Brasileiros e paraguaios realizam a maior manifestação na fronteira desde golpe no Paraguai
Cerca de quatro mil pessoas participaram nesta sexta-feira (29) de mais um ato na fronteira entre Brasil e Paraguai contra o golpe ocorrido no país vizinho na sexta-feira (22), quando o presidente Fernando Lugo foi destituído do cargo através de um “impeachment relâmpago”.
Desta vez o protesto conseguiu fechar a Ponte da Amizade por cerca de uma hora e meia. Participam do ato movimentos sociais dos dois países. Do lado brasileiro, participaram representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST; Via Campesina, além de centrais e sindicatos trabalhistas, bem como estudantes. Do Paraguai, estiveram membros do Movimento Campesino, Movimento 20 de Abril, entre outros.
“Queremos abraçar o povo brasileiro que está nos apoiando neste momento em que caímos nas mãos da extrema direita. Estamos sendo oprimidos”, disse o integrante do movimento 20 de Abril, Pedro Torres, diante de um impasse criado pelas autoridades paraguaias para que a marcha dos manifestantes vizinhos chegasse até os brasileiros.
Para o dirigente da APP – Sindicato, em Foz do Iguaçu (PR), e membro do Partido Comunista Brasileiro, Fabiano Severino, além de um ato de solidariedade é necessário que os movimentos sociais e o povo brasileiro se posicionem contra o golpe no Paraguai. “Não podemos mais permitir que este tipo de baque à democracia continue acontecendo na America Latina. Este ato não é de apoio ao Lugo, mas sim ao povo paraguaio que o elegeu em 2008”.
Marcha – Depois de muita luta, cerca de três mil paraguaios, conseguiram chegar até a ponte. Eles chegaram sob a escolta da tropa de choque do Exército. Além dos movimentos sociais, muitos ambulantes de Ciudad Del Este(PY) fecharam seus pontos de comércio para participar da marcha.
“Estamos aqui para demonstrar nossa revolta e indignação com o golpe. Não queremos mais viver uma ditadura”, disse a integrante do Movimento Campesino Catalina Fernandez. O protesto contou com uma forte presença policial, porém, nenhum incidente foi registrado.
Para o coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e Via Campesina, de São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná, Nildemar da Silva a participação dos brasileiros no protesto serve tanto para demonstrar solidariedade como para protestar contra o que, para ele, “fere os princípios da democracia”. “Este golpe foi influenciado pelo sistema agro-exportador latino-americano, que conta inclusive com a presença de brasileiros”, apontou.
Impasse – Após o protesto, os manifestantes paraguaios tentaram seguir em marcha rumo ao Brasil, no entanto, foram impedidos pelo militares paraguaios que fizeram um cordão de isolamento. Já os brasileiros acompanharam os paraguaios em marcha até a Praça da Paz, em Ciudad Del Este (PY).
O movimento desta sexta-feira reuniu cerca de quatro mil pessoas, entre brasileiros e paraguaios. A maior parte dos participantes era de paraguaios, o que demonstra um aumento no descontentamento da população com o golpe ocorrido na última sexta-feira (22).
Para o professor Jose Bovadilla, que vive em Distrito Iguaçu, no interior do Paraguai, uma das maiores dificuldades na mobilização do povo é a posição de alguns setores da imprensa paraguaia. “Parece que a imprensa está de acordo com o golpe. Este foi um projeto arquitetado pelo imperialismo sem qualquer consulta popular e a imprensa pouco fala sobre isso”.
O presidente da Federação dos Estudantes de Universidades Públicas do Paraguai, Fabian Franco, apontou que a maioria dos veículos de comunicação do país vizinho parece estar numa tentativa “minimizar a situação”. “A imprensa tem apresentado noticiais como se tudo estivesse bem. Na verdade, muitos deles são realmente ligados ao agronegócio e às imobiliárias”. Para Franco ainda existem outros grupos interessados em manter a população paraguaia alheia ao que está ocorrendo no país.
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