Entrevista exclusiva com Joaquín Pérez Becerra, diretor da ANNCOL preso em La Picota, Bogotá


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Joaquín Pérez, diretor da ANNCOL, uma agência tão odiada que o Estado colombiano é capaz de correr o risco de ser repudiado pelos Estados de Direito do mundo por ter  a obsessão dee calar as vozes e a oposição política no exílio. Por isso está sendo processado Joaquín Pérez, refugiado político colombiano, mas cidadão sueco desde o ano 2000. Até agora, nem as autoridades venezuelanas, nem as colombianas, e muito menos as autoridades suecas, mostraram a suposta “Circular Vermelha” da Interpol para sua captura.

Relata como a acusação constrói falsas provas utilizando a Rede de Informantes em Estocolmo, criada por Ernesto Yamhure, diplomata expulso da Suécia e assessor político de Carlos Castaño. A meta é calar a oposição no exterior.

Momento atual de uma injustiça

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JOAQUÍN PÉREZ BECERRA, REFUGIADO POLÍTICO colombiano com residência permanente na Suécia desde 1994 – onde foi nacionalizado no ano 2000 – e diretor por 15 anos da Agência de Notícias Nova Colômbia, ANNCOL, foi detido quando chegou em Caracas em 21 de abril deste ano e foi entregue às autoridades colombianas em 25 de abril. Ele conta na seguinte entrevista que, até agora, nenhuma autoridade venezuelana nem colombiana mostraram qualquer Circular Vermelha que justifique sua prisão. Todavia, esse foi o pretexto alegado pelas autoridades venezuelanas para entregar o cidadão sueco ao Estado terrorista da Colômbia. Com isso foi confirmado que Chavez caiu na armadilha de Santos [1].

Os supostos 700 arquivos em formato Office Word “encontrados” no laptop do comandante guerrilheiro Raúl Reyes, morto num bombardeio em 1 e março de 2008, reduziram-se a apenas quatro arquivos. Contudo, estes arquivos já não servem para seu julgamento por decisão da Corte Suprema de Justiça da Colômbia.

Cabe perguntar-se, então, quais são as acusações contra Pérez, que teve que fugir do terrorismo de Estado com o aval e respaldo de seu partido, a União Patriótica e do Partido Comunista Colombiano, organizações políticas na Colômbia vítimas  do genocídio político instalado há tantas décadas. Pérez foi conselheiro pela UP, agora a promotoria concentra suas acusações contra ele por ter sido representante da Agência ANNCOL.

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Ernesto Yamhure, (à direita), assessor político de Carlos Castaño, é también cúmplice do genocidio ao movimento popular colombiano que a acusação colombiana calcula somar 150.000 assassinados. Todos os jornalistas na Colômbia sabiam que Yamhure estava a serviço das AUC, mas mesmo assim, veículos como Caracol Radio, El Espectador e Radio Super o contrataram como colunista em seus veículos.

TÃO POBRE TEM SIDO A ACUSAÇÃO e as supostas provas contra Pérez, que os agentes do Estado colombiano viajaram a outro ponto do planeta, indo buscar provas no país nórdico. Encontraram um senhor na colônia colombiana, supostamente integrante desta Rede de Informantes chamada por Uribe de “Rede dos 100.000 amigos da Colômbia no Exterior”, fundada e dirigida por Ernesto Yamhure, primeiro secretario da embaixada colombiana em Estocolmo até ter sido desmascarado e também flagrado como espião, tendo que ser retirado do posto por Uribe.

Em setembro passado foi denunciado [2] Yamhure, não apenas por ser assessor político de Castaño [3], mas também por ser ghostwritter de Carlos Castaño, chefe dos Esquadrões da Morte, responsável, segundo a mesma acusação, de ter assassinado mais de 150 mil colombianos civis. A “testemunha chave” que a acusação colombiana encontrou na Suécia é um dos tantos colombianos civis no exterior que se venderam ou que teriam recebido diretamente a tarefa do Estado colombiano de informar sobre a oposição política fora da Colômbia, neste caso, na Suécia.

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“LIBERDADE AOS PRESOS POLÍTICOS NA COLÔMBIA”,  entre eles Mercedes Úsuga, 75 anos e líder comunista na região bananeira de Urabá, mulher e veterana na luta política por toda uma vida. Depois de três anos no presídio Bom Pastor, em Bogotá, foi libertada “sem méritos”. À esquerda, Joaquín Pérez junto com os colombianos refugiados na Suécia que se manifestam no centro de Estocolmo.

FOTO: DICK EMANUELSSON.

 

JOAQUÍN PÉREZ BECERRA, RESPONDEU a uma série de perguntas escritas que lhe enviamos e ora apresentamos nesta reportagem. Através de suas palavras nos damos conta que temos um entrevistado até o momento indecifrável, sua força é o que permite enfrentar esta situação tão difícil como complexa.

DICK EMANUELSSON: Como foram seus primeiros momentos na ocasião da captura e em que consistem as acusações que recaem sobre você? Temos lido na imprensa colombiana que a agencia de noticias ANNCOL agora está no centro dos questionamentos.

– Depois da legalização da minha captura, imediatamente me enviaram à Prisão Modelo, onde estive desde 25 de abril até 7 de julho. No dia 8, transportaram todo mundo que estava comigo e nos levaram para La Picota. Aqui estou em uma torre de alta segurança que se chama la Gerón, onde convive um amplo espectro de pessoas detidas, dentre as quais narcotraficantes, membros de grupos armados, paramilitares, gente de alta periculosidade, e lá me colocaram.

– Segundo a acusação, a agência Anncol é uma agencia das FARC, coisa que sabemos ser falsa. Eles disseram “então, o sujeito é guerrilheiro” e me puseram, na Modelo em uma outra torre de alta segurança, assim como esta, em La Picota.

– A primeira acusação no momento da prisão foi de formação de quadrilha, agravada pela acusação de financiamento e administração de bens do terrorismo. Registraram que pertenço a uma agencia das FARC e é assim que fazem este tipo de acusações.

DE: Omitiram que a agência Anncol está reconhecida, estabelecida nos países nórdicos, que além disso tem registro nas empresas de internet e que já tem mais de 15 anos de trabalho absolutamente normal nestes países.

– JPB: Não levaram em conta porque durante o governo de Uribe e um pouco antes, mas sobretudo durante este mandato, prepararam uma estratégia para demonizar, satanizar a Anncol, a Radio Café Stereo e a Associação Jaime Pardo Leal. Logo veio a Operação Fénix que matou Raúl Reynes e diz que encontraram os supostos computadores. Tendo em conta esses computadores, tentam justificar, pelos e-mails investigados, que a agência é das FARC, o que não é verdade.

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QUANDO PÉREZ FOI DETIDO e levado para a Colômbia, o diario El Tiempo de Colômbia transmitiu e publicou fontes da inteligência militar onde constava que Pérez havia enviado mais de 700 e-mails a Raúl Reyes. Logo baixaram esta considerável cifra a 200 e, mais adiante, liberaram um arquivo de mais de 10 Mb onde figuravam trocas de e-mails entre pessoas dos países latinoamericanos e Reyes.

A última data destes e-mails é de 12 de setembro de 2007. No total aparecem quatro (4) e-mails de Pérez, supostamente enviados a Raúl Reyes.

JPB: – Não sabia sobre o arquivo (de 10 Mb), mas é evidente que a acusação o tem. Na audiencia anterior para indiciamento das acusações eles apresentaram como provas estes supostos 700 e-mails de Raúl Reyes. Mas você debe saber que em uma sentença da Corte Suprema de Justiça, no caso do senador Wilson Borja, a corte declarou que estes documentos encontrados no computador não tinham validade porque se havia violado a cadeia de custódia. A Corte Suprema de Justiça negou as provas encontradas e as invalidou. Não há sentido em continuar falando sobre isso.

DE: Também falaram algo sobre os supostos computadores de Mono Jojoy e Alfonso Cano?

JPB: – Você sabe que o povo colombiano não acredita muito nas atividades nem na seriedade das forças militares. Aos supostos computadores também vincularam o meu nome, mas você sabe, sabendo que as afirmações militares não são claras nem transparentes, esas acusações podem cair muito facilmente.

– Assim é a vida das forças militares na Colômbia: falta transparência, seriedade e credibilidade, porque em um país onde se plantam provas, um país onde se assassina pessoas e as vestem com uniformes guerrilheiros, onde promovem massacres, é um país que não tem muita credibilidade e as coisas podem cair muito facilmente.

– De todo modo a acusação trata de utilizar de tudo contra os lutadores sociais, os comunicadores sociais, como é meu caso, pois são coisas fáceis de se refutar em uma audiência posterior.

DE: O ponto central da promotoria nas acusações contra você considera a Anncol, a Radio Café Stereo e a Associação Jaime Pardo Leal como praticamente um ninho de terroristas no exterior?

JPB: – É mais ou menos o que se pode interpretar. De todas as formas eles seguem com a história dos documentos. Sabemos que não são documentos eletrônicos os encontrados nos computadores de Reynes, onde aparecem e-mails que uma pessoa envia e outra recebe. São documentos Word que ninguém sabe de onde vêm. Por isso é que eles continuam se baseando nestes supostos computadores e nas supostas comunicações para tratar de imputar outra acusações como o financiamento, o terrorismo, coisas que são absolutamente falsas.

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ANNCOL não parou um só dia desde que foi preso seu diretor, em 21 de abril de 2011.

A PRÓXIMA AUDIÊNCIA EM JUÍZO contra Joaquín Pérez se realizará em 15-16 de fevereiro do próximo ano, ou seja, dentro de menos de dois meses.

DE: Tenho ouvido que a acusação foi para Estocolmo para obter testemunhos. Falaram com o senhor Miguel Ángel Andolín Estrada, considerado pelo exílio colombiano em Estocolmo como um delator a serviço justamente da rede do senhor Yamhure.

JPB: – Me dá a impressão de que a Corte Suprema considera nulos os supostos documentos Word apreendidos na operação Fénix contra Raúl Reyes. A acusação entende que este procedimento vai fracassar, então começa a se movimentar. Você sabe que no país, desde o governo de Uribe, um pouco antes também, porém sobretudo desde o governo Uribe, se instalou a compra de declarações, a chantagem, as acusações. Tem gente que é paga para acusar, e logicamente assim pareceram ser aqueles que supostamente me conheciam.

– Então aparece um senhor, Miguel Ángel Andolín Estrada, personagem que chegou há alguns anos em Estocolmo e começa a tomar contato com as organizações solidárias que existem na Suécia e a conhecer a Associação Jaime Pardo Leal. Agora aparece como testemunha, não chave, mas testemunha; a acusação lhe pregunta sobre minha vida em 12 de junho deste ano. Ele afirmou uma série de incoerências sobre minha vida em Estocolmo.

– Ele disse que nós pertencíamos à cúpula das FARC, que a Anncol, a Radio Café Stereo, somos uma agência de noticias deles, baseando-se no fato de que, como nas nossas programações não temos propaganda, haveria o argumento de que  somos uma agência da FARC.

– Logo este senhor acrescenta que eu era membro da Juventude Comunista Colombiana (JUCO) quando eu nunca fui membro dessa organização nem estive em nenhum evento com eles. O que posso afirmar é que pertenci e continuo tendo muita simpatía pelo Partido Comunista em Bogotá. É ali que me formei e não tenho porque negá-lo. Fui conselheiro pela União Patriótica e pelo PCC antes de ter que sair da Colômbia por conta de ameaças de morte.

– Este senhor Andolín disse que havia se encontrado comigo em Bogotá e que eu lhe havia dito que me integrara às FARC, o que é uma tremenda loucura. Isto foi feito com o objetivo de me envolver, pois é este o desejo da acusação, para não me deixar sair da prisão. Quando viram que a respeito dos computadores de Reyes não teriam sustentação, e assim afirmou muito bem a Corte Suprema, começaram a inventar outras situações.

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Uma festa típica e pública na sede da Associação Jaime Pardo Leal, onde muita gente vai para se divertir. As atividades não violam nenhuma lei, nem na Suécia nem em outro país. Foto: Dick E.

DE: Este senhor Andolín Estrada estava ligado à Associação, tinha sido integrante da Anncol, alguma vez participou das transmissões do Café Stereo?

JPB: – Não, pelo que eu saiba este senhor não era membro da Associação Pardo Leal, nem da Anncol, nem da Radio Café Stereo. Este senhor chegou lá (na Suécia) com uma história de que havia trabalhado nas FARC, que depois haveria saído de lá e que partiu, não sei se com ajuda da Cruz Vermelha ou da ACNUR, para Estocolmo, onde lhe deram refúgio. Mas não sei muito, por isso foi uma surpresa para mim. É evidente que a acusação diz “temos que buscar alguém que se ponha a falar sobre Joaquín Pérez a fim de envolvê-lo com estes fatos e evitar que saia às ruas, lugar onde deveria realmente estar”.

DE: Este senhor Andolín Estrada é conhecido na Colômbia nas organizações sociais? Alguma organização colombiana de direitos humanos, a UP ou o PCC deu aval para que se refugiasse no exterior?

JPB: – Não, desconheço, não soube que o conheceriam.

TENDO EM CONTA A DECLARAÇÃO do senhor Andolín Estrada, testemunha da acusação contra Pérez, há de se observá-lo em seu contexto político e no quadro da criação da Rede de Informantes, dos “100.000 amigos da Colômbia no Exterior” criada por Uribe quando assumiu a presidência em agosto de 2002.

Era, sem dúvida, de vital importância tanto para o governo de Andrés Pastrana (1998-2002) como de Uribe (2002-2010), que em Estocolmo existisse tal rede de espiões contra uma colônia de exilados muito bem organizados. Esta colônia tem sua própria organização, intocável para a embaixada colombiana, e que tem feito grandes trabalhos de solidariedade e de informação sobre o genocídio que o Terrorismo de Estado comete na Colômbia.

Pois não é nada estranho que ali se crie esta rede de informantes e que o DAS, Departamento Administrativo de Segurança, a política política de Uribe, enviasse seus agentes para criar a rede na capital sueca.  Agora temos uma parte do balanço de como os agentes do DAS e os delatores locais da Rede operaram em diferentes países europeus sob a sombra da “OPERAÇÃO EUROPA”, muito bem relatado pelo jornalista e escritor colombiano Hernando Calvo Ospina [4], um exilado desde os 25 anos em Paris, França. A espionagem foi efetuada tanto na Suécia como na Bélgica, mas também na Espanha [5].

Em 3 de fevereiro de 2008, a embaixada colombiana em Estocolmo organizou uma manifestação contra as FARC na Praça de Sergels Torg. Foi a estréia pública da Rede de Informantes na Suécia. O organizador da rede, homem invisível e já aposentado em 2008, foi o primeiro-secretário, 2004-2005, da embaixada colombiana em Estocolmo, Ernesto Yamhure.

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ESTE É UM SINISTRO PERSONAGEM que em 25 de julho foi desmascarado como espião, quando fotografava uma manifestação pacífica e pública no porto de Estocolmo, quando ancorou o navio Gloria da marinha colombiana.

Yamhure foi chamado pela policía de imigração, acusado de espionagem contra refugiados políticos, um delito no país escandinavo. Foram tão grandes as pressões contra o “diplomata” de Uribe nos meios de comunicação suecos, que Uribe se viu obrigado a retirá-lo.

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O informe do DAS-G3, ou seja, informe da Rede de Informantes em Estocolmo, certamente enviado por Yamhure a seu chefe Jorge Noguera em Bogotá, no qual se informa sobre a manifestação dos exilados em Estocolmo na chegada do navio Gloria da marinha colombiana. O comunicado é enviado em 8 de agosto de 2005 e consta na página 124 do processo de que foi vítima o jornalista e co fundador da Anncol, Dick Emanuelsson, um dos seis grandes jornalistas na Colômbia que foram vítimas do terrorismo do DAS-G3.

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Mas a história não termina aqui. Em setembro passado também foi desmascarado como “Ghostwritter” do chefe dos paramilitares colombianos, Carlos Castaño. Tanto a Caracol Radio como o jornal El Espectador, e até mesmo o sinistro fascista Fernando Londoño, da Radio Súper, o tiraram de seus quadros como colunista. Não sabemos se a revista mensal do Exército Colombiano também o retirou, porque foi ali que acusou  [6] a Anncol, Radio Café Stereo e este repórter, de estar a serviço da guerrilha das FARC, acusação que agora a promotoria repete e legitima em suas ações contra Joaquín Pérez.

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Yamhure escreveu quatro páginas na Revista do Exército Nacional onde acusa este repórter, a Anncol, Radio Café Stereo, de serem das FARC. A mesma acusação faz agora a promotoria contra Joaquín Pérez. Que informação vem do assessor de Calos Castaño?

Que comentário teria Pérez sobre o fato de que Yamhure dirigia a rede de informantes e que a Promotoria colombiana chega na capital sueca e recebe imediatamente o relato de um personagem desta rede?

JPB: – Você sabe que a promotoria é o “centro do mundo” em meio às embaixadas. Eu me recordo que os companheiros (em Estocolmo) da Associação Pardo Leal, com os quais tenho contato e com quem falo às vezes, me contam que desenvolvem suas atividades em termos legais, que é uma organização que tem seu número de registro (pessoa jurídica) tal como ali é exigido. Jamais haviam tido qualquer tipo de problemas com as autoridades suecas, nem foram sequer mencionados à polícia para averiguar o que fazemos.

– Logo Uribe, através desta lei imoral que implementou, foi “comprando votos”, dando dinheiro para fabricar acusações não apenas na Colômbia mas também no mundo, por isso têm sido presos tantos lutadores colombianos. E utilizam como ferramenta essa gente sem princípios, sem consciência, que se vende por um peso, por um passaporte, por um visto para os EUA e produzem provas falsas, crimes e assassinatos.

– As provas falsas não se dão apenas no âmbito da luta armada, mas também são úteis para a política, para a justiça, em processo judiciais, como o meu, para inventar acusações e indiciamentos.

As palabras de Joaquín Pérez coincidem ironicamente com as da procuradora-geral da Nação, Viviane Morales, que disse ao jornal El Tiempo de hoje que a Promotoria pedirá a prisão do ex-comissário Luis Carlos Restrepo, por haver criado falsas provas quando criou uma frente guerrilheira fictícia para um posterior show midiático e promove uma guerra psicológica contra a guerrilha das FARC.

Ao ex-comissário couberam quatro acusações: peculato, fraude processual, formação de quadrilha e tráfico e porta de armas. Que credibilidade tem então os regimes de ontem e hoje quando o mesmo Juan Manuel Santos trabalhava para Uribe como Ministro da Defesa?

VOLTANDO AO DEPOIMENTO DA ACUSAÇÃO, para ninguém na colônia colombiana em Estocolmo é um segredo que este senhor tem forte atritos com a Associação porque um ex–presidente da mesma conquistou a mulher da testemunha da acusação. Poderia ser ese também um motivo de suas declarações contra Pérez? – perguntamos.

Você se encontrou alguma vez com ele, em alguma atividade pública na Associação?

JPB: – Eu o encontrei uma vez na escola, quando estudava informática e cooperativismo. Começou a farejar para ver o que fazíamos. Certamente, neste revés contra este ex–companheiro da Associação – porque ele já não está mais lá, ainda que seja um excelente companheiro – se disse que este rapaz conquistou sua mulher e ali surgiu todo o ódio contra toda a organização que agora manifesta publicamente, ainda que não diga, quando vem à organização e se comporta como informante para ganhar beneficios e destruir a Anncol e a Pardo Leal. Nunca o vi na Associação.

DE: Como jornalista da Anncol, alguma vez fez reportagens em alguma zona sob controle guerrilheiro?

JPB: – Não, nunca fiz ese tipo de trabalho, mas a agência tem correios eletrônicos abertos, como El Espectador, como El Tiempo, como qualquer agência de noticias, onde escreve muita gente, onde qualquer um pode mandar comentarios, comunicados, artigos. Essa seria a única relação jornalística que se pode ter com as FARC.

DE: Você nunca pode ter sido visto como um desmobilizado, desertor?

JPB: – É o que se pode pressupor. Como fez a acusação, no caso dos computadores de Reyes, imediatamente depois da sentença da corte, a ver quem poderia dizer que me conheceu. Buscam encontrar qualquer argumento que avalize o que querem que seja dito, seja por meio de desmobilizados, desertores, quem quer que seja, contanto que eu não saia daqui da prisão.

DE: Você sabe que em 15 de julho de 2005, quando o porto de Estocolmo fez uma manifestação contra o Terrorismo na Colômbia, quando da chegada do Navio Gloria, Yamhure fez espionagem contra os manifestantes. Logo teve que ser transferido quando se soube que se fazia de ghostwritter de Carlos Castaño, o que mostrou seus vínculos com o paramilitarismo. É um homem que foi colocado por Uribe neste cargo sem ter carreira diplomática. Que leitura você faz disso?

JPB: – O que ocorre é que o governo de Uribe criou tentáculos no exterior e tanto Anncol como Radio Café Stereo conseguiram muita simpatia na Europa e no mundo, chegando a muitas esferas sociais. Como estávamos com o aval dos governos e não violamos nenhuma normatividade, havia de mandar pessoas para fazer espionagem contra estas organizações, como foi o que ocorreu com Yamhure. Conseguiu juntar informações e mandou para Colômbia – ao governo e à acusação – para marcar o pessoal de Estocolmo e processá-lo. Mas foi desmascarada a raiz da ligação de Yamhure em um prólogo como assessor político de Carlos Castaño, personagem com inúmeros assassinatos coletivos.

– Londoño (Fernando, da Radio Súper) também recebeu a denúncia. Suas atuações como espião (Yamhure) em Estocolmo não tem nenhuma validade jurídica porque foram ilegalmente processadas, sem ter permissão para atuar. Hoje ninguém fala dele.

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Julho de 2011, quando os paramilitares, com complascência das autoridades do INPEC assassinaram 30 guerrilheiros desarmados na prisão La Modelo.

Foto: Dick E.

DE: Como você vê a Colômbia do horizonte carcerário? No exterior se fala desse país quando ocorre algum bombardeio a um acampamento guerrilheiro. Ou quando há algum fato especial com os prisioneiros detidos pela guerrilha, como a morte, há pouco tempo, de alguns desses.

JPB: O que posso perceber é que o cárcere é um reflexo da sociedade colombiana. O cárcere é uma pequena maquete do que acontece no país. Aqui você encontra pessoas vinculadas ao narcotráfico, vinculadas aos paramilitares, gente que esteve vinculada com a guerrilha, supostamente com a guerrilha das FARC, do ELN. Todos estes tipos estão aqui. Então é como se tivessem que abrir mais cem presídios a mais para, da ótica do governo, encarcerar todas as pessoas.

– Eu estou vendo, apesar do que dizem, que não só a insurgência armada está inconformada e mobilizada. Há lutas estudantis, lutas sociais, lutas das comunidades indígenas. Gestam-se novas modalidades de luta, as pessoas estão cansadas do que ocorre aqui. As pessoas estão exaustas e o reflexo disso é o que ocorreu na marcha do 6 de dezembro (contra as FARC). Vimos como as pessoas já não acreditam no governo de Santos. Na prisão se percebe perfeitamente esta situação, pode-se fazer análises mais precisas estando fora.

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O movimento estudantil colombiano de massas derrotou a Lei 30 e registrou uma vitória importante contra o governo neoliberal de Juan Manuel Santos, para defender a educação e a Universidade pública, direito dos filhos das classes populares.

Os paramilitares falam que estão decepcionados com os governos, se sentem usados e especialmente por Uribe, que os enviou a uma guerra contra o povo. Se sentem traídos. Eles vêem que se, por exemplo, se extradita um homem como Don Berna, que lidava com dinheiro e poder através do Estado e é enviado aos EUA, o que pode esperar um pobre colombiano que foi retirado de um pueblo, da selva, do campo e o mandaram com um fuzil no ombro a assassinar pessoas? Hoje estão aqui esquecidos e entendem que foram ferramenta de Uribe para obrigá-los a matar outros homens tão pobres quanto eles.

DE: A imprensa colombiana tem solicitado entrevistas contigo? Qual foi a resposta?

JPB: – Solicitaram-me, porém eu não tenho aceitado porque não acredito na imprensa colombiana. Não acredito nos jornais, na rádio, na televisão, os jornalistas carecem de objetividade, não são transparentes nem informam da maneira como deveriam. E mais, sabemos como tergiversam as noticias. Se acomodam ao regime, então tudo que lhes disser poderá ser usado contra mim. Não quis falar com nenhum.

DE: A solidariedade mundial na ocasião de sua detenção e entrega a Santos foi incrível, qual é sua mensagem a esta comunidade internacional e ao povo bolivariano?

JPB: – Olha, antes de tudo gostaria de dizer que estou muito triste pelo que ocorreu na Venezuela. Foi um incidente muito desafortunado do governo bolivariano. Eu jamais imaginei que aconteceria e isto eu quero dizer a todos os amigos da solidariedade internacional, que tenho ficado muito decepcionado com a atitude do governo bolivariano a que temos dado tanto apoio e seguimos apoiando. Fico pensativo, confuso, sobre o que possa estar ocorrendo ali. Eu não creio que dando beneficios, prebendas, presentes ao Império através do governo colombiano, vão conseguir impedir qualquer coisa contra o governo Chávez, se o pensam estão equivocados.

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Na Austrália manifestam-se pela liberdade de Joaquín Pérez.

– Creio que são concepções que haveria de analizar muito bem, os grupos ou movimentos que apoiam o governo para as próximas eleições, que estão muito complicadas para ele. Deveriam fazer uma análise profunda. O império não tem amigos, tem interesses. Os EUA, através do Caim da América, vai tratar de tragar o petróleo venezuelano, por todos os meios.

– Posso estar errado, mas não sei o que está pensando o governo de Chávez. Não sei se quer agradar o govenro de Santos, creio que foi uma política equivocada porque Anncol apoiou todos os processos, seja na Venezuela Bolivariana, o do Equador, da Bolívia, o de Kirchner, na Argentina.

– Portanto eu convidaría a comunidade internacional a fazer uma reflexão de solidariedade com a América Latina para que observasse detidamente o desenvolvimento do modo como está atuando o governo Chávez. Porque eu não entendo a razão por que eu, sendo jornalista, ao chegar no aeroporto de Maiquetía [Venezuela] logo tenha terminado aqui. Violaram-me todos os direitos, não me deram o tratamento que se dá às outras pessoas.

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Em Estocolmo e outra cidades no mundo, o clamor para a liberdade de Joaquín Pérez.

– O governo colombiano, a partir do ministro do interior, senhor Vargas Llera, disse: “O diretor da Anncol tem de ser expulso imediatamente para evitar uma extradição que levaria mais tempo”. Ou seja, me violaram todas as garantias existentes e por existir. Sabemos que existe o objetivo de fechar todos os meios alternativos para que não falem dos massacres, das falsas provas, dos informantes, do que acontece na Colômbia.

– As pessoas sentiram um golpe duro na ocasião da minha prisão, porque sem dúvidas pensaram que, se prenderam o diretor da Anncol, o que pode acontecer com outros jornalistas, comunicadores sociais, solidários com a Colômbia? É por este fato que as pessoas têm de se guiar para impedir que fechem a Anncol e logo as outras agências ou que silenciem os jornalistas.

DE: Você é militante do Partido de Esquerda sueco (Vänsterpartiet) que tem mais de 95 anos de história com representação parlamentar. Este partido se reúne em congresso em janeiro de 2012. Qual é sua mensagem para os delegados, militantes e à Direção Nacional para este congresso?

JPB: – Todo meu apoio, entusiasmo, que não se esqueçam que há um militante preso aqui. Que não se esqueçam que eu, durante toda minha vida na Suécia, tive contato com dirigentes dos partidos e com os jovens. Minhas saudações fervorosas a este congresso. Que sigam sua luta contra o neoliberalismo! Aqui há um militante  que necessita de seu apoio contra este governo fascista.

DE: Como tem sido a atuação da embaixada sueca em Bogotá?

JPB: ­– Eles têm vindo, têm me visitado, mas devem saber que preciso de algo mais do que atenção. Eu sou um cidadão sueco, prisioneiro político do terrorismo de Estado, necessito de mais respaldo jurídico. Não nego que venham me visitar, mas necessito que dêem um passo adiante para que eu possa regressar ao meu país, à minha segunda pátria. Sou um prisioneiro de opinião que necessita de um maior suporte. Também devem ajudar os seus cidadãos no exterior.

DE: Alguma vez você viu a Circular Vermelha que supostamente lançou a Interpol?

JPB: – Não, não a vi, ninguém pôde mostrá-la. Também não houve noticia desta circular na Suécia, não tenho nenhuma informação disso. Quando cheguei ao aeroporto de Maiquetía (Caracas), um homem da Guarda Nacional me fez a leitura da detenção. Eu tinha que de conhecer em detalhes o que foi que aconteceu para que me detivessem como fizeram.

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ASSIM TERMINAM AS RESPOSTAS ESCRITAS dadas pelo preso político Joaquín Pérez a este repórter, também co-fundador da ANNCOL junto com Pérez.

A busca da acusação e as intenções de encontrar novas “falsas provas” jurídicas neste caso parece que não tem limites: arquivos que não são correios eletrônicos, ou migrantes que por vingança pessoal e ódio contra um ex-integrante da organização dos exilados, ou declarações e informações baseados em boatos arquivados por um assessor político de Carlos Castaño, dificilmente podem ser elementos para condenar um homem que em 1994 saiu da Colômbia para salvar sua vida e que agora se encontra na prisão onde deveriam estar os autores intelectuais e materiais desta guerra suja que a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem considerado ser um “Genocidio Político”.

* Co- fundador da Anncol com Joaquín Pérez


NOTAS

[1Santos manda factura a Chávez y exige que extradite a colombiano que huyó de la Guerra Sucia en Colombia y que tiene ciudadanía sueca

http://dickema24.blogspot.com/2011/04/no-caigas-en-la-trampa-de-santos-chavez.html

[2La línea directa entre el jefe paramilitar y el diplomático de Uribe, 31 de agosto de 2011

http://anncolprov.blogspot.com/2011/08/la-linea-directa-entre-el-jefe.html

[3Ex diplomático Uribista en Estocolmo fue asesor político a Carlos Castaño que pagó por su trabajo. http://www.argenpress.info/2009/05/ex-diplomatico-uribista-en-estocolmo.html Miércoles 20 de mayo de 2009.

[4Espionaje internacional del gobierno colombiano: La “Operación Europa”, Por Hernando Calvo Ospina. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=104746

[5El espionaje de Uribe en España y en Colombia contra españoles

http://www.albatv.org/El-espionaje-de-Uribe-en-Espana-y.html

[6Articulo en la reevista del ejército nacional de colombia, mayo-junio 2010 de cuatro (4) páginas, escrito por Ernesto Yamhure, el asesor político del jefe paramilitar Carlos Castaño.HTTP://ES.SCRIBD.COM/DOC/63701393