Brasil: um país sem futuro
Grande parte da nossa juventude é pobre, desempregada, morre vítima da violência, compõe a imensa maioria da população carcerária, não possui saneamento básico e seu nível de escolaridade é medíocre
Durante décadas o Brasil foi apontado como o país do futuro. Infelizmente essa não é mais a realidade. Ao cruzarmos os dados da pobreza, da violência, da carência do ensino, da falta de qualificação profissional, do desemprego e da falta de saneamento percebemos que os governantes estão enterrando o presente e acabando com o futuro.
Das crianças e adolescentes de até 17 anos 44% vivem na pobreza, ou seja, tem renda de até meio salário mínimo. São mais de 11 milhões de pessoas. A situação é crítica porque desses 44,% uma boa parte vive em situação de extrema pobreza, o que significa renda de um quarto de um salário mínimo. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 26,72% dos jovens de até 17 anos viviam com até meio salário mínimo mensal, enquanto 18,5% com apenas metade dessa renda. A região que possui o maior e pior índice é o Nordeste, onde 66,7% das crianças e adolescentes de até 17 anos vivem na pobreza e na extrema pobreza.
Tantas dificuldades se apresentam em várias facetas dessas pessoas de renda diminuta. Assim, das famílias que possuem crianças de até 14 anos em casa, que são cerca de 47% do total do país, pouco mais da metade tem todos os serviços de saneamento necessários, aí entendidos como banheiros nas casas, acesso à rede de esgoto, água potável e coleta de lixo.
Essa pobreza é determinante para a escolaridade, pois a faixa de renda familiar influi na frequência escolar, conforme vemos na tabela abaixo:
Participação percentual na frequência escolar em nível nacional
Faixa etária |
0 a 3 anos |
4 a 6 anos |
7 a 14 anos |
15 a 17 anos |
Famílias com até ½ salário mínimo |
18,5% |
77,1% |
universal* |
78,4% |
Famílias com mais de 3 salários mínimos |
46,2% |
98,8% |
universal* |
93,7% |
Afonso Costa*
Fonte: Agência Brasil
A consequência é brutal para o país e se reflete diretamente no nível de educação. Tanto isso é verdade que apenas 13,9% dos jovens, ou seja com até 24 anos, estão na universidade. Na mesma faixa etária apenas 36,8% possuem o Ensino Médio completo. Somados os dois vemos que metade da população brasileira de até 24 anos, aproximadamente 18 milhões de pessoas, sequer possui o Ensino Médio completo, o que acarreta problemas de sobrevivência, com decisiva influência na qualificação profissional e na violência.
Em suma, dos jovens entre 18 e 24 anos apenas 37,9% possuem 11 anos de estudos, o que demonstra grande atraso já que a idade certa para completar a educação básica é aos 17 anos, considerando-se as crianças que entram na escola na época correta. Cabe destacar que o nível de escolaridade não se traduz necessariamente em qualidade: aproximadamente um milhão e trezentas mil crianças matriculadas em escolas entre 8 e 14 anos de idade não sabem ler nem escrever.
Entre os brasileiros com idade superior a 25 anos mais de 50% possuem menos de oito anos de estudos, sequer completaram o ensino fundamental.
Violência
A falta e as dificuldades nos estudos se refletem no emprego e na própria vida desses jovens. Dessa feita, 15% dos jovens entre 15 e 24 anos estão desempregados, quando a média nacional é de cerca de 6%. Isso considerando-se o absurdo critério utilizado pelo IBGE, que não leva em conta o desempregado quem está há mais de 90 dias sem procurar trabalho. Quer dizer, as pessoas estão desempregadas, não tem dinheiro e sequer estímulo para procurar trabalho, então não entram nas estatísticas. Simples! Cada um faz o quer com os números, principalmente agradar aos governos de plantão e à elite.
Diante desse quadro os marginalizados, literalmente à margem da sociedade, apenas vagam pelo país, muitos imersos na marginalidade: cerca de dois milhões e quatrocentos mil jovens não estudam nem trabalham, estão abandonados pelo Estado.
Obviamente que as dificuldades advindas da pobreza e da extrema pobreza, do baixo nível escolar, do desemprego e dos reduzidos salários, das condições precárias nos domicílios tem consequências inadmissíveis: o país possui aproximadamente meio milhão de pessoas nas penitenciárias, das quais cerca de 80% são jovens de até 24 anos. Além, disso, a maior causa morte da juventude é a violência: nas famílias abastadas por conta do trânsito; nas de menor renda principalmente por assassinatos, mas também por suicídios. Entre os negros os dados são mais aterrorizantes, pois em 2002, morriam proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos, já em 2008 o índice atingiu 127,6%, mais do que o dobro. E os rapazes são as maiores vítimas, já que para a mortalidade de duas pessoas do sexo feminino existe a mortalidade de oito do sexo masculino, em uma tendência crescente, pois em 1980 essa relação era bem menor.
Anualmente morrem 51 mil pessoas no país, dos quais 40 mil são homens. Desse total 18.500 são rapazes de 15 a 24 anos, a imensa maioria assassinada. São 60 jovens que falecem por homicídio a cada dia.
O Brasil é o segundo país em desigualdade no mundo e os dados indicam que essa situação ainda prevalecerá por anos. Se nada for feito com a máxima urgência nossa juventude está fadada a perder a melhor fase da vida e até mesmo a própria vida.
Karl Marx anteviu ainda no século XIX a situação em que a sociedade se encontraria caso perdurasse o mesmo sistema de produção, ou seja o capitalismo. Diante dessa constatação colocou as opções que se apresentavam e que infelizmente ainda se apresentam: socialismo ou barbárie? Lamentavelmente estamos caminhando e já em parte vivendo a barbárie.
*Afonso Costa é Jornalista