Operador de Telemarketing: nada a comemorar, muito a conquistar
Em 4 de julho é celebrado o Dia Nacional do Operador de Telemarketing, uma das maiores categorias profissionais do Brasil, com mais de 1 milhão de trabalhadores no setor. Em sua grande maioria, é uma categoria formada por jovens, mulheres, negros e população LGBT.
Essa data comemorativa foi instituída no ano 2000 e, de lá para cá, o setor de teleatendimento, no mesmo ritmo das privatizações das telecomunicações, teve um crescimento absurdo, sendo responsável pela criação de uma vaga de emprego a cada quatro vagas geradas pela iniciativa privada. Chama atenção que o teleatendimento serve tanto para o primeiro emprego da juventude, quanto para aqueles trabalhadores com mais de 40 anos que não conseguem mais espaço no mercado de trabalho.
Outro ponto importante é que o ramo dos telesserviços são muitas vezes a “vanguarda”, ou seja, aplicam o que existe de mais moderno em tecnologia e nas relações de trabalho. Nós operadores sofremos muito antes de diversas áreas com a terceirização dos serviços, com os canais de atendimento de inteligência artificial, os chamados empregos “home office” (quando o operador trabalha de casa), inclusive muitos pontos da chamada indústria 4.0.
Para termos uma ideia do volume desse setor, os call centers em 2017 tiveram um faturamento de R$ 47,69 bilhões. Porém, o que fica para reflexão é: diante de tanta riqueza e inovação tecnológica, por que os operadores não têm condições de trabalho neste mesmo nível?
Quase que diariamente temos notícias pelo Brasil de abusos dos call centers sobre os operadores, com empresas controlando a ida dos trabalhadores ao banheiro, empresas tentando controlar a vestimenta destes operadores, salários atrasados, metas abusivas, condições insalubres de trabalho, altíssimas taxas de adoecimento mental, doenças por esforço repetitivo, perda de audição e etc.
Com muita luta, nós operadores conquistamos aposentadoria especial (25 anos), o direito de ir ao banheiro a qualquer hora (NR-17), jornada diária de 6 horas e 20 minutos, porém, ainda é muito pouco pelo lucro que geramos. As empresas insistem em desrespeitar essas conquistas sistematicamente. Pouquíssimos call centers pagam mais de dois salários mínimos, e o vale refeição (chamado por nós de vale coxinha) raramente excede os R$200, entre outras precariedades.
O call center tem uma organização e realidade bem parecidas com as fábricas e espelha o capitalismo: alta tecnologia e desenvolvimento com salários miseráveis e terríveis condições de trabalho.
Por isso, no dia 4 de Julho e nos demais dias do ano, nós operadores precisamos refletir sobre que trabalho é esse que temos. É necessário nos organizarmos, nos filiarmos aos nossos sindicatos, pressioná-los para a luta quando necessário, estabelecermos coletividades no trabalho. Para além de evitar que enlouqueçamos, devemos lutar para conquistar melhores condições de trabalho e de vida, visando romper as correntes desse sistema capitalista que destrói a humanidade a cada dia.
Rumo ao Poder Popular e ao Socialismo!
Pela construção de um Encontro Nacional das Classes Trabalhadoras e Movimentos Populares!
Contra a Reforma da Previdência e por Uma Nova Greve Geral!
Lucas Prestes
Militante do PCB e da Unidade Classista de São Paulo
Referências:
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/06/ansiedade-esta-entre-os-transtornos-mais-comuns-na-adolescencia.shtml
https://www.extraclasse.org.br/saude/2014/07/call-center-trabalhadores-por-um-fio/
http://csunidadeclassista.blogspot.com/2016/07/call-center-rico-operador-pobre-as.html
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI294947,11049-Funcionaria+de+call+center+que+precisava+de+autorizacao+para+ir+ao
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/empresa-de-call-center-tera-de-pagar-r300-mil-por-danos-morais/
https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2016/10/07/bancos-e-telefonicas-sao-acusados-de-assediar-operadores-de-telemarketing.htm
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/pwdtcomemorativas/default.php?reg=20&p_secao=15
https://www.terra.com.br/noticias/dino/setor-de-call-center-deve-aumentar-o-faturamento-em-75-em-2018-diz-pesquisa,fd65010b1ccf720f90bedadf8427cf52fwpj8htc.html