Sobre as escutas ilegais

Comandante Iván Márquez

Havana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 8 de fevereiro de 2014

Sobre as escutas ilegais

Não podemos compartilhar da opinião de que as fachadas de inteligência sejam totalmente lícitas, que suas operações sejam ajustadas à lei (de inteligência) e que não tenham nada de irregular.

Definitivamente, ficamos com as primeiras afirmações do Presidente quando, ao referir-se às interceptações telefônicas ou escutas ilegais, responsabilizou diretamente as “forças obscuras que estão tentando sabotar processos, como o processo de paz”. E não apenas isso. Também, consequentemente, encontramos seu anúncio de ordem para uma “investigação a fundo” e a determinação de relevar, como fizeram de seus cargos o chefe de inteligência do Exército, general Mauricio Ricardo Zúñiga, e o diretor da Central de Inteligência Técnica do Exército (CITEC), general Oscar Zuluaga.

Além disso, consideramos muito honestas as palavras do comandante do Exército, senhor general Juan Pablo Rodríguez, ao admitir que a operação de espionagem “Andrómeda” estava destinada a interceptar ilegalmente os negociadores da paz.

Neste contexto, ninguém entende o salto do governo que, da noite para o dia, muda sua avaliação, como acompanhando o vento, frente a tão graves fatos. Não faltava mais nada! A paz não é “subversiva” nem “terrorista” para ser submetida à espionagem e à perseguição com justificativas do próprio governo.

Se o diretor da revista Semana, Alejandro Santos, de Bogotá, assegura e reitera com força que “nessa fachada de legalidade se faziam trabalhos ilegais” e que “temos todas as provas, as fontes, o acervo comprobatório e testemunhos do que ocorreu”, a investigação da Procuradoria deve prosseguir até o final. Torna-se incoerente que o governo peça agora ao Procurador Geral, Eduardo Montealegre, que faça vista grossa com o conto peregrino de que se estava atuando dentro da legalidade.

Não se pode desrespeitar dessa maneira a opinião, as pessoas pensantes do país.

É preciso estar cego para não ver que o propósito dessa atuação ilegal dos inimigos da paz é fazer explodir em mil pedaços o processo de Havana, um empreendimento superior e humanitário que todo o povo colombiano, anseia de coração, impedindo-o de chegar a um final feliz.

É muito grave o que está acontecendo na Colômbia. A espionagem não é dirigida somente contra as delegações de paz do governo e das FARC, mas contra os mais destacados líderes da esquerda, que também são ameaçados de morte por grupos paramilitares.

O estabelecido prejudicou de maneira perversa líderes como Piedad Córdoba. Parece que não bastou matá-la politicamente com a inelegibilidade por 18 anos. Agora é necessário exterminá-la fisicamente para “apagá-la do mapa”. O mesmo acontece com Iván Cepeda, a quem o Procurador da arbitrariedade possui na mira. E com muitos outros, como Petro, Lozano, Abella, contra a Marcha Patriótica, da qual assassinaram mais de 30 ativistas, contra a UP e contra os reclamantes de terras, que já somam uma centena de assassinados.

Pretende-se exterminar todo pensamento ligado a um projeto de país regido pela verdadeira democracia, pela paz com justiça social e pela soberania.

Um processo de paz que mobiliza a esperança de milhões de colombianos, exige com urgência que se ponha fim à guerra suja, porque com guerra suja não há paz.

Os franco-atiradores que, de maneira insensata e louca, estão disparando contra a solução política do mais prolongado conflito do continente, devem ser imediatamente desarmados. Se não puderam ganhar a guerra, deixe-nos fazer a paz.

Dos eventuais acordos de Havana, com o respaldo da vontade nacional, deve florescer um novo país em paz que se estenda pelos séculos, edificado sobre a base pétrea de uma Assembleia Nacional Constituinte que nos reconstruirá como nação civilizada.

DELEGAÇÃO DE PAZ DA FARC-EP


Adendo: É hora dessas fachadas ilegais de especialistas da informática à serviço do militarismo permitirem o restabelecimento da página MUJER FARIANA das FARC, suspensa ou retirada de circulação, há vários dias.


Fonte: https://pazfarc-ep.org/index.php/noticias-comunicados-documentos-farc-ep/delegacion-de-paz-farc-ep/1726-sobre-las-escuchas-ilegales.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)