A origem socialista do dia 08 de Março
(O PODER POPULAR Nº 18)
Há cem anos, 200 mil tecelãs russas em greve percorreram as ruas de Petrogrado em luta pelo fim da I Guerra Mundial, pelo aumento dos salários, contra a fome e em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Trabalhadora. Era o dia 23 de fevereiro de 1917, 08 de março pelo calendário ocidental. Poucos dias depois, ocorreu a Revolução de Fevereiro, que derrubou o Czar e instalou um governo provisório democrático-burguês. Uma etapa decisiva para a Revolução Bolchevique de Outubro.
Essa greve deu início a diversos levantes, com as mulheres russas tomando a frente de lutas pelo pão e pelo fim da guerra, as quais contribuíram para construir a Revolução Socialista. Clara Zetkin, militante do Partido Comunista Alemão, já havia proposto em 1910, durante o II Congresso da Mulher Trabalhadora, a necessidade de ser criado um dia em homenagem à luta das mulheres. Foi decidido realizar o primeiro Dia Internacional da Mulher em 19 de março de 1911. Em 1913, a comemoração foi transferida para 08 de março.
O Oito de Março é o dia que comemora a história de luta das mulheres em todo o mundo, uma luta por dignidade, igualdade de direitos e salários, e também por uma sociedade justa e igualitária.
Hoje, no Brasil, as mulheres recebem os piores salários e estão submetidas às piores condições de trabalho. As terceirizações atingem principalmente as mulheres, em funções semelhantes ao serviço doméstico: são faxineiras, cozinheiras, crecheiras, cuidadoras, copeiras, auxiliares de enfermagem e outras funções subalternas.
O desemprego atinge principalmente as mulheres, as primeiras a serem demitidas, pois podem engravidar e “onerar” a empresa. Ainda se considera que o salário da mulher é complementar ao do homem, quando, de fato, muitas mulheres são hoje a única fonte de renda da casa e sustentam as famílias mais pobres. A situação se agrava para a mulher negra, que recebe os salários mais baixos do país e realiza os trabalhos mais precários.
As medidas de ajuste, adotadas desde o governo Dilma, atingem frontalmente as trabalhadoras, que têm mais dificuldade em conseguir o seguro desemprego e restrições à pensão por morte do marido. No governo Temer, o congelamento por vinte anos dos gastos públicos prejudicará setores já combalidos como a saúde e a educação. A retirada de direitos trabalhistas e a proposta de reforma da previdência atingirão em cheio as trabalhadoras, cuja idade mínima para aposentadoria passará para 65 anos, mesma idade dos homens. Alega-se que as mulheres vivem mais que os homens, sem considerar as múltiplas jornadas enfrentadas por elas no seu dia a dia.
A legalização do aborto continua um tabu e enfrenta retrocessos no Congresso Nacional, com a proposta do Direito do Nascituro, que pretende criar obstáculos para que as vítimas de estupro possam abortar. Querem criminalizar os profissionais de saúde que assistem as mulheres nesses casos e proibir a distribuição da pílula do dia seguinte para as vítimas, ignorando que o aborto clandestino é a quarta causa de mortalidade materna no país.
As mulheres continuam sendo submetidas a várias violências cotidianas: a violência doméstica, caracterizada por agressões físicas e psicológicas, estupros e muitas vezes feminicídio, o assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho, o abuso cotidiano dentro dos transportes coletivos, a cultura do estupro. O patriarcado e a consequente opressão das mulheres é milenar e antecede em muito o capitalismo, mas este sistema aumenta a exploração das mulheres, colocando-as em situação de inferioridade. Por isso, as comunistas afirmam que a luta pela igualdade das mulheres passa pela luta contra o capitalismo.
Somente numa sociedade sem exploração, a sociedade socialista, mulheres e homens poderão se emancipar de todas as opressões e da dominação de classe, gênero e raça/etnia
O Dia Internacional de Mulher traz à luz a coragem de grandes feministas e comunistas que sacrificaram seu trabalho, sua família e suas próprias vidas na luta pela dignidade de todas as mulheres e pela emancipação humana. Deve, também, nos lembrar das dificuldades diárias de nossas companheiras, amigas, mães, irmãs e de todas as mulheres da classe trabalhadora, nos mostrando que ainda há muito a se fazer, nos fortalecendo para nos organizarmos coletivamente e darmos continuidade a essa grande batalha.