Ditadura nuca mais: vote Boulos!

imagem Gosto do Boulos, mas estamos diante de uma ameaça séria de fascismo. E agora?

Marília Moschkovich*

MEDIUM

Parece que muita gente ficou impressionada com o debate na Globo, e consideram agora votar no Boulos no primeiro turno. Porém, como fazer com o medo do avanço do fascismo e do fascista? Acompanhem aqui uma observação fundamental sobre o voto útil no primeiro turno.

1) Tirando Bolsonaro de uma possível vitória em primeiro turno

Para ter segundo turno basta que o Bolsonaro não chegue a 50% dos votos válidos. Para contribuir com isso, basta seu voto ser válido, e em qualquer outro candidato.

É um princípio simples da estatística: quando você dá um voto válido em qualquer outro candidato que não o Bosto, você aumenta o total de votos válidos, diminuindo o quanto cada voto dele representa percentualmente do total. Até aqui tudo certo? Certo. Então seguimos.

2) Ciro, Haddad e campanhas de segundo turno

Temos dois candidatos cujas campanhas têm mais recursos, dinheiro, tempo de TV, etc. que estão disputando entre si um segundo lugar – Ciro e Haddad. É importante aqui mencionar que são campanhas com bastante estrutura, e não vou entrar agora na discussão do por quê dessas campanhas terem tanta estrutura. O que eu quero apontar é que ambas têm estrutura e ambas NÃO são, pra usar as palavras do nosso cupcake favorito, “50 tons de Temer” (e nem são fascistas).

Diminuir os votos em Bolsonaro mas aumentar o total de votos válidos (ou seja, votar em qualquer um que não Bolsonaro) ajuda um desses dois candidatos – Ciro e Haddad, mais provavelmente Haddad – indiretamente a irem para o segundo turno. No segundo turno, ambos têm coalizões, estrutura, grana, etc. para fazer uma campanha forte (se quem coordena as campanhas for esperto, acho até que dá mesmo pra ganhar do Bosto).

3) Após as eleições a luta vai ter que continuar

Infelizmente, nós já estamos tendo bastante demonstrações de que, mesmo que Ciro ou Haddad ganhem, vamos passar por momentos turbulentos. O judiciário já está de novo com as garrinhas pra fora salivando, o Moro e Cia. já estão demonstrando que não vão sossegar, o Congresso que será eleito muito provavelmente será tão ou mais conservador quanto o de 2014 (o que significa atrocidades ainda maiores), e a crise entre os poderes só tende a se acirrar neste momento. Para nós que somos militantes, ativistas, LGBTs, feministas, comunistas, socialistas, o que isso significa?

Significa que teremos trevas adiante, e que o único jeito de vencê-las é passar por elas e fortalecermos nossa luta, resistindo juntos.

Mas o que isso tem a ver com o voto do primeiro turno no domingo?

4) Fortalecendo a resistência (e o voto é parte disso!)

Bem, não sei de vocês sabem, mas há pouco tempo tivemos uma reforma grande no processo eleitoral. Por isso este ano e em 2020 temos regras diferentes e tal. Uma questão muito séria dessa reforma foi um lance chamado “cláusula de barreira”.

Com essa regra, fica muito mais difícil para partidos menores, que não tem grana/estrutura/apoio privado, etc. existirem. Marielle, por exemplo, poderia nem ter condições de ser candidata e fazer campanha num contexto desses. Partidos como o PCB e o PSOL correm o risco de desaparecer completamente da disputa em vários locais a partir de 2018, já que com a tal cláusula não receberiam mais fundo eleitoral de campanha (financiamento público), entre outros problemas.

Ou seja;

Esta é a hora de fortalecer nas urnas também os partidos menores, que representam essa resistência para além das eleições com sua atuação nas ruas, nos movimentos sociais e no legislativo!

5) Mas e o executivo e voto para presidente, o que tem a ver?

Para fortalecer essa resistência, além de votar nesses partidos para o legislativo (isso é fundamental nestas eleições), é essencial fortalecer o projeto, o programa e as ideias que estão representadas numa candidatura como a de Boulos.

Quando fortalecemos nas urnas uma candidatura, ainda que ela não seja eleita, isso tem efeitos concretos nas próximas disputas, sobretudo quando a campanha é feita na unha pela militância e não dispõe de recursos (e com a cláusula de barreira provavelmente as próximas disputas eleitorais terão PSOL e PCB ainda mais apagados e com menos recursos ainda).

6) A utilidade de votar em Boulos no primeiro turno: resistência ao fascismo

Tudo isso pra dizer e explicar que:

Quando vc usa o primeiro turno para votar no Boulos, está sendo útil de duas formas:

a) não deixando Bolsonaro ficar com mais um voto e aumentando a quantidade de válidos;

b) fortalecendo uma candidatura e um programa que você de fato acredita; esse programa e as ideias que ele representa precisam nesse momento de muita força para além da eleição, pois os tempos que virão mesmo sem Bolsonaro na presidência serão bem duros, e quanto mais fortalecermos as ideias que a candidatura do Boulos representa, melhor.

Por isso, se você assistiu o debate ontem e seu coração balançou ouvindo o Boulos defender as ideias que construimos juntos, e junto a milhares de brasileiras e brasileiros na Povo Sem Medo, no MTST, na base do PSOL e do PCB:

Se você acredita nesse programa, nessas ideias, fortaleça conosco no primeiro turno.

Todo voto válido em Boulos é útil, tanto para que Bolsonaro não ganhe no primeiro turno, quanto para as lutas que virão (e dessas sim dependerão nossas vidas).

*Socióloga, escritora, poeta, feminista, comunista, relações livres.