Democracia agredida, com rumo incerto
FRENTE GUASU
Assunção, 14 de agosto de 2013
Uma grande esperança surgiu em 15 de agosto de 2008. Havia terminado os 61 anos de governo do único partido que apoiou ditadura mais longa e vergonhosa. O governo de Fernando Lugo foi, de longe, o melhor dos governos, como o povo reconhece. Com crescimento econômico, redução de pobreza, superávit fiscal, menor índice de desemprego e maior acumulação de reservas internacionais. Foi o governo que instaurou a dignidade do ser humano, ao levar a um nível significativo as transferências a famílias pobres (tekoporä), a terceira idade e a gratuidade na saúde pública, que, dessa forma, chegou aos mais necessitados. Foi o governo que conseguiu avançar notoriamente no que se refere à soberania de nossa principal riqueza natural, a energia de Itaipú, cuja compensação foi triplicada.
A este governo – o mais popular, institucionalizado e comprometido com a democracia – promoveram um Golpe de Estado com a intenção de frear o processo de inclusão e crescente participação protagonista, buscando romper a integração latino-americana. Começou a conspiração com o massacre de Curuguaty, em terras públicas usurpadas por latifundiários. Ainda são perseguidos aqueles – os camponeses – que exigiram o cumprimento da Lei. Concorremos às eleições de 21 de abril de 2013 – em que pese termos sofrido o Golpe de Estado, terem tombado 3.000 compatriotas e a notória parcialidade do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral e da imprensa – com a finalidade de contribuir com a melhoria das condições que levem à existência de eleições realmente livres em algum momento.
De tais eleições, fortemente condicionadas, surge Horacio Cartes. Sua presidência traz incerteza à maioria do povo paraguaio. Seus interesses econômicos estão relacionados com a agroexportação extrativa e a triangulação. Com poderosas transnacionais. Antes de assumir já haviam ocorrido avanços e retrocessos acerca de temas cruciais como o imposto à exportação de grãos, a gratuidade da saúde pública, o Mercosul, a privatização do setor elétrico, ao metrô e ao sindicalismo. A Frente Guasu tem muito claro que aqueles que têm devem pagar mais impostos, como se concretizou com o imposto sobre a exportação de grãos, já em trânsito no Senado. Cartes opina que deve ser uma mera “lei garrote”, que apenas sirva para aprovar uma legislação muito mais condescendente com os que têm mais. São lamentáveis suas expressões contra o movimento sindical. O direito à organização da classe trabalhadora é uma garantia constitucional, um direito humano. O que chama atenção é o fato de que o projeto de privatização do setor elétrico tenha sido aprovado pelos Deputados 60 dias após sua eleição e hoje permaneça em suspenso. A recente aprovação do metrô, porém a gás e não elétrico, é outra mostra do desprezo para com os mais pobres, já que são eles os usuários do transporte público. Em relação ao Mercosul, Cartes, depois de afirmar que propiciaria a aceitação do ingresso da Venezuela, se transformou no grande líder na busca de sua imediata saída. A Frente Guasu é uma clara partidária da integração dos povos da região, pois dessa forma é como melhor podemos defender a soberania nacional, tal como demonstram os avanços em Itaipú.
Como será o governo de Cartes? Os prognósticos não são nada bons. A maneira em que o pacto azul-grana aprofundou a parcialidade do TSJE, reduzindo-o ao controle total colorado-liberal, é outra mostra antidemocrática do “novo rumo”. A nomeação dos ministérios reflete a restauração conservadora a serviço dos interesses minoritários. Tudo indica que, na definição de seu “novo rumo”, o governo colorado liderado por Horacio Cartes favorecerá os interesses dos proprietários de terras, produtores de soja e pecuaristas, especuladores e contrabandistas multimilionários. Se este governo persistir nesta linha, sem dúvida, encontrará a Frente Guasu que continuará defendendo os recursos naturais estratégicos de nosso país, os interesses populares e a integração regional e latino-americana.
Com o povo, sempre!!!
FRENTE GUASU
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)