A imensa marcha pela paz

Havana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 10 de abril de 2015

Ontem o povo colombiano protagonizou a mais formidável marcha pela paz da Colômbia. Foi uma gigantesca maré branca que multiplicou e estendeu sobre todo o território nacional suas consignas de paz, cessar-fogo bilateral e Assembleia Nacional Constituinte.

Uma multidão de mais de 300 mil pessoas em Bogotá e mais de um milhão de almas no país, acenderam nos corações a chama da reconciliação e exigiram as mudanças que proporcionem a justiça social. A mensagem de nosso povo, dos excluídos e sofridos de sempre, foi clara: ferviam sentimentos de concórdia, e a memória de Jorge Eliécer Gaitán, o caudilho dos pobres que ainda gritam nas gargantas dos despossuídos, restauração moral da República.

Não importa se alguns meios pretendem distorcer os verdadeiros propósitos da marcha pela paz, ocultando vozes que pediam um Plano Nacional de Desenvolvimento orientado a obter o bem-estar cidadão; ou as que clamaram pelo armistício e a constituinte. No final, os protagonistas da maior demonstração de apoio à paz nos deixaram eternas imagens do movimento social e popular com seus cartazes e desfiles coloridos, que falavam ao regime dos problemas e necessidades básicas não satisfeitas e que requerem soluções urgentes.

Apoteótica foi a presença da juventude, cheia de rebeldia, com o fogo esperançoso de sua audácia e de sua alegria, desbocadas nas ruas de Bogotá, exigindo a transformação do país. Ficou claro que a Colômbia dos humildes, que é a Colômbia das maiorias, deseja e luta por uma paz, que promova o bem viver com liberdade e dignidade.

Esse é o caminho e não o das batalhas políticas de todo tipo que hoje pululam, ameaçando viciar o processo de paz. Por isso, não pode existir determinação mais sábia neste momento, que livrar os diálogos de Havana do perigo que significa misturá-los com pretensões eleitorais, ou fazê-los depender dos caprichos do mais desprestigiado sistema jurídico da região.

Precisamente, referindo-se ao Processo de Paz, o Presidente Santos disse que justiça é o problema. Sim, que é um problema de corrupção, de impunidade e degradação moral, que arrasta consigo a crise de credibilidade do regime em seu conjunto. Nessa perspectiva, ele diz que devemos, para buscar o caminho da reconciliação, trabalhar mais dentro da lógica do sentido comum, dentro dos Marcos Jurídicos que dependem das Cortes corruptas e concepções de transição inventadas por pessoas que não conhecem nossa realidade e nossa história.

Se o governo disse que existe conflito interno, isso significa que nossa realidade encaixa dentro dos termos indicados no Protocolo II dos acordos de Genebra, quando consigna que é conflito interno o enfrentamento “entre suas forças armadas (a do Estado), e forças armadas dissidentes ou grupos armados organizados que, sob a direção de um comando responsável, exerçam sobre uma parte do dito território um controle tal, que lhes permita realizar operações militares sustentadas e concertadas, e aplicar o presente Protocolo”.

Aos criminosos comuns não se aplica o Protocolo II de Genebra, como aos rebeldes não se pode dar o tratamento que se delineia para grupos criminosos, nem o direito penal do inimigo. Não se pode confundir as coisas.

Precisamente por isto foi criada a Comissão Histórica do Conflito. Porque é sabido que existem condutas que podem ser criticáveis dentro do esquema da definição do Protocolo II. O certo é que não são as FARC as responsáveis desta tragédia iniciada pelas elites mesquinhas, que impuseram o terror para manter seus privilégios. Daí a necessidade de definir de maneira enfática a responsabilidade do Estado, como a de setores civis, políticos, econômicos, etc.

Os resultados da Comissão Histórica devem ser retomados com urgência. Este é o correto. E não pretender abrir a janela da opinião pública manipulada a uma ideia eleitoreira e tergiversada da “paz sem impunidade”, fazendo mera alusão à guerrilha para submetê-la, sem olhar para nenhum dos verdadeiros determinadores da vitimização, que são as elites no poder.

Já é hora de exigir com veemência que se abram os arquivos e que se discuta de frente para o país o assunto da responsabilidade do Estado! Que se discuta sobre a responsabilidade dos governantes em assassinatos, como o de Alfonso Cano e outros milhares e milhares de crimes cometidos contra indefesos e subjugados em combate. Ou se não, para que queremos que a Comissão esclareça a verdade ou qual a finalidade do trabalho da Comissão Histórica do Conflito? Que se abram os arquivos!

DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

Fonte: http://www.pazfarc-ep.org/index.php/noticias-comunicados-documentos-farc-ep/delegacion-de-paz-farc-ep/2599-la-multitudinaria-marcha-por-la-paz

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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