ANDUFOP repudia inquérito policial contra Prof. André Mayer
Nota de repúdio da ADUFOP ao inquérito policial aberto contra o prof. André Mayer, coordenador da Liga dos Comunistas – Núcleo de Estudos Marxistas/UFOP
O professor José Paulo Netto relata que o método desenvolvido, proposto e utilizado por Marx como orientação ou caminho para estudar, refletir e compreender nossa realidade socioeconômica e cultural é tão infalível que ainda não vimos ninguém ser perseguido, intimado, preso, torturado, morto, por se embasar em Comte, Durkheim, Husserl, Weber…
Isso tem uma razão óbvia: na sociedade atual as explicações que detalham e elucidam o sistema e a ordem dominante não são bem-vindas a alguns grupos, afinal, relacionar pobreza, desigualdade, desemprego, precarização da vida, violência e ataque programado a serviços públicos essenciais (como educação, atendimento médico-hospitalar, previdência, entre outros) com o sistema da dívida pública, a tributação regressiva, a sonegação consentida, a evasão de divisas por empresas e bancos amparados por lei, enfim, aos processos de acumulação de alguns a partir da subtração de muitos é praticamente atentar contra o “Estado democrático de direito”. Não podemos esquecer que isso de fato ocorre, até porque este mesmo Estado tem sido habitado, cada vez mais, pelos carimbadores estrategicamente posicionados por grupos econômico-financeiros, como J&F, Vale, Odebrecht, OAS, Itaú, etc. E, se eles permitem o trato sempre superficial de tais temas, a correlação envolvendo suas operações cotidianas e para além da corrupção no varejo é inaceitável.
Se conexões são feitas, é preciso recorrer ao autoritarismo – e sabemos que um dos seus expedientes é o impedimento de formas diferentes de expressão. A consequência disso é a anulação do debate, o que, por extensão, compromete de morte um pressuposto fundamental na produção do conhecimento: quem pensa diferente de mim pode estar certo ou ter razão. O pensamento que eu tenho, que você tem – e que a princípio pode parecer o certo – somente mantém essa propriedade se houver fundamentos para tal, mas toda e qualquer possibilidade argumentativa pouco ou nada valem sem os espaços abertos e propícios aos diferentes e divergentes posicionamentos. Fato é que o sistema do capital não quer tais espaços, seja no capitalismo, seja no socialismo real.
À ideologia que domina não interessa ouvir ou debater; a ela interessa apenas as opiniões formadas em um minuto ou nos limites de uma racionalidade que preserve o poder de uma classe sobre outra. Para isso, no Brasil, mantém-se rigorosamente um oligopólio midiático que age a todo instante para dissociar, distrair e convencer com respostas fáceis, sendo que a alegria da classe dominante é tanto mais intensa quanto mais os sujeitos que ela subordina defendem interesses que não são os de sua própria classe.
No entanto, se esses mecanismos bastariam em tempos e espaços menos conflituosos, nos períodos de exacerbação do enfrentamento de classes, próprio à crise do capital, intensifica-se o Estado policialesco, mesmo que por precaução.
São as suas instituições que, enquanto resguardam espaços de unanimidade ideológica em prol do mercado e da acumulação a qualquer custo (seja com o louvor a Hayec e Mises com vistas a manutenção do status quo; seja com a promoção de estudos de como produzir mais e melhor a partir de ferramentas de gestão que têm provocado o adoecimento de trabalhadores e trabalhadoras), atacam um grupo de pesquisa sobre marxismo no âmbito de uma universidade pública, o qual atua marcadamente para além de um ou outro vínculo partidário. Se observarmos sua proposta central, verificaremos que tem como foco tanto o estudo acerca do pensamento marxiano diante da atualidade de suas problematizações, como o trato de assuntos que fornecem aos sujeitos elementos para entender e agir na prática cotidiana do trabalho na mineração.
Não se posicionar contra o autoritarismo estabelecido e, mais especificamente, em contraposição ao inquérito policial envolvendo o professor e pesquisador André Mayer, é ser conivente com o policiamento do pensamento nas universidades e na sociedade; é anular o debate de forma violenta; é, no limite, promover os achismos e a impossibilidade de reflexão acerca do mundo do trabalho e das informações que nos bombardeiam, fato que tanto interessa aos detentores do poder econômico e político deste país. Por isso, a Diretoria da ADUFOP, em defesa sobretudo de uma universidade aberta à pluralidade das ideias e de grupos focados e compromissados em explicar a singularidade da verdade, repudia veementemente ações dessa natureza.
Diretoria da ADUFOP