Primeira visita das vítimas do conflito. Um fato sem precedentes: FARC
Havana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 20 de agosto de 2014
“Que haja justiça para todos. Que haja paz para todos. Que haja trabalho, pão, água e sal para todos. Cada um de nós saiba que todo corpo, toda mente e toda alma foram libertadas para que pudessem sentir-se realizadas”.
“Tudo parece impossível até que se faça”.
NELSON MANDELA
O ocorrido em 16 de agosto é um acontecimento sem precedentes. Nunca, em meio de conversações de paz, se tinha escutado o testemunho das vítimas do conflito. Nunca antes a participação direta daqueles que sofreram as consequências da guerra, contribuiu tanto com algum processo de paz.
As vítimas do conflito na Colômbia, ao socializar seus relatos, compartilhar suas experiências pessoais de vitimização em um ambiente de respeito pelas aflições de cada um, compreenderam que o caminho para superar a dor não é o confronto que dispersa e nubla a visão, mas a determinação coletiva de buscar a solução política da guerra, a reconciliação da família colombiana sobre as bases da justiça social, o que dá sentido a suas vidas. Os dilaceramentos da alma encontram na paz política, a reparação que anseiam.
É o estímulo destes sentimentos e não a agitação dos ódios promovida por algumas mídias enfermas pela insanidade da guerra, pelo egoísmo e pela exclusão, o que deve florescer em uma terra fertilizada com tanto sangue irmão. Já basta de utilizar microfones e câmeras para perpetuar o conflito fratricida. Nós que ansiamos a concórdia somos mais que essas minorías arbitrárias e tirânicas que pretendem perpetuar sua hegemonia com o arrasamento total dos direitos humanos.
A mentira propalada de forma pérfida, de que as vítimas são exclusivas de uma só parte, é a hostilidade e a voz da discórdia que deve ser rechaçada.
A Colômbia é um país com muitas riquezas naturais, com milhões de pessoas solidárias que entendem ser possível, com essas riquezas materiais e espirituais providas pela pátria, banir para sempre a desigualdade e a pobreza, e plantar a justiça.
Por tudo isto, pelas imensas potencialidades que implicam, valorizamos as vozes, as memórias e os sentimentos de humanidade trazidos pelas vítimas do mais longo conflito social e armado do hemisfério, de uma Colômbia em guerra até Havana.
Que se abram com urgência as portas das prisões, onde, por longos anos, permaneceram encarceradas a dignidade humana, o direito à opção política, a democracia verdadeira, a participação cidadã nos planos estratégicos da Nação, o novo modelo econômico para o bem-estar e bem viver, as reformas dos sistemas eleitoral e judiciário, o direito da gente comum a ser governo, a mudança da doutrina militar, a recuperação da riqueza natural e a reapropriação social dos bens comuns, a soberania nacional e o sentimento de pátria, e a constituinte para a transição para a Nova Colômbia.
Não necessitamos recorrer a atos legislativos de nenhuma espécie para saber que as vítimas do conflito têm direitos. Aqui faz falta escutar a voz de mais de 30 milhões de colombianos que vivem na pobreza e na exclusão, na miséria e na desigualdade, vítimas das injustas políticas econômicas implementadas pelas elites que mal nos governam.
Este processo estaria mais perto do acordo final se tivesse escutado nossa voz reclamando a participação da gente comum nas discussões dos temas sobre terras, Participação Política, Solução ao problema das drogas de uso ilícito, como por fim ocorreu com as vítimas do conflito.
Na busca coletiva da paz não se pode desdenhar o mandato do preâmbulo do Acordo Geral de Havana, que define que “a construção da paz é assunto da sociedade em seu conjunto que requer da participação de todos, sem distinção”. Nessa direção, estimamos que a Casa de Nariño escute a múltipla voz dos Fóruns reclamando de Villavicencio, Barrancabermeja, Barranquilla e Cali, um cessar bilateral do fogo para evitar maiores vítimas. O primeiro grupo de vítimas do conflito reiterou este clamor durante sua visita a Havana. É o que também propomos desde o próprio início das conversações, frente ao qual a contraparte não deveria continuar respondendo com indiferença.
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP
Fonte: http://www.pazfarc-ep.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=2073
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)