As Revoluções Coloridas e a China

imagemDa Praça da Paz Celestial a Hong Kong

por Domenico Losurdo (tradução de Maria Lua)

“Atualmente, a imprensa ocidental, mesmo a de ‘esquerda’, expressa seu apoio entusiasta aos manifestantes de Hong Kong e evoca novamente a Praça da Paz Celestial. Na verdade, é melhor utilizar essa tragédia como ponto de partida para analisarmos as manobras realizadas pelo imperialismo contra a República Popular da China. Reproduzimos aqui, com a gentil permissão do autor, algumas páginas de um livro de Domenico Losurdo recém publicado por Carocci”. Com essa premissa de uma atualidade vergonhosa, Marx 21 em 2014 republicou um extrato fundamental do intelectual marxista que estamos sugerindo novamente hoje, no dia do aniversário dos eventos da Praça da Paz Celestial em 4 de junho de 1989. É a melhor resposta possível às centenas de fake news sinofóbicas que você lê hoje em dia – quando o coração do imperialismo está em chamas.

1. Um terrorismo da indignação conjugado no passado.

Além de no presente, o terrorismo da indignação também pode ser conjugado no passado. É possível, por assim dizer, enforcar um concorrente, um inimigo em potencial, um inimigo a ser desacreditado ou, mais precisamente, apontar ao público, à opinião pública da mídia internacional, alguém ser enforcado por uma imagem, verdadeira ou falsa e, mais precisamente, cuidadosa e instrumentalmente selecionada. Ao recordar, anualmente, a tragédia da Praça da Paz Celestial, no início de junho, a mídia ocidental reproduziu, sem falta, a imagem do jovem chinês que, desarmado, corajosamente enfrenta um tanque do exército.

A mensagem que quer ser transmitida é clara: o Ocidente nunca se cansa de prestar homenagem a quem foi capaz de desafiar a arrogância e o despotismo, um combatente da liberdade que somente pode ser encontrada em sua terra natal, no Ocidente. Mas é tudo realmente assim tão óbvio? Não há realmente espaço para dúvidas e nuances? Querer refletir um pouco, antes de introjetar e abraçar a mensagem maniqueísta proposta ou que se tenta impor, é apenas sinônimo de extravagância e surdez pelas razões da moralidade? O terrorismo da percepção imediata e da indignação está à espreita. Qualquer um que deseje evitar cair numa armadilha faria bem em hesitar por um momento e fazer a si próprio algumas perguntas, antes de chegar a uma conclusão que não é apenas apressada, mas sobretudo imposta por uma força externa.

Mesmo se quiséssemos nos manter alertas nos últimos anos, inúmeras são as fotos que podem surgir como símbolo de violência e crueldade. A grande mídia envolvida na busca de imagens suscetíveis a despertar ou manter a consciência moral da humanidade poderiam ter escolhido recordar as humilhações, assédio e tortura sofridos pelos iraquianos detidos na prisão americana de Abu Ghraib ou recuperar a face abatida dos detidos de Guantánamo (sem julgamento), envolvidos em uma greve de fome quebrada pelas autoridades penitenciárias com uma alimentação forçada degradante, situações estas que foram amplamente ignoradas pela mídia ocidental. Ou, ainda, se é desejo lembrar um exemplo mais forte, por que não dar espaço à imagem do “rebelde” que, na Síria, prova o fígado extraído do cadáver do soldado do regime odiado e combatido pelo Ocidente?

Querem se concentrar exclusivamente nos eventos na Praça da Paz Celestial? Observemos, então, que uma primeira seleção já ocorreu. Mas logo depois vem uma segunda. Novamente em relação a esses eventos, a foto, circulando na Internet, do soldado chinês queimado vivo pelos manifestantes e depois enforcado em uma treliça poderia ser usada. Renunciando ao uso de imagens visuais, a fim de permitir um mínimo de espaço para reflexão, pode-se confiar nas descrições contidas nos Documentos da Praça da Paz Celestial, publicados no Ocidente com grande alarde e fruto de uma suposta operação clandestina, os quais foram celebrados como a revelação final das infâmias que o regime chinês tenta em vão ocultar. Graças à leitura, encontramos detalhes e circunstâncias inesperados:

“De repente, um jovem veio correndo, jogou algo em um carro blindado e fugiu. Alguns segundos depois, a mesma fumaça verde-amarelada foi vista saindo do veículo, enquanto os soldados se arrastavam e se estendiam no chão, na rua, segurando, em agonia, a garganta. Alguém grita que havia inalado gás venenoso. Mas os oficiais e soldados, apesar da raiva, conseguiram manter o autocontrole”.

Seria suficiente focar a atenção nos espasmos e agonia dos soldados afetados pelo gás venenoso para mudar radicalmente a direção das correntes de emoção e indignação: primeiramente, ao abordar o Exército Popular de Libertação (que, apesar de tudo, consegue “manter o ‘autocontrole’), em segundo, ao envolver os manifestantes, não só não desarmados, como prontos para recorrer às armas químicas. Continuemos a ler:

“Mais de quinhentos caminhões do exército foram incendiados em dezenas de cruzamentos […] Na Avenida Chang’an, um caminhão do exército parou por falha do motor e duzentos manifestantes atacaram o motorista e o espancaram até a morte […] No cruzamento de Cuiwei, um caminhão carregando seis soldados diminuiu a velocidade para evitar atingir a multidão. Então, um grupo de manifestantes começou a atirar pedras, coquetéis molotov e tochas contra ele naquele momento, que a certa altura se inclinou para o lado esquerdo porque um dos pneus foi perfurado por causa dos pregos que os manifestantes haviam espalhado. Em seguida, os manifestantes atearam fogo a alguns objetos e os jogaram contra o veículo, cujo tanque explodiu. Todos os seis soldados morreram nas chamas”. (Nathan, Link 2001, pp. 435 e 444-45).

Paremos um pouco neste último episódio: soldados se veem condenados à morte ao mesmo tempo em que tentam salvar a vida e a saúde de seus agressores. Está aí outro possível símbolo da crueldade humana, que, no entanto, seria representado não pelo Partido Comunista no poder na China, mas pelos “dissidentes” mimados e apoiados pelo Ocidente. Mas vamos supor que, por qualquer motivo que seja, a imagem do jovem chinês que confronta o tanque seja considerada particularmente emblemática. Bem, essa imagem faz parte de uma sequência. Como o motorista reage ao jovem desarmado que o desafia: ele o arrasta e o esmaga, mata-o com a metralhadora ou, em vez disso, esquiva-se dele? Sobre isso, os documentos da Praça da Paz Celestial dão a palavra a um membro da liderança de Pequim:

“Todos nós vimos fotos do rapaz jovem bloqueando o tanque. Nosso tanque reduziu o passo diversas vezes, mas o rapaz estava sempre lá no meio da estrada e, mesmo quando ele tentava subir no tanque, os soldados se contiveram e não atiravam nele. Isso fala muito! Se os militares tivessem disparado, as repercussões teriam sido muito diferentes. Nossos soldados cumpriram as ordens do Partido Central com perfeição. É incrível que eles tenham conseguido manter a calma em tal situação!” (Nathan, Link 2001, p. 486).

Se soubéssemos que a obstinação que o jovem desarmado tinha em desafiar o motorista era a mesma obstinação que este tinha em se comprometer a salvar a vida e a segurança do desafiante, talvez, neste caso, o respeito, simpatia e admiração do espectador ideal não se dirigiria apenas a uma direção. Uma coisa é certa: ao propor novamente a imagem do jovem que desafia o tanque e eliminar a imagem do motorista comprometido em evitar atropelá-lo, a mídia ocidental faz uma terceira seleção. E, portanto, longe de ser sinônimo de evidência imediata, a imagem que se tornou o emblema da tragédia da Praça da Paz Celestial não é imediata nem tem um significado óbvio em si. Não é imediata, porque é o resultado de uma seleção tão precisa que é feita três vezes. Ela não tem um significado óbvio em si porque, apesar da seleção cuidadosa e múltipla por trás dela, ela pode ter um significado muito diferente e até oposto ao que é visto ou bem enquadrado em comparação ao que a ideologia dominante lhe atribui: em circunstâncias semelhantes, nos territórios palestinos ocupados, o motorista de tanque israelense (e ocidental) demonstra o mesmo autocontrole que o motorista de tanque chinês?

Nos últimos anos, vozes de autoridades insuspeitas forneceram uma nova luz sobre os eventos da Praça da Paz Celestial. O ex-chanceler alemão Helmut Schmidt lembrou que a intervenção militar em Pequim foi decidida devido ao prolongamento indefinido de uma situação intolerável (manifestantes bloquearam a atividade do governo e rejeitaram qualquer compromisso). Acima de tudo: os soldados chamados para restaurar a ordem “primeiro resistiram, mas foram atacados com pedras e coquetéis molotov e se defenderam com as armas que possuíam” (Schmidt 2012). E essa versão dos eventos é indiretamente confirmada pelo então embaixador dos EUA em Pequim: o uso de tropas foi decidido apenas quando “o governo já estava sem opções, que não fosse o ataque militar”. Mas foi uma decisão claramente tomada de maneira contrariada: os primeiros soldados enviados para limpar a praça “pareciam muito mais uma cruzada de crianças do que um grupo de estratégia militar”. Eram “tropas desarmadas”. Por outro lado, “uma multidão enfurecida destruiu dez veículos militares”. Os soldados foram forçados a se retirar.

O adido militar dos EUA, general Jack Leide, poderia comentar com satisfação profissional: o fiasco do Exército de Libertação Popular foi “uma versão chinesa da retirada de Napoleão de Moscou” (Lilley 2004, pp. 309 e 311-12). É inevitável que foi uma nova tentativa de limpar a praça, mas é bom não perder de vista um ponto essencial: “Deng não ordenou um massacre”. Na medida do possível, ele tentou evitar derramamento de sangue ou reduzi-lo ao máximo. Na verdade, as cenas descritas pelo então embaixador dos EUA são reveladoras: aqui está um soldado pulando de seu veículo para evitar ser “queimado vivo”. Ou ainda: estudantes “que trouxeram latas de gasolina tentaram, no canto norte da praça, incendiar veículos do exército, mas foram presos pelos soldados” (Lilley 2004, pp. 316, 318 e 320).

Quando a mídia ocidental divulga, pelo menos uma vez por ano, a imagem com a qual estamos lidando, denuncia a censura exercida pelas autoridades chinesas. Na verdade, eles estão se esforçando desesperadamente para tentar banir as imagens do “incidente na Praça da Paz Celestial”. Só que, nesse ponto, surge a pergunta talvez mais perturbadora: quem está manipulando a verdade cada vez de forma mais profunda é a censura chinesa ou a aparente falta de censura de que o Ocidente tanto se gaba? No primeiro caso, estamos, sem dúvida, lidando com uma mutilação da verdade: uma peça é apagada. No segundo caso, longe de ser apagada, essa peça ou essa imagem, resultado de um processo de seleção tripla, é obsessivamente mostrada e exibida e, no entanto, agora essa verdade é apenas um momento da farsa geral. Pior, essa verdade é agora parte integrante não apenas da falsificação, mas de uma falsificação que visa inibir a reflexão e a argumentação racionais e produzir, como uma espécie de reflexo condicionado, uma indignação manipulada e passível de ser explorada para fins inconfessáveis.

A primeira função militar da sociedade do espetáculo já está sendo operada (a demonização do inimigo ou do inimigo em potencial), enquanto a segunda está à espreita: a redução da violência ao espetáculo – violência essa exercida em nome da causa humanitária dos direitos humanos. Talvez um futuro historiador coloque a imagem do jovem chinês de frente para o tanque ao lado das imagens ou “notícias” relacionadas ao naufrágio do cruzador do Maine, do navio a vapor Lusitânia e dos navios afundados em Pearl Harbor ou “atacados” no Golfo de Tonkin; e talvez o futuro historiador questione a acusação de violência inerente a uma imagem que afirma querer retratar a condenação da violência em si.

2. O “despotismo iluminado” na Praça da Paz Celestial

Sim, a verdade da imagem do jovem de frente para o tanque é apenas um momento da farsa geral. Por meio do terrorismo de percepção e indignação imediatas, visa-se impedir a reflexão e a pergunta: se não a causa da não-violência, o movimento da Praça da Paz Celestial representa, de modo inequívoco, a causa da democracia? Numerosos manifestantes olhavam com simpatia e admiração para Zhao Ziyang. Antes de ascender ao topo da liderança chinesa, ele “era conhecido por haver reprimido as mais recentes turbulências da esquerda radical” em Sichuan; na época da crise, na primavera de 1989, ele defendia “uma solução ‘neoautoritária’, paternalista e tecnocrática” (Domenach, Richer 1995, pp. 697 e 550). Ele era um executivo bem conhecido e apreciado (em alguns círculos chineses e internacionais) como campeão de um “despotismo esclarecido” (Minqi Li 2008, p. XI). Não há dúvida: “Zhao não era democrata. Naqueles anos, ele pretendia promover a economia de mercado com punho de ferro”. Nos tumultos em andamento, ele viu e buscou sua grande oportunidade:

“A maioria das ‘massas’ foi autorizada pelos reformistas do PCC a se manifestar e foi levada às manifestações por caminhões e ônibus das fábricas, dos escritórios públicos e dos ministérios. Da mesma forma, o apoio logístico para estudantes havia sido oferecido por funcionários e empresários privados próximos a Zhao Ziyang.” (Ferraro 2001).

Este último – enfatizam dois autores americanos – deveria ser considerado “provavelmente o líder chinês mais pró-americano da história recente” (Bernstein, Munro 1997, p. 39). Mas o que ele admirava nos Estados Unidos e o que a liderança dos EUA admirava nele? O amor à liberdade estimulou a relação de simpatia entre os dois lados ou, melhor, o decisionismo neoliberal pronto, se necessário, para recorrer a medidas “neoautoritárias” e até mesmo “despóticas”?

Nesse ponto, uma nova pergunta pode surgir: o levante da Praça da Paz Celestial foi um evento inteiramente interno à China? Uma entrevista é reveladora. Quando, algum tempo após a tragédia, os enviados do presidente Bush foram a Pequim para conversar com Deng Xiaoping, este reclamou com eles de que os EUA estavam “profundamente envolvidos” nos eventos da Praça Tiananmen e acrescentou: “Para ser sincero, isso poderia ter levado até à guerra” (Kissinger 2011, pp. 418-19). Essa foi a fala de um estadista conhecido por seu pragmatismo e prudência, um teórico de “perfil discreto” no cenário internacional que, além disso, naquela época tinha todo interesse em reabrir as relações com Washington, também com o objetivo de escapar do isolamento diplomático e comercial. E quem relata essa afirmação é um campeão da Realpolitik que não sente a necessidade de descartar uma acusação tão dura e que também não documenta nenhuma resposta polêmica dos interlocutores estadunidenses ao líder chinês.

Deng não somente não foi desmentido, como sua leitura dos fatos também foi indiretamente confirmada por uma testemunha autorizada. Trata-se do então embaixador dos EUA na China. Ele lembra que naqueles dias “dez apartamentos da Embaixada foram atingidos por mais de cem balas” disparadas pelo exército chinês comprometido em caçar – esta é a versão das autoridades de Pequim – “um atirador que matou um soldado de uma coluna em retirada”. O embaixador dos EUA menciona haver comentado imediatamente após o tiroteio: “Acho que os chineses estão tentando nos enviar uma mensagem” (Lilley 2004, p. XII). Sim, mas qual?

Podemos deduzi-la de outros detalhes deste testemunho. À medida que o confronto entre estudantes e o governo chinês aumenta, eis o “adido militar” da embaixada dos EUA em Pequim fazendo acordos e trabalhando lado a lado “com suas contrapartes nas embaixadas australiana, britânica, canadense, francesa, alemã e japonesa”. Com que objetivo? Podemos deduzi-lo de outros detalhes deste testemunho:

“Eles dividiram a cidade em setores e trocaram informações obtidas por meio de patrulhas. No final de maio, em resposta ao abrandamento da crise, adidos militares de várias embaixadas montaram postos de escuta em tempo integral em locais previamente escolhidos na cidade. Numa atitude visionária, o general Jack Leide, adido militar da embaixada dos EUA, ficou encarregado e obteve permissão para alugar quartos de hotel para controladores americanos. Além de um quarto no Hotel Fuxingmen, na parte oeste da cidade, reservamos dois quartos no Peking Hotel, imediatamente a nordeste da praça da Paz Celestial, o que nos permitiu uma visão clara da praça. Além disso, Leide equipou seus homens com telefones de rádios portáteis (walkie-talkies) contrabandeados do exterior. Foi uma violação do protocolo diplomático, devido ao fato de que, nas missões diplomáticas na China, não se pode manter rádio de comunicação privada, mas, ao cometer essa violação, no entanto, me senti à vontade.” (Lilley 2004, p. 306)

A atividade promovida pelos adidos militares das embaixadas dos países mais importantes (ocidentais ou pró-ocidentais), implementada graças a instrumentos proibidos e contrabandeados ilegalmente e dirigida por um general “visionário” dos Estados Unidos, era destinada apenas a acompanhar a crise ao vivo ou também a influenciá-la? Com base no conhecimento “excelente” do “mandarim” de alguns de seus membros, “nossa equipe diplomática [estadunidense] em Pequim estabeleceu relações sólidas com membros do exército, do movimento estudantil e da classe intelectual”; e tais relações provavelmente renderiam “dividendos” consideráveis (Lilley 2004, pp. 314 e 306). Quais podem ser os “dividendos” resultantes do relacionamento entre os membros estadunidenses e setores do exército chinês?

Como a capa de seu livro deixa claro, o autor deste testemunho “serviu por cerca de trinta anos na CIA em Tóquio, Taiwan, Hong Kong, Laos, Bangcoc, Camboja e Pequim antes de iniciar uma brilhante carreira diplomática no início dos anos 80 no Departamento de Estado.” Era apenas uma coincidência que um diplomata com experiência consolidada como agente da CIA nas suas costas estivesse liderando a frenética atividade que acabamos de ver? Naquela época, Gene Sharp (Engdahl 2009, p. 93), o teórico das Revoluções Coloridas, também estava presente na capital chinesa. Seria isso uma outra coincidência aleatória? E como podemos explicar então que, ainda neste período, Winston Lord, ex-embaixador em Pequim e principal assessor do futuro presidente Clinton, nunca se cansou de repetir que a queda do regime comunista na China era “uma questão de semanas ou meses” (Bernstein, Munro 1997, p. 95)? E qual era o objetivo da falsificação do “Jornal do Diário do Povo”, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês (Nathan, Link 2001, p. 324), que era responsável por uma operação tão sofisticada e suscetível de rasgar em duas facções opostas o Partido no poder e o Estado em si?

Lembremos do aviso de Deng Xiaoping, não contraditado por Kissinger ou por qualquer membro da delegação dos EUA, segundo o qual os EUA foram responsáveis por uma operação que poderia “levar à guerra”. E o que poderia ter sido essa operação, esse casus belli¹, senão uma tentativa de golpe externamente pilotada, que visava talvez levar ao poder “o líder chinês mais pró-americano”, aquele pronto para recorrer ao “despotismo iluminado” por uma perspectiva neoliberal? Vistos em retrospectiva, os incidentes da Praça da Paz Celestial de 1989 apresentam-se como ensaio geral do golpe de Estado disfarçado ou das “Revoluções Coloridas” que se seguiriam nos anos seguintes.

¹locução latina que significa “caso de guerra”. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
https://dicionario.priberam.org/casus+belli [consultado em 08-06-2020].

Revisão: Jornal O Poder Popular

Fonte:
https://sinistrainrete.info/estero/17974-domenico-losurdo-le-rivoluzioni-colorate-e-la-cina-da-tienanmen-a-hong-kong-2.html

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