Êxito da greve geral no Paraguai mostra crescente insatisfação

Embora seja muito prematuro fazer uma avaliação definitiva do impacto que terão as mobilizações prévias, sobre a greve geral e a mobilização camponesa de 26 de março podem ser extraídas algumas conclusões.

Em primeiro lugar, a greve geral teve um alto índice de adesão, paralisando, segundo fontes independentes, pelo menos 80% da atividade econômica do Paraguai. Notou-se a participação ativa de trabalhadores, como era de esperar, com igual ou até mais força de camponeses organizados, o movimento social mais importante do Paraguai. Também participaram significativamente organizações estudantis, assim como partidos políticos progressistas, particularmente as bases da Frente Guasu, estimando-se uma mobilização de aproximadamente 30.000 ativistas em todo o país com 30 fechamentos de rotas – inclusive a Ponte da Amizade, que une o Paraguai e o Brasil – e uns 10 piquetes de greve em Assunção e sua área metropolitana, assim como múltiplas mobilizações, que fizeram colapsar o tráfego de automóveis em todo o país. Como nunca, o país ficou paralisado, o que culminou com o fechamento de Assunção, com umas 30.000 pessoas.

O governo de Cartes apostou na desmobilização, criando um ambiente violento, o que aterrorizou indubitavelmente os setores menos politizados da população paraguaia. No entanto, o fato das mobilizações e greves ocorrerem de forma inteiramente pacífica, praticamente sem nenhum incidente de violência, demonstra que os movimentos sociais e políticos progressistas são essencialmente pacíficos e os violentos estão da ultradireita.

O mais transcendente é que as mobilizações e a greve de 26 de março foram resultado de uma ampla unidade social e política, articulada em grande parte pela Frente Guasu, que abarca não apenas os setores progressistas, mas inclusive grupos democráticos que não são de esquerda. Da mobilização, participaram setores de base dos partidos da direita tradicional paraguaia, inclusive do governante Partido Colorado, porém a maior quantidade de manifestantes era claramente progressistas e de esquerda.

O governo de Cartes percebeu o impacto e, para tentar amenizar a pressão política e social que introduziu a greve, conclamou um diálogo – com as centrais sindicais e o movimento camponês – para a manhã do dia 27 de março. A este respeito, a Frente Guasu tem a posição de que o governo Cartes deve mostrar-se aberto a revogar as leis de militarização e de privatização (de aliança público privada, APP), impostas por ele mesmo sem diálogo, assim como a imediata libertação dos cinco presos políticos camponeses em greve de fome há 40 dias. Denunciamos, nesse sentido, que Rubén Villalba, um dos grevistas de fome, teve hoje um desmaio, foi internado de urgência e teme-se por sua vida. Solicitamos a todas as organizações fraternas redobrarem sua solidariedade a este respeito, dada a grave situação de saúde do companheiro.

Se Cartes mantiver sua postura de impor leis antidemocráticas, sem diálogo prévio, como as de militarização e da APP, como é provável, as manifestações e greves crescerão no país, com base na unidade que vem avançando muito nesta jornada da greve de 26 de março. Caso Cartes revogue ambas as leis, como pedem as organizações sociais e a Frente Guasu, será uma enorme vitória do campo popular e democrático do Paraguai. Em qualquer caso, o movimento democrático e popular tem todas as chances de crescer vigorosamente no Paraguai e de ser a opção de mudança no Paraguai.

Assunção, 26 de março de 2014

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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