Novo gesto de paz da insurgência
El Tiempo/ANNCOL
Libertarão o major da Polícia Guillermo Solórzano, o cabo do Exército Salín Sanmiguel, o infante da marinha Henry López Martínez, e os presidentes dos conselhos autárquicos de San José do Guaviare, Marcos Vaqueiro, e de Garzón Huila, Armando Acuña, como gesto de desagravo à senadora da Paz”. O Secretariado do Estado Maior das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) anunciou em uma carta pública dirigida à senadora Piedade Córdoba, difundida neste 8 de dezembro através da Agência de Notícias Nova Colômbia (ANNCOL) que libertarão o major da Polícia Guillermo Solórzano, o cabo do Exército Salín Sanmiguel, o infante da marinha Henry López Martínez, e os presidentes dos conselhos autárquicos de San José do Guaviare, Marcos Vaqueiro, e de Garzón Huila, Armando Acuña, como gesto de “desagravo à senadora da Paz”, que foi perseguida e hostilizada incessantemente pelo governo colombiano e foi recentemente inabilitada de suas funções como senadora pelo Procurador Geral da República, uma retaliação que valeu a condenação internacional e aumentou o reconhecimento de uma das personalidades que mais esforços realizou para abrir o caminho do intercâmbio humanitário e da paz dialogada e com justiça social na Colômbia.
Embora não especifiquem a data da libertação, as Farc assinalam que dependerá de “as garantias que outorgue o Governo para que a senadora Córdoba possa receber os que serão libertados”.
“A sanção contra Piedade Córdoba é imoral e injusta, preconceituosa, e ditada pelos mais avessos interesses políticos. O país nacional, que cansado do guerreirismo do Estado, almeja paz, deve rodear à senadora e acompanhá-la em sua marcha resoluta depois deste objetivo. Se a injustiça persistir, ninguém poderá impedir que se levante na Colômbia um poderoso movimento pela paz liderado por seus filhos e filhas mais ilustres, diz o comunicado.
As Farc também asseguram que mantêm o interesse de fazer uma troca de prisioneiros.
Um dos possíveis libertos é o major da Polícia, Guillermo Javier Solórzano Julio, nascido em Cartagena, que tem 34 anos e é pai de uma filha. Ingressou na Polícia em 1993 e prestou serviço nos departamentos de Polícia de Bolívar, Cauca e Vale, e na Direção de Inteligência. Em sua folha corrida repousam 97 condecorações e menções especiais.
No momento de seu aprisionamento era Capitão e estava no comando da Estação de Polícia de Flórida (Vale). As Farc pegaram-no como refém na noite de 4 de junho de 2007 na zona rural do município de Miranda (Cauca), juntamente com o comerciante Humberto Loaiza, empresário dedicado à exploração de jogos de azar e loteria e seu filho Carlos Humberto de 18 anos.
O empresário Loaiza e seu filho já foram libertados e o Major Solórzano foi incluído na lista de militares e policias que as Farc querem trocar por guerrilheiros presos.
“Nós esperamos, agora, que o governo facilite as coisas e permita a entrega dos sequestrados à senhora Piedade Córdoba”, diz Angelica López, esposa de Salim Sanmiguel Valderrama, cabo do Batalhão Jaime Rook, incorporado à Sexta Brigada, com sede em Ibagué.
Este suboficial de 26 anos, oriundo de Ibagué, foi capturado pelas Farc em 23 de maio de 2008, na zona rural do município de Cajamarca (Tolima), quando desenvolvia operações militares na zona do Tambo.
“Tomara que o governo dê a autorização à dona Piedade para que ela possa seguir adiante com os trâmites da libertação do meu esposo e dos demais sequestrados”, diz Angelica López, que reside em Bogotá. Diz que toda a família do suboficial está feliz com o anúncio e “estão muito felizes”.
“Estes foram anos muito difíceis, de muito sofrimento por não saber que destino teve Salim”, diz Angelica, e explica que a última prova de sobrevivência que teve sua família foi em abril passado.
Por sua vez, Hilda Valderrama, tia do cabo Salim Sanmiguel, que vive em Ibagué, confia que a libertação ocorra de maneira rápida para que o cabo “possa passar o Natal e o fim do ano com sua família”.
“Nós, agora, estamos pedindo a Deus para que todo o trâmite da libertação não tenha obstáculos, e caso haja, possam ser solucionados para pôr fim a este sofrimento”, afirma a tia do cabo.
Reproduzimos a seguir o conteúdo completo da carta enviada (sem editar) à senadora Córdoba:
Doutora
PIEDADE CÓRDOBA
Bogotá
Cordiais saudações
Impulsionados pelo mais justo imperativo ético dirigimo-nos à senhora para lhe expressar, neste momento crucial da sua vida política, nossa solidariedade incondicional diante do brutal atropelo da Procuradoria Geral da Nação contra seu esforço humanitário pela paz da Colômbia.
A decisão do procurador Alejandro Ordoñez é um verdadeiro absurdo jurídico e político, originado da pressão doentia, do ódio e da retaliação do ex-presidente Uribe, chefe indiscutível, impune até agora, do paramilitarismo e da parapolítica na Colômbia.
O país não pode permitir que se abra caminho para a absurda criminalização da busca pela solução política do conflito. Ordoñez age contra o direito. É mais prevaricador que Procurador. Ao inabilitar por 18 anos a senadora, pretendendo sua morte política, não só extrapola, usurpando funções próprias do Conselho de Estado; como também sustenta sua miserável decisão nos supostos dados de um computador, que não podem constituir prova jurídica, porque foram previamente manipulados pela polícia, violando-se assim a corrente de custodia.
Neste caso, não há direito à defesa nem ao devido processo. Ninguém venceu em julgamento Piedade Córdoba. Constitui um paradoxo que os servidores públicos delinquentes, que a espionavam para incriminá-la, agora fujam para o exterior tentando burlar a ação da justiça.
A atuação do “Prevaricador Geral”, que converte em delito a luta pela paz o evidencia como um pau mandado burro e incauto. A senadora Córdoba não somente atuava com o aval do executivo, ela agia de acordo com a Constituição, que consagra como direito e dever, a busca da paz.
O termo enganoso de FARC-política foi uma invenção do chefe paramilitar que ocupou a presidência da República durante oito anos, como um recurso desesperado para desviar a atenção sobre sua responsabilidade penal em caso da parapolítica.
O processo da parapolítica está relacionado a votos e a proselitismo armado de grupos paramilitares em favor de umas candidaturas ao Congresso. O chefe paramilitar, Salvatore Mancuso, vangloriou-se de que sua facção conseguiu eleger mais de 30% dos congressistas colombianos. O paramilitarismo também contribuiu para eleger o presidente da República em duas oportunidades, através de pressões, fraudes eleitorais e financiamento em dólares.
Não pode haver processo de FARC-política, porque nunca orientamos votar em Piedade Córdoba. Não participamos em debates eleitorais desde que a intransigência oligárquica do país massacrou a União Patriótica.
No intercâmbio epistolar sustentado com a senadora em torno da solução política do conflito, sempre sustentamos que o acordo de paz que surja da mesa de conversações FARC-governo, deve ser referendado por uma Assembleia Nacional Constituinte, que dê força constitucional ao mesmo, a fim de que seja assegurado por essa via que a paz prevaleça. No manifesto das FARC, documento no qual expomos a Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia, convidamos o país para trabalhar pela construção de uma alternativa política para a paz, propósito que hoje reiteramos.
A sanção contra Piedade Córdoba é imoral e injusta, preconceituosa, e ditada pelos mais avessos interesses políticos. O país nacional, que exausto do guerreirismo do Estado, almeja paz, deve rodear a senadora e acompanhá-la em sua marcha resoluta depois deste objetivo. Se a injustiça persistir, ninguém poderá impedir que se levante na Colômbia um poderoso movimento pela paz liderado por seus filhos e filhas mais esclarecidos.
Como um gesto de humanidade e de desagravo à senadora da paz , libertaremos os seguintes cinco prisioneiros: Major da polícia Guillermo Solórzano, Cabo do exército Salín Sanmiguel, Infante da marinha Henry López Martínez, e os presidentes dos conselhos autárquicos de San José do Guaviare, Marcos Vaqueiro, e de Garzón Huila, Armando Acuña, estes últimos investigados pelas FARC por corrupção . A decisão está tomada e a data dependerá das garantias que o governo outorgue para que a senadora Córdoba possa receber os que serão libertados.
Nossa luta pela troca de prisioneiros de guerra se mantém. Não retrocederemos no propósito de buscar a libertação de Simón Trinidad – modelo do decoro e da firmeza do revolucionário fariano – e a volta dos nossos das prisões do regime e do império, aos acampamentos insurgentes. Para todos eles nossa mensagem de fôlego e esperança.
Senadora Piedade Córdoba, compartilhamos com a senhora e com a imensa maioria de nossos compatriotas, que a guerra não pode ser o futuro da Colômbia.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC -EP
Montanhas da Colômbia, dezembro de 2010
Mais informação em www.piedadcordoba.net