SALINAS, 2011, p. 16.

[12] Justicia Transicional en Colombia. In: <  >, Acessado 18. Jan. 2012.

[13] “La cárcel o la tumba a los guerrilleros que no se desmovilicen”: Presidente Santos. In: < http://www.elpais.com.co/elpais/judicial/noticias/carcel-o-tumba-guerrilleros-desmovilicen-presidente-santos >, Acessado: 18. Jan. 2012.

O que é Agenda Colômbia-Brasil?

A Agenda Colombia-Brasil é um espaço social e político que busca dar visibilidade à realidade colombiana e gerar solidariedade política do povo brasileiro aos movimentos sociais, populares e organizações políticas democráticas colombianas.

Como organização, não é partidária; é autônoma, horizontal, prima pela equidade de gênero, pela direção coletiva e a formação permanente.

Acredita e trabalha na construção da solidariedade entre os povos, principalmente dos povos da América Latina. Luta contra o imperialismo, a militarização e a violação aos direitos humanos e a favor da livre determinação dos povos, pela paz no mundo, justiça social e pela superação da impunidade, pelo resgate e preservação da memória. Luta pela superação do povo colombiano de sua grave situação econômica, social e política que o conflito armado no país.

Seu objetivo é criar solidariedade entre as organizações sociais e políticas do povo brasileiro ao povo colombiano, para que apoiem as lutas das colombianas e dos colombianos. Trabalhar para que exista reconhecimento de seus direitos humanos, superação da impunidade e solução política ao conflito armado, com uma paz real e duradoura, na construção de justiça social. Uma Colômbia onde caibam tod@s!!

A Agenda Colômbia Brasil busca desenvolver cinco eixos:

* Visualização da Situação Colombiana: Informar e dar visibilidade a situação social, política e econômica colombiana.

* Memória histórica: Recuperar e preservar a memória histórica das lutas sociais e políticas do povo colombiano.

* Direitos Humanos: Denunciar as violações de direitos humanos e criar redes solidárias, com a comunidade internacional.

* Paz duradoura: Gerar ações que contribuam para uma saída política ao conflito armado.

* Intercâmbio de experiências e convênios: Realizar intercâmbios com organizações e entidades colombianas.