Violência paramilitar dificulta processo de paz

imagemMarcela Belchior

Adital

Apesar de alguns avanços no processo de paz entre o Estado colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), possibilitados pela mesa de diálogo e negociação de Havana, capital da Cuba, uma importante face do conflito armado permanece como elemento central da violência, repressão e manutenção do narcotráfico. Trata-se da presença paramilitar em todas as regiões do país. Denúncias de organizações de direitos humanos indicam que são esses grupos os responsáveis por muitos casos de assassinato, extorsão, controle social e econômico, implicando, diretamente, na dificuldade de superação do confronto entre o Estado e as forças insurgentes.

No Departamento de Putumayo, por exemplo, sudoeste do país, apesar da desmobilização oficial do paramilitarismo, em 2006, unidades paramilitares permanecem dedicadas, especialmente, a protegerem o narcotráfico. Denúncias apontam que um dos grandes chefes do tráfico de drogas na zona Carlos Mario Jiménez (conhecido como Macaco) comprou, ainda em 2002, a “franquia” paramilitar da área, buscando benefícios para o crime organizado e mantendo em pleno funcionamento o narcotráfico e a pistolagem.

No ano de 2014, grupos paramilitares da região de Putumayo passaram a recrutar jovens por meio da oferta de drogas. Em maio deste ano, um grupo armado a paisana atacou uma comunidade indígena justamente na área onde são instaladas operações empresariais petroleiras, denunciadas por afetarem a população local, com a multinacional Gran Tierra, do Canadá.

Já no Departamento de Meta, há denúncias de que, no município de El Castillo, os paramilitares exercem, desde 2013, o controle social e econômico das zonas urbana e rural, vestidos com uniformes militares, com roupas de civis e munidos de armas e rádios. Organizações de direitos humanos apontam que os grupos atuam de maneira aberta, extorquindo comerciantes e fazendeiros locais.

Nessa região do país, os paramilitares têm exigido da população informações sobre o paradeiro da guerrilha, nomes de líderes das comunidades e de ex-integrantes do Partido Comunista, além de perseguirem quem é membro de igrejas diferentes da Católica. Da mesma forma, controlam os roubos e a venda de maconha para usuários e guerrilheiros. A presença da estrutura paramilitar também converge com o avanço do processo de instalação de uma área de perfuração petroleira.

Ainda no Departamento de Meta, o município de Mapiripán vive um contexto no qual estruturas paramilitares controlam o tráfego de veículos e de pessoas na região, abrindo caminho para as atividades da empresa ítalo-espanhola Poligrow, que desenvolve a monocultura de Palma na zona. Na região, há presença policial e uma base do Exército colombiano, que, segundo organizações de direitos humanos, não fazem qualquer tipo de frente às operações ilegais paramilitares.

Violação de direitos humanos

É na cidade de Buenaventura, Departamento de Valle, que são registrados mais casos de violações de direitos humanos e deslocamentos forçados em todo o país. A maioria dessas violações é atribuída aos grupos neoparamilitares, sucessores daqueles que foram desmobilizados no início dos anos 2000. Na região, vários desses grupos disputam o controle da cidade e atuam ao lado das forças públicas para garantirem a usurpação de bens a partir da remoção forçada da população, manterem o controle social e territorial para o tráfico de drogas e favorecerem o investimento empresarial estrangeiro na Colômbia.

Na zona urbana de Buenaventura, foram traçadas fronteiras imaginárias, que restringem a mobilidade dos habitantes, por meio de chantagem, extorsão e ameaça, acentuadas nos últimos meses. Segundo a organização Human Rights Watch (HRW), dos Estados Unidos, os grupos paramilitares vigiam a movimentação da população pelos bairros; em caso de suspeita de vinculação com grupos rivais, os moradores podem sofrer desaparecimento forçado ou, até mesmo, serem assassinados. “Em vários bairros, os residentes denunciam que existem ‘casas de pique’, onde os grupos esquartejam suas vítimas”, aponta a entidade de direitos humanos.

Segundo a Defensoria Pública (‘Defensoria de Pueblo’) da região, somente entre outubro e novembro de 2012, houve oito deslocamentos forçados motivados pela intensificação do confronto armado entre grupos paramilitares, afetando seis bairros, 1.500 famílias e 5.000 pessoas. O órgão indica que, desde 2011, Buenaventura tem sido o município colombiano que sofre com mais deslocamentos forçados: 22.028 residentes abandonaram seus lares, em 2011, 15.191, em 2012, e 13.468, entre janeiro e outubro de 2013. Além disso, lá foram registrados 35 casos de tentativas de recrutamento de jovens entre 17 e 15 anos de idade, somente no ano de 2013, por meio da oferta de drogas e de técnicas de terror e intimidação.

Entenda o paramilitarismo

O paramilitarismo é uma estratégia estatal contrainsurgente, preconizada a partir dos Estados Unidos e cofinanciada pelas multinacionais. Funciona como ferramenta de terrorismo de Estado para combater a organização armada anarco-sindicalista, operando por meio de saques, extorsões, assassinatos, controle econômico e ideológico, dentre outros recursos ilegais pra reprimirem e submeterem a população.

Com isso, os paramilitares debilitam e eliminam a oposição armada, como as forças insurgentes guerrilheiras, que vêm atuando por meio de uma guerra contra o Estado, em nome de trabalho, saúde, moradia, educação, terra, democracia, justiça e dignidade para os povos.

Os grupos paramilitares são recrutados e apoiados pelo Estado da Colômbia, com recursos econômicos e militares, treinamento, proteção e impunidade garantidos. Muitas vezes, recrutam membros em comunidades tradicionais, como as indígenas, que são vulneráveis às históricas condições de exclusão econômica e social, buscando no paramilitarismo um caminho para saírem desse contexto.

Sua motivação são promessas do governo de recursos econômicos, muitas vezes disfarçados em programas de benefício às comunidades.

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