O Apartheid não acabou!
Imagem: Victor Farias/Marco Zero Conteúdo
Por Adelmo Felipe, Militante do PCB e do CNMO em Pernambuco
Há 30 anos, em 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul, representando um marco para a superação do Apartheid naquele país que existia, de maneira oficial, desde 1948. Já repleta de sanções e boicotes internacionais, o regime sul-africano cedeu à pressão ao libertar Mandela, permitindo que ele se candidatasse às eleições seguintes. Pela primeira vez, não-brancos poderiam votar no país majoritariamente não-branco. Um dos regimes mais cruéis e desprezíveis do Século XX estava derrotado. Mas essa não é a história completa.
O Ocidente, dito democrático e livre, aceitou de bom grado o Apartheid! Como exclamou Thomas Sankara, nos anos 80, em um discurso ao lado do presidente “socialista” francês: “Um assassino como Pieter Botha andou livremente pela belíssima França”. Esta fala denota o quão tolerantes foram os líderes ocidentais frente aos crimes cometidos pelo regime racista.
Pieter Botha foi um dos sanguinários líderes do regime de segregação racial que estava em vigor na África do Sul. Regime este que servia muito bem aos interesses imperialistas, pois atuava como “ponta de lança” para dificultar a luta pela libertação nacional em antigas colônias como Angola, Moçambique e Zimbabué. Inclusive, a África do Sul teria alguma relação com a morte de Samora Machel, líder moçambicano que morreu quando seu avião caiu em 1986.
Apesar da má fama, o Apartheid não era um “caso isolado” quando se trata de segregação. Seus principais mantenedores internacionais estavam bem acostumados a esse tipo de coisa. A história do ocidente capitalista é repleta de regimes políticos envoltos no racismo, seja na forma mais aberta até nas formas mais veladas. Todos lembram da Segregação Racial nos Estados Unidos, que durou por décadas, mas esquecem que todas as grandes potências imperialistas usaram e abusaram de métodos genocidas contra os povos colonizados. A Europa não inventou a escravidão, limpeza étnica ou segregação, mas usou esses mecanismos como ferramentas de dominação, com consequências que duram até hoje, seja em aspectos econômicos, sociais e na identidade desses povos, inclusive para além de África.
De fato, não podemos dizer que esses “resquícios do passado” realmente estão no passado. Não podemos permitir que a burguesia nos convença de que toda essa trajetória cruel é algo de “tempos mais violentos”. O Imperialismo não está morto, este ainda gera guerras, fome, destruição da natureza, conflitos territoriais, fundamentalismos e miséria. E são sempre os povos do “terceiro mundo”, em sua maioria aqueles que sofreram com o colonialismo no século passado, que são os mais acometidos pela chamada “globalização”, em outras palavras, mais uma tentativa de hegemonizar os valores ocidentais. É o imperialismo com novas armas, mas as antigas ainda são usadas.
Hoje, no Brasil, a maioria da população nas periferias é negra, mesmo nosso país não possuindo leis abertamente racistas. O racismo se mostra mesmo quando não é declarado. Desde a casta política branca e privilegiada que quer fazer com que os trabalhadores sejam praticamente reduzidos a escravos, totalmente dependentes de um salário de fome, até as prisões lotadas de pessoas, “por coincidência”, racializadas. Importante destacar a permanente militância desses senhores de terno e gravata em prol dos interesses burgueses no campo e na cidade, tendo como consequência a morte de camponeses, indígenas e da juventude negra com o objetivo de expandir um império latifundiário e nos manter nas ruas através de aluguéis caríssimos.
Não podemos falar em Apartheid sem citar o Estado de Israel e sua política permanente de genocídio da população árabe-palestina. Desde limitação de direitos políticos até o impedimento de acesso a recursos mínimos para a sobrevivência de homens, mulheres, crianças e idosos. Na guerra colonial, não há direitos humanos.
Há muitas semelhanças entre o Brasil nas periferias, Israel na Faixa de Gaza e a África do Sul do Apartheid. Em todos os casos, as armas midiáticas foram/são usadas com a mesma precisão certeira que as armas de chumbo.
O Apartheid não acabou! Ele é parte do funcionamento normal do capitalismo! Só haverá sua superação completa com o socialismo!