A vitória de Bolsonaro e a estratégia imperialista na América Latina

imagemPor Antonio Lima Júnior*

A vitória eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) no último 28 de outubro inicia o cenário de consolidação da extrema-direita na política brasileira, tendo uma bancada parlamentar mais reacionária que antes, com propostas que visam não somente a continuidade do governo Temer (MDB) de retirada de direitos da classe trabalhadora, mas a sua atomização ao desmantelar suas organizações, tarefa sob a qual o fascismo encampou no século passado.

O protofascismo brasileiro carrega consigo elementos tradicionais do fascismo, com uma amálgama ultraliberal, na perspectiva de entregar nossas riquezas de bandeja para o imperialismo, visto que sua consolidação é consequência direta dos interesses da burguesia internacional e de sua intervenção na política do país, com o fim dos governos progressistas na região da América do Sul e a construção de governos reacionários e liberais.

Vemos que a estratégia dos EUA nesse momento é esmagar a resistência da Venezuela como um país que não se submete aos monopólios ianques. Para isso, tem isolado os apoiadores de Maduro, derrubando os governos progressistas no entorno e neutralizando o governo Cubano e setores como as FARC na Colômbia, através de acordos de paz no estilo fake news. Por trás do discurso de combate ao “ditador” Maduro, há o interesse de privatizar as reservas de petróleo da Venezuela e para isso a Colômbia já tem ameaçado a possível declaração de guerra, tendo apoio de países como Brasil, Chile e Argentina.

As eleições brasileiras marcam o próximo cenário de instabilidade na região, com um governo que estará alinhado aos interesses ianques, podendo dificultar as relações do Mercosul. Não à toa que Bolsonaro, após a vitória, confirmou que viajará para os EUA e Israel ainda esse ano, além do Chile, país este que enviou dois parlamentares de direita para o apartamento de Bolsonaro semanas atrás, numa espécie de bilateral.

Esse caráter ultraliberal e conivente com o imperialismo trará muitas dificuldades para a oposição, acrescentando os elementos fascistas com a consolidação daquilo que está conhecido como bolsominions, um exército de seguidores da liderança na imagem de Bolsonaro, estando de prontidão para servir e denunciar, tendo um congresso que dará as leis e o norte para esse exército acéfalo iniciar a caça às bruxas. Políticas como a do Escola Sem Partido são exemplos de como esse governo agirá dentro e fora da institucionalidade, alegando não ter poder de interferência na ação de seus seguidores.

Diante disso, o primeiro ano de governo do Bolsonaro será essencial para entender como se dará sua política de gestão, buscando consolidar sua popularidade e varrer aquilo que chamam de “bandidos vermelhos”, colocando na ilegalidade movimentos sociais e partidos da esquerda socialista. Até lá, é importante a cautela para não legitimar o discurso da perseguição, assim como fez Hitler em 1933 com o incêndio do Reichstag, pondo a culpa nos comunistas. O momento urge para a construção do diálogo com todos que participaram do processo eleitoral na campanha contra a eleição de Bolsonaro, construindo uma frente ampla e democrática, fortalecendo os setores da esquerda socialista e a importância de organizar-se para os próximos períodos.

É a partir dos primeiros movimentos do governo no próximo ano que teremos caldo para concentrarmos naqueles que votaram em Bolsonaro acreditando na mudança, mostrando os erros deste governo, apontando o caminho correto na construção de uma alternativa socialista e na solidariedade entre os povos, contra a perseguição e a implantação de uma política internacional xenofóbica que deverá atacar o povo venezuelano. Com o discurso reacionário, a entrada de militares na gerência do estado brasileiro (algo que não vimos desde o fim da ditadura militar) e o aval de um congresso conservador, Jair Bolsonaro pode levar o Brasil a uma falsa encruzilhada, atendendo aos interesses do capital estrangeiro para gerar uma tragédia pior que a Guerra do Paraguai em 1864, sendo agora no caso uma verdadeira farsa.

Tal como na experiência da Guerra da Coreia em 1950, a esquerda socialista tem o papel de denunciar a farsa dessa cruzada contra o povo venezuelano, lutando pela paz e pela solidariedade entre os povos. Ao saudar as eleições brasileiras, Maduro busca reafirmar a necessidade dessa política de unidade bolivariana, sem cair nas provocações do imperialismo, que busca em todo momento colocar a imagem de ditadura no governo da Venezuela. A paciência revolucionária de Lênin nos mostra que é preciso ter muita cautela para os cenários que virão, sem cair no discurso da burguesia e buscando consolidar a alternativa socialista para nos guiar longe da barbárie que o capitalismo quer nos jogar.

*Jornalista e militante do PCB

Publicado originalmente em http://jornalismoproletario.blogspot.com/2018/10/o-28-de-outubro-de-jair-bolsonaro-e.html


Antonio Lima Júnior

Poeta ( http://subversinhos.blogspot.com.br/ )
Jornalista formado pela Universidade Federal do Cariri (UFCA)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9042163172727195
Responsável pelo jornal O Poder Popular (Ceará)
Coletivo Cultural Vianinha
Partido Comunista Brasileiro (PCB)