As FARC-EP lutam pela Paz, o governo simula negociar
O presidente Juan Manuel Santos, um oligarca neofascista, sentiu a necessidade de abrir o diálogo de paz com as FARC, opção que ao tomar posse qualificava de impensável. Mudou de atitude na convicção de que não há solução militar para o conflito e também alarmado com o êxito alcançado pela Marcha Patriótica e com a adesão de milhões de colombianos à campanha promovida pelo movimento «Colombianos por la Paz».
Trata de ganhar tempo. Juan Manuel Santos sabe que Washington se opõe a uma paz negociada com as FARC e são fortíssimas as pressões da oligarquia e das transnacionais para impedir que a mesa de diálogo de Havana atinja os objectivos do Acordo assinado. Sabotar a Agenda é agora a tarefa de Humberto Calle e do general Mora.
Do outro lado estão as heroicas FARC-EP, assumindo na mesa de diálogo o mesmo papel que na luta armada sempre definiram como seu: defender o povo e a democracia, defender uma Colômbia de progresso e de paz.
No próximo dia 15 principiam em Havana as negociações sobre o «Acordo geral para o fim do conflito e a construção de uma paz duradoura e estável» entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colombia – Exército do Povo e o governo da Colômbia.
As conversações prévias em Oslo para fixação definitiva da Agenda foram difíceis.
A delegação do governo, chefiada pelo ex vice-presidente da República Humberto de la Calle, tentou eliminar do debate questões fundamentais. Outro elemento, o general Jorge Mora, ex – comandante-chefe do Exército, pretendeu retirar da Agenda as questões militares.
Os 140 jornalistas colombianos que cobrem o acontecimento apresentaram – com poucas excepções – relatos distorcidos da Mesa de Diálogo. As cadeias televisivas Rádio Caracol e RCN ignoraram inclusive a intervenção do comandante Ivan Marquez.
No acto público de Oslo o chefe da delegação das FARC-EP pronunciou um importante discurso cujas principais passagens foram divulgadas pelos media noruegueses. Recordou que as FARC lutam por uma paz definitiva, inseparável de «uma profunda desmilitarização do Estado e por reformas radicais» e esclareceu que 70% da população colombiana vegeta na pobreza (mais de 30 milhões). Num país riquíssimo, o latifúndio improdutivo é responsável pela importação anual de mais de 10 milhões de toneladas de alimentos. A restituição das terras roubadas aos camponeses é portanto uma exigência prioritária da organização revolucionária.
Lembrou também que o orçamento militar da Colombia é proporcionalmente dos mais altos do mundo. As suas Forças Armadas – mais de 400 000 homens – recebem dos EUA 700 milhões de dólares por ano e armas que Washington somente fornece a Israel.
Outro tema crucial da agenda é o controlo que as transnacionais mantêm sobre a riqueza mineira do país. «A locomotiva mineira – são palavras de Ivan Marques – é como um demónio de destruição socio-ambiental que se não for detido pelo povo, em menos de uma década transformará a Colombia num país inviável».
UMA AGENDA AMBICIOSA
A agenda aprovada é um ambicioso documento com seis pontos:
1. Processo de desenvolvimento acelerado e uso da terra;
2. Participação política;
3. Fim do conflito armado;
4. Solução para o problema das drogas;
5.Vítimas;
6. Agenda para a implementação e referendo.
A maioria dos pontos desdobra-se em itens sobre diferentes temas a debater (ver o texto integral emhttp://www.odiario.info/?p=2601). Numa clara demonstração de apoio às negociações de Havana, foi divulgado em Bogotá um documento que expressa o profundo desejo de paz do povo colombiano. É assinado por milhares de artistas, intelectuais, professores, sindicalistas, líderes comunitários, etc.
A delegação das FARC além do comandante Ivan Marquez é constituída pelos comandantes Rodrigo Granda, Jesus Santrich, Marcos Calarcá e Andrés Paris e a guerrilheira holandesa Tanja Nijmeijer. A fim de desmontar as manobras do governo, não esperou pelo início das negociações para divulgar comunicados criticando declarações da delegação oficial que prejudicam a atmosfera do Processo de Paz. O general Jorge Mora, nomeadamente, tem insistido por uma desmobilização imediata das FARC. La Calle quer reduzir ao mínimo o debate sobre temas económicos.
O presidente Juan Manuel Santos, um oligarca neofascista, com um passado ligado ao paramilitarismo e ao narcotráfico, sentiu a necessidade de abrir o diálogo de paz com as FARC, opção que ao tomar posse qualificava de impensável. Mudou de atitude na convicção de que não há solução militar para o conflito e também alarmado com o êxito alcançado pela Marcha Patriótica e com a adesão de milhões de colombianos à campanha promovida pelo movimento «Colombianos por la Paz».
Trata de ganhar tempo. Juan Manuel Santos sabe que Washington se opõe a uma paz negociada com as FARC e são fortíssimas as pressões da oligarquia e das transnacionais para impedir que a mesa de diálogo de Havana atinja os objectivos do Acordo assinado.
Sabotar a Agenda, ponto por ponto, é agora a tarefa de Humberto Calle e do general Mora.
Outra, antagónica, é a atitude das FARC.
A vida proporcionou-me a oportunidade de conhecer alguns dos membros da delegação e uma amizade profunda liga-me ao comandante Rodrigo Granda. São veteranos comunistas e revolucionários empenhados em conquistar a Paz e lutar por uma Colombia democrática e independente.
O comandante Ivan Marquez enuncia numa evidência ao afirmar: «Mal-aventurados os que no governo ocultam por trás da bondade das palavras a impiedade para com os homens do povo, porque serão apontados com o dedo da vergonha nas páginas da História».
Vila Nova de Gaia, 2 de Novembro de 2012