Nota pública do Favela Não Se Cala de repúdio ao Estado no caso do Amarildo e de solidariedade à família

O movimento Favela não se cala lamenta a morte do Amarildo, pedreiro e morador da Rocinha, assassinado por policiais das chamadas Unidades de Polícia Pacificadora- UPPs, que mais que um projeto de segurança e extinção do tráfico continua a conivência com e representa a militarização pelo Estado das favelas para integrá-las aos negócios do capital.

Amarildo se tornou um símbolo de todos os casos de extermínio dos Amarildos do Brasil nesse estado de exceção permanente, isto é, de suspensão de qualquer direito, prática comum nas favelas, fruto da barbárie da sociedade capitalista que para se manter precisa exterminar trabalhadores, principalmente negros e favelados.

Manifestamos nosso repúdio frente ao claro desvio das investigações que o Estado está realizando diante dos acontecimentos, criminalizando tanto o Amarildo como sua esposa Beth de serem colaboradores do tráfico. Além do desvio e da criminalização, isso também tem a clara intenção de amedrontar a família da vítima que teve a coragem de denunciar a violência desse estado genocida e lutar por justiça. Ainda mais nesse momento o Favela não se cala está ao lado da família e de todos os que lutam contra a violência desse estado racista e genocida.

Os moradores das favelas militarizadas pelas UPPs, que antes estavam submetidas aos mandos e desmandos de traficantes estão hoje reféns do braço armado do estado. O assassinato de Amarildo demonstra que tal fato não é resultante da ação individual de um policial despreparado, mas de uma polícia que desde o seu nascimento surgiu para prender e matar escravos e que ainda hoje continua exercendo esse mesmo papel com os escravos modernos, os trabalhadores negros e favelados. Por essa razão exigimos a punição dos policiais envolvidos nesse assassinato, autores materiais, assim como dos principais responsáveis, o governador Sérgio Cabral e o secretário de segurança Mariano Beltrame.

O caso de Amarildo demonstra a necessidade de seguirmos na luta contra a repressão policial. Para isso exigimos o fim da polícia militar, a desmilitarização das demais policias e o fim das UPPs. No entanto, apesar da urgência e necessidade dessas medidas sabemos dos seus limites já que na sociedade capitalista a principal função da polícia é a proteção da propriedade privada dos meios de produção da burguesia, elemento fundamental para a manutenção da ordem.

Nesse sentido, o Favela não se cala acredita que somente com a luta orgânica e a construção de poder popular é possível garantir a justiça para as mortes de hoje, as de ontem e evitar as mortes de amanha, assim como possibilitar a construção de comitês populares de autodefesa que, além de nos tirar da tutela do Estado e do tráfico, sejam os germes de uma nova sociedade, uma sociedade socialista.

Favela não se cala

Trabalhando nas bases

JUNTOS SOMOS FORTES