A pressa pelo Acordo Final

A cantilena, segundo a qual dois anos de conversações já são suficientes, equipara a paz a uma pretensão suscetível de ganhar por simples prescrição ou vencimento dos prazos.

Por Timoshenko

12/01/2015

O Presidente da República expressou, após seu retiro espiritual em Cartagena, que a principal instrução a seus delegados na Mesa de Havana consiste em acelerar ao máximo a concretização de um Acordo Final de Paz, o qual diferentes comentaristas prognosticam para os primeiros meses de 2015. Alguns já falam de iminentes pressões da realidade política que nenhuma das duas partes na Mesa poderá se esquivar sem sofrer graves efeitos.

Enquanto as referências aludem o governo e as FARC, não podemos deixar de ler que a pressão está dirigida a nós. É claro que o Presidente Santos não tem o menor interesse em estender as discussões. Ele sempre as concebeu como um procedimento expedito para materializar nossa desmobilização e reincorporação à vida civil, independente de qualquer exame das causas do conflito e das reformas necessárias para terminá-lo.

Para o governo, o processo em curso tem como origem única a força aplicada contra nós por parte das forças armadas. Em diversas declarações públicas sustentou que o conflito, caso não seja produzido um acordo agora, poderia estender-se por vinte anos, cuja solução inevitável consistiria na aniquilação da insurgência. Portanto, o que se trata agora na Mesa é de poupar o país dessas duas décadas de sangue.

Ou, como dizem, devemos nos render de uma vez na Mesa. Nesse sentido, o recente informe do Ministério de Defesa, elaborado pelos Assuntos e Estudos Estratégicos, dá conta de que nos dois anos de existência do processo, as FARC perderam 8.350 homens, o que indicaria que, segundo as mesmas cifras oficiais, os poucos que restaram serão extintos em meses.

Surpreende que as expectativas do Governo sejam fundadas em argumentos assim. Antes do início das conversações, o próprio Ministério de Defesa defendia abertamente que encontrávamo-nos reduzidos a menos de oito mil homens. Assim, considerando as ações empreendidas pelas autoridades nos dois últimos anos, o que restaria de nós é a Delegação que se encontra dialogando em Havana.

Nossos principais acampamentos, segundo o informe, estão nos departamentos de Nariño, Cauca, Valle del Cauca, Meta, Guaviare, Vichada, Guainía, Norte de Santander, Guajira, Arauca, sul do Tolima, Córdoba e Putumayo, que, se observarmos bem, constitui mais da metade do território nacional. A utilização do termo principais acampamentos, necessariamente implica na existência de alguns secundários, cujas localizações evita declarar o informe comentado.

As leituras individuais da imprensa também indicam a nossa presença em Caquetá, Antioquia, Chocó, Huila e outras localidades às quais não vamos nos referir aqui. Tudo isto significa que o víeis reducionista com o qual estão sendo apresentados os fatos ante a opinião pública tem fundamento em bases bem mais frágeis. Números desse tipo lembram os mais de 50.000 paramilitares desmobilizados depois da chamada lei de justiça e paz, enquanto a cifra oficial de seus integrantes jamais passou de 20.000.

Outras considerações destinadas a nos pressionar indicam que a declaração unilateral de cessar-fogo ordenada pelo Secretariado Nacional das FARC-EP, coloca nossa força em uma situação de não combate, o qual necessariamente aponta, de manter-se no tempo, a uma paulatina decomposição de nossas estruturas por causa do ócio a que se verão compelidas. Aqueles que se apressam a afirmá-lo, esquecem que responderemos se somos atacados.

Em todo caso, se essa for a argumentação, bem vale considerar a assinatura de um cessar-fogo bilateral ou a assinatura de um armistício eventualidades que nos aproximariam de modo concreto da situação que imaginam os comentaristas. Evitar a segura desnaturalização de nossa força guerrilheira deveria em tal caso mover-nos a chegar a um rápido Acordo Final. Assim, careceria de sentido a negativa do governo em aceitar nossas propostas nessa direção.

Do mesmo modo, se emprega a presença da maioria do Secretariado em Havana. Com uma distância superior aos dois mil quilômetros, se assegura ser impossível manter a coesão de todas as nossas estruturas na Colômbia, o que somado ao anterior, necessariamente nos obrigaria a antecipar a assinatura do Acordo Final. Nossa organização verticalizada em Estados Maiores dos Blocos e Frentes desconhece semelhante pretensão e continua funcionando.

Verdadeiramente importante para a assinatura de um rápido Acordo Final é a disposição do governo nacional em ceder ante nossas propostas claramente expostas acerca de quase todas as matérias pendentes. O país e a comunidade internacional conhecem nossas propostas mínimas sobre o ponto das vítimas, de onde se observa que o que nos separa de um acordo final são evidentemente questões de conteúdo e não de forma.

As pressões derivadas de elucubrações, como as comentadas anteriormente, evadem assuntos chaves para o término do conflito e para a construção de uma paz estável e duradoura. Não nos cansaremos de proclamá-lo aos quatro ventos nem de defendê-lo na Mesa. A ansiada solução política ao conflito social e armado existente em nosso país, tem sido a essência das FARC desde seu próprio nascimento em Marquetalia e não produto de supostos fracassos militares.

E se relaciona com reformas estruturais em matéria social e política, com garantias plenas para o exercício da oposição, não apenas para todos os rebeldes, mas para o conjunto dos movimentos políticos e sociais que lutam por mudanças profundas na sociedade colombiana. A cantilena, segundo a qual dois anos de conversações já são suficientes, equipara a paz a uma pretensão suscetível de ganhar por simples prescrição ou vencimento dos termos.

Um governo que apresenta no Congresso da República projetos de lei e de reformas que, abertamente, vão contra o acordado parcialmente com as FARC na Mesa de Conversações, não demonstra a mínima vocação de colocar fim ao conflito. Do mesmo modo, um governo que ordena diariamente aumentar a confrontação contra a insurgência, nega sua vontade de diminuir a intensidade da guerra. Assim, será difícil chegar rápido a alguma parte.

Montanhas da Colômbia, 11 de janeiro de 2015.

Fonte: http://farc-ep.co/?p=4181

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)