Ignorância ou manipulação?

O portal Vermelho, do pcdob, ou se equivoca, ou mistura seus desejos com a realidade, ou manipula informações sobre as FARC.

De uma maneira ou de outra, faz o jogo dos governos brasileiro e colombiano, que querem uma paz rápida e sem custos para a oligarquia e o imperialismo. Uma paz a qualquer preço, para criar na Colômbia um clima favorável a investimentos, nos marcos da integração capitalista da América Latina, sob a hegemonia do Brasil.

Como estão “atrapalhando o desenvolvimentismo”, as FARC devem entregar rapidamente suas armas. E, com isso, sua história de mais de 50 anos de luta!

Vejam abaixo duas publicações. A primeira, do portal Vermelho, mente objetivamente, dizendo em manchete, criada pelo próprio portal, que “FARC ANUNCIAM DISPOSIÇÃO DE CRIAR “PARTIDO POLÍTICO ABERTO”.

Abaixo desta nota inventada, vem o texto original do MOVIMENTO BOLIVARIANO PELA PAZ NA COLÔMBIA (e não da insurgência), que a matéria do Vermelho comenta, de acordo com seus interesses.

Vejam os expedientes:

– Ao invés da ilustração original, com a homenagem a Alfonso Cano, colocaram a logo das FARC;

– Ao invés de atribuírem as declarações ao Movimento, autor delas, afirmam que é um pronunciamento das FARC;

– Ao invés da citação de Pablo Neruda, constante no texto do Movimento, dizem que o documento foi lido por Pablo Catatumbo;

– Não sabem, ou fingem não saber, que o Movimento Bolivariano por uma Nova Colômbia é uma coisa; a guerrilha outra:

– o primeiro faz 14 anos este mês; a segunda está completando 50 anos com este nome, embora já existisse anteriormente.

– os espaços de atuação e as formas de luta são totalmente distintas.

Esta manipulação (ou ignorância?) é para passar a impressão de que a guerrilha colombiana está pedindo uma paz urgente, de qualquer jeito.

Vejam no portal do PCB várias matérias sobre as FARC, nenhuma manipulada; todas traduzidas na íntegra.

Perceberão o quanto as FARC estão preocupadas em não repetir o extermínio da União Patriótica, no início dos anos 90, quando assinou um “acordo de paz” e foram assassinados pelo estado terrorista colombiano quase 5.000 militantes.

Perceberão também os pré-requisitos que a insurgência estabelece para que os diálogos de Havana resultem em um acordo:

– uma Comissão da Verdade, para apurar a responsabilidade sobre a violência, desde o surgimento do conflito armado;

– reforma do judiciário;

– assembleia constituinte soberana, para tornar constitucionais os eventuais pontos do acordo.

A manipulação (ou ignorância?) é muito escandalosa. Se houver acordo de paz, quem pode vir a se transformar num partido “aberto” (usado no texto como antônimo de clandestino) será obviamente o Movimento, não a guerrilha.

O portal do pcdob chega ao ponto de dizer que o MBNC é “o braço político das FARC”. As FARC não precisam de um “braço político”, pois já são um corpo político, uma organização insurgente, que se define como marxista-leninista.

Esta declaração desse portal, além de absurda, expõe o MBNC (um movimento de massas desarmado, clandestino, que atua na sociedade colombiana com risco de prisões e assassinatos) como se fosse uma extensão das FARC.

(Editores do portal do PCB)


Vejam aqui as duas matérias:

Matéria editada, no portal do pcdob:

Farc anunciam disposição de criar “partido político aberto”

Em comunicado emitido nesta terça-feira (29), as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) afirmaram sua disposição em se converterem em um “partido político aberto, legal e inclusivo”, caso alcancem um acordo de paz com o governo do país. O documento divulgado pelo grupo insurgente comemora o 14º aniversário do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia (MBNC).

Divulgação As Farc e o governo colombiano discutiram o tema da participação política no segundo ponto da agenda de negociações.

Fundado em 29 de abril de 2000 em Caguán, na Colômbia, o MBNC é o braço político das Farc. “Aqui está o Movimento Bolivariano, vital, e pronto para tomar o caminho da paz, disposto a, caso se alcance a assinatura do acordo final, tirar a máscara que o protege. Um partido político aberto, legal, que reúna as maiorias dissidentes para continuar a luta pela democracia, a reconciliação e a justiça social”, diz o comunicado.

No texto lido por Pablo Catatumbo, chefe da delegação das Farc no processo de paz com o governo colombiano, o grupo insurgente afirma que “se há um diálogo pela reconciliação é porque existe a força clandestina e pujante de uma massa disposta a tomar, de uma vez por todas, a condução do seu destino”.

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As Farc manifestaram o desejo de que essa transformação aconteça “em um cenário em que finalmente seja estabelecido e respeitado os direitos civis e a participação real das pessoas na condução soberana do país, superando o neoliberalismo e as suas misérias”.

Na semana passada, as Farc e o governo colombiano voltaram à mesa de negociações, em busca de uma solução ao conflito que já dura mais de meio século. As partes discutem a questão das drogas – terceiro ponto da agenda e 24º ciclo de diálogos.

Théa Rodrigues, da redação do Portal Vermelho

http://www.vermelho.org.br/noticia/241054-7


Matéria, na íntegra, traduzida e publicada no portal do PCB (pcb.org.br):

MOVIMENTO BOLIVARIANO PELA NOVA COLÔMBIA:

14 anos de luta clandestina pela liberdade

Bolívar capitão, se vislumbra teu rosto. Outra vez entre pólvora

E fumaça tua espada está nascendo”. Pablo Neruda

Saudações, bolivarianos da Colômbia e da Nossa América!

Saudações, lutadores clandestinos que, anônimos, colocam seu sacrifício e sua força de mudança a serviço da causa popular!

Hoje, comemoram-se quatorze anos do surgimento do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia; mais de uma década de uma experiência, que significa o renascer constante, entre vicissitudes e esperanças, dos sonhos de emancipação que voam com as asas da pátria sobre a consciência dos homens e mulheres que, em nosso país, tomaram para si a causa dos pobres. Não somente em nossa terra comum, mas em todo o mundo devastado pelo neoliberalismo, dilacerado pela depredação do capital e assediado pela morte disseminada pelos impérios.

Aqui está o Movimento Bolivariano, vital e pronto para empreender o caminho da paz; disposto a obter a assinatura do acordo final, fazer da máscara que o resguarda da guerra suja e do terror que até agora imperam na Colômbia, uma bandeira tricolor ao vento, um partido político aberto, legal, que congregue as maiorias inconformadas para prosseguir com a luta pela democracia, pela reconciliação e pela justiça social, num cenário onde, por fim, se estabeleçam e respeitem os direitos cidadãos e a verdadeira participação do povo na condução soberana do país, superando o neoliberalismo e suas misérias.

Devemos dizer que se algo pulsa com força devastadora dentro desse curso de lutas por um mundo melhor, que no presente toma as ruas e estradas da Colômbia uma grande quantidade de massa indignada que vai crescendo, são os sentimentos dos homens e mulheres que, em sua mentalidade, assumem a condição de serem bolivarianos. Isso significa, simplesmente, o reencontro com o ideário do pai Libertador, a retomada das reservas morais e espirituais dos fundadores de nossa americanidade mestiça e valente, que deixaram como herança para estes povos que sonharam ser livres e viverem em condições de justiça e de concórdia, mas que, infelizmente, tiveram seus destinos assaltados pelos usurpadores que os exploram e o submetem ao vilipêndio do neocolonialismo e a pobreza.

Ser bolivariano é viver com mérito e humildade, retomando e disseminando a solidariedade, a fraternidade, os ideais de integração e de unidade que contribuem com a concretização do projeto de grande nação de repúblicas sonhada pelo libertador.

Ser bolivariano é sentir a dor alheia, sofrer o sofrimento das maiorias exploradas e submetidas de cada canto do continente, ser a indignação dos de baixo que já cansados de tanta iniquidade, se lançam à rua para dizer já basta.

Ser bolivariano, no que se refere a nosso país, é estar disposto a dar a vida pela defesa e pelas reivindicações dessa imensa massa de gente empobrecida dos campos e das cidades, que durante décadas de negligência institucional suportou, também, a violência e o terror de uma oligarquia entregue aos interesses das transnacionais; resistiu e continua na ação com o pleno convencimento de alcançar a vitória que entregue o poder aos despossuídos.

Ser bolivariano hoje é querer e lutar pela mudança social, entregar o melhor de si por essa causa popular, assumir com valor, com honestidade, com capacidade de sacrifício, com orgulho patriótico, com sentimentos de solidariedade, o combate pela definitiva independência. No entanto, que vai muito além do propósito nacional, pensando na Nossa América em integração, fazendo de nós um só grupo de pessoas que avance, crescendo em identidade, para valermos a convicção de Bolívar: somos todos uma única América.

E é precisamente essa razão que exaltamos com alegria neste aniversário, dizendo à Colômbia e aos povos do mundo que acompanham nossos sonhos de paz, que sobrevivemos à guerra suja, nos livramos de inúmeros massacres, desaparecimentos e repressão indescritíveis, com a certeza de que somos parte de um povo bravo, que não se assusta e nem se rende ante a pior das adversidades, e que se agora empreendemos o diálogo pela reconciliação, é porque existe a força clandestina e poderosa de uma massa disposta a tomar de uma vez por todas a condução de seu destino, com toda a disposição de amar e perdoar, mas também com toda a determinação de lutar na busca de sua liberdade.

Há quatorze anos daquele colorido 29 de abril de 2000, no Caguán, dissemos à Colômbia, com o exemplo do comandante Alfonso Cano em nossos corações, que o Movimento Bolivariano está pronto para continuar sua luta pela Nova Colômbia, espero que num novo cenário assinalado pela paz; porém, de qualquer maneira, ondeando o amarelo, azul e vermelho da emancipação, levantando agora sua voz pela Constituinte que refaça o país e, com a potência criadora do soberano, o encaminhe para tempos de restauração e grandeza, com o convencimento de que todos nós necessitamos alcançar a liberdade. Esta é a hora da unidade! Por ela clamamos e nela apostamos, com os braços abertos e com o convencimento de que, como dissera o Libertador, “a melhor forma de alcançar a liberdade, é lutar por ela”.

Viva o Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=7379