Apesar de tudo, persistiremos

“Decidiram ensaiar a via dos diálogos com o propósito de obter na Mesa de Diálogos a vitória que lhes tem sido negada durante meio século nos campos de batalha. Para os setores dominantes em nosso país, a saída política tem sentido apenas se garantir seu reinado absoluto por mais mil anos, só se condenar os rebeldes ao inferno”.

Timoshenko

Já tinhamos comentado sobre o discurso do Presidente Santos, que volta a ser colocado em destaque após sua recente posse. Também assinalamos o total alinhamento dos grandes meios de comunicação com o sentir da classe dominante. Os dois, incluindo o Centro Uribe, se aborrecem bastante quando não expressamos o que sonham ouvir de nós.

Na realidade, a grande imprensa se corresponde com poderosos consórcios de capital dedicados ao trabalho específico de difundir sua própria maneira de pensar o resto da sociedade. Todos os acontecimentos que para chegar ao conhecimento público passam por sua condução, são deliberadamente apresentados de modo que resulte mais conveniente a seus interesses.

Assim acontece no campo internacional, onde o povo palestino, perseguido e violado durante setenta anos, passa a ser o verdadeiro agressor, carece de direito à defesa e não possui outra alternativa que submeter-se ao extermínio decretado pela capital sionista. Consideram malfeitores Cuba e Venezuela, enquanto aplaudem como justos os Estados Unidos.

E assim também acontece no cenário nacional. As guerrilhas são as responsáveis por ter iniciado o longo conflito e são as verdadeiras e únicas responsáveis por todos os horrores sucedidos no curso dele. No entanto, se santificam os monstros civis e militares que, por gozar de enormes pecúlios, têm assegurada sua respeitabilidade.

A humanidade inteira é testemunha da imposição de uma maneira de pensar, segundo a qual todo aquele que apela para as armas é um bárbaro sem escrúpulos. Sem importar as razões pelas quais o faça. O que é difundido fazendo invisível o fato protuberante de que os mais ricos e poderosos fabricam as armas, têm os maiores exércitos e fazem as maiores guerras.

A ninguém ocorre que George Bush deva responder por mais de um milhão de civis mortos no Iraque como consequência da invasão ordenada por ele devido ao interesse das grandes petroleiras. Assim como não se admite que Álvaro Uribe deva responder aqui por seus crimes massivos para defender o interesse do latifúndio mafioso e das transnacionais.

A ideologia dominante, alimentada diariamente pelos grandes meios de informação ou da manipulação, exige em troca que os de baixo, os rebeldes, os que se oponham à invasão e ao despojo de sua pátria por Israel, os que combateram os estrangeiros no Iraque ou os guerrilheiros que enfrentam a máquina do horror na Colômbia, sejam condenados sem piedade.

Para eles não cabe outra oportunidade que o mais cruel dos castigos. Assim o exigem o grande capital e os grandes proprietários, assim o proclamam as mídias. Especialistas graduados nas melhores universidades colocam seu talento imediatamente a seu serviço, todos aspirantes a ocuparem um lugar sob a sombra dos grandes se candidatam a ocupar seu posto na cruzada.

Nós não chegamos a uma mesa de diálogos por estarmos vencidos ou desencantados, mas porque sempre acreditamos nas vias civilizadas, porque acreditamos que, apesar de tudo, é possível alcançar, com o apoio das grandes maiorias colombianas, acordos dignos que se fundem, por uma razão elementar, na proscrição bilateral da violência.

Repudiamos energicamente, por ser contrária à realidade histórica, a ideia de que a classe dominante colombiana, seus partidos políticos tradicionais ou suas misturas de hoje, seus governos, o Estado como tal, os grupos econômicos, a grande imprensa e muitos outros setores à sombra do poder, têm as mãos limpas de sangue do povo colombiano.

Todos eles, animados pelo vulgar afã do lucro, em plena coordenação ou de joelhos ante os governos norte-americanos do pós-guerra, violam de todas as formas, repetida e sistematicamente, camponeses, trabalhadores, estudantes, intelectuais, partidos de oposição revolucionária e demais setores populares em luta. Não podem continuar negando isso.

Até o ponto de gerar esta guerra em resposta a suas atrocidades e a sua impunidade. Por isso, não nos surpreende o manto do silêncio com o qual a grande imprensa trata os distintos fóruns sobre vítimas celebrados até a data. De todos eles reluz essa grande verdade. Os verdadeiros autores e responsáveis pelos horrores deste longo conflito são eles.

Decidiram ensaiar a via dos diálogos com o propósito de obter na Mesa de Diálogos a vitória que lhes tem sido negada durante meio século nos campos de batalha. Para os setores dominantes em nosso país, a saída política tem sentido apenas se garantir seu reinado absoluto por mais mil anos, só se condenar os rebeldes ao inferno.

E é isso, na realidade, o que se oculta por trás da nova enxurrada retórica e midiática. Na grande imprensa seus escritores gritam que o Estado reconheceu as vítimas e expediu uma lei para repará-las, que pediu perdão um par de vezes. Como se isso bastasse para mudar as coisas, como se não estivessem empenhados em deixar intacta a máquina do crime.

Achacar-nos todos os males é o tema da moda. Sempre foi. Perverter o que dizemos, manipular, demonizar. Nossa melhor disposição, que existe sem dúvida, de explicar o quanto for necessário e assumir as correspondentes consequências, também será enfrentar a baixeza e a perfídia daqueles que desejam desesperadamente nos esmagar.

Porém, estamos nisto. Convencidos de seguir adiante, certos de que após um acordo de paz a Colômbia não continuará sendo a mesma. Nisso, precisamente, nos diferenciamos de nossos adversários. Eles apenas aspiram tirar-nos do caminho para não mudar nada, para que tudo continue igual. Grunhem e ameaçam enquanto se complicam, porém, de todo modo, somos diferentes deles.

Montanhas da Colômbia, 8 de agosto de 2014

Fonte: http://farc-ep.co/?p=3641

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)