O Plebiscito Popular e a luta de classes

Plebiscito Popular: A importância do “nós contra eles”, que a Globo não quer que falemos para poderem continuar escondendo a lógica existente do “eles contra nós”

Gustavo Marun – militante da Unidade Classista/Petroleiros e do PCB RJ

Como até o reino mineral está ciente, a grande novidade da conjuntura tem sido a Esquerda conseguir pautar o debate sobre questões fundamentais, que afligem diretamente nossa classe trabalhadora:
A necessidade do fim da desumana escala de trabalho 6×1, e também de haver maior taxação da burguesia, para que se possa diminuir a carga tributária dos que trabalham, e que respondem pela maior fatia da arrecadação fiscal, outro total absurdo.

Derrubar a escala 6×1 é um passo fundamental para buscarmos vitórias ainda maiores, como a redução da jornada semanal para 30 horas sem redução salarial, para que os avanços produtivos não sigam somente a serviço da exploração do trabalho, mas sim para reduzir desemprego e gerar mais qualidade de vida e tempo livre para quem trabalha.

Toda essa luta foi reaquecida e alavancada recentemente, pela tentativa de embarreiramento do decreto presidencial do IOF pela Câmara Federal, no final de junho, fato que gerou uma importante contramedida do governo de se buscar o STF para reversão deste verdadeiro tapa na nossa cara. Em seguida, após iniciado finalmente um ensaio de tensionamento contra os grandes grupos econômicos que concentram renda e poder, por meio de vídeos de inteligência artificial que colocavam a nu a essência da discussão e o absurdo parasitismo das elites, Donald Trump acabou turbinando as tensões, com sua estapafúrdia ameaça de taxar em 50% as importações que os EUA fazem do Brasil.

Tudo isso orquestrado com apoio de ninguém menos que a própria família Bolsonaro, que foi até lá fazer lobby e buscar criar condições para interferência externa imperialista na nossa soberania para um interesse particular: tentar salvar a pele dos seus, indicando que a tarifa poderia cair se houvesse anistia aos golpistas. A outra motivação revelada seria o PIX, provavelmente porque atrapalha negócios da burguesia financeira internacional ou das big techs, que pretendem ocupar esse espaço de transações financeiras eletrônicas.
Mas antes dessas novidades todas, foi lançada uma iniciativa que de maneira alguma pode ser menosprezada, e que interferiu em todo esse cenário, ao mudar algumas perspectivas.

Vamos dar esse passo atrás, então, e mencionar a iniciativa do Plebiscito Popular. Inspirado em plebiscitos importantes realizados no passado, como o do não pagamento da dívida externa e o contra a Alca, nos anos 2000, este agora busca resgatar este tipo de experiência, que serve para propagandear denúncias e engajar a população no rechaço a políticas neoliberais. Estes processos servem para por em marcha a resistência, e mais do que isso, mudar a perspectiva da correlação de forças, saindo da defensiva (quando o melhor resultado, se tudo der certo, é o empate) para a ofensiva, pautando a sociedade e angariando apoio popular contra as medidas concentradoras de renda.

Não é pouca coisa estarmos colocando na boca do povo propostas avançadas como mudanças progressivas no regime de trabalho e de tributação, além da luta contra o imperialismo, que se apresenta transparente e incontornável nas ações de Trump.

Além do mais, deslocamos o teatro de operações das tensões políticas. Em vez do campo institucional do poder constituído, trazemos a disputa para as ruas e as bases. No lugar do desfavorável campo das disputas entre os poderes executivo, a degenerada Câmara e o STF, com decisiva influência da mídia empresarial, trazemos as polêmicas para o nosso campo, com o envolvimento popular e de massas. Em suma, utilizando jargões futebolísticos, passamos a jogar em casa e com uma postura ofensiva.

No entanto, algumas correntes políticas que se autoproclamam como arautos da revolução, reagem ao movimento e reafirmam uma prática de uma espécie de “marxismo messiânico”: acreditam que não podem se misturar com os “impuros”, e que basta soerguerem suas bandeiras vermelhas, que a classe há de segui-los. Há omissões que dizem muito. Entramos num momento em que todos devem se posicionar e se engajar. Por essas e outras, nós já antecipávamos os riscos dessa prática isolacionista. Esta postura não parece se dar por acaso, mas é oriunda de um tipo de visão sectária, que interpreta o petismo como inimigo, sem considerar que ele é, na realidade, muitas vezes instrumentalizado pelos verdadeiros inimigos de classe: a burguesia.

Evidente que o PT deve ser responsabilizado por isso, mas não compreender nem hierarquizar os inimigos leva a erros sérios. Há que se reconhecer, apesar de todas as críticas, que a base social petista é ainda muito forte e precisamos dialogar e articular interseções táticas para conseguir imprimir algumas derrotas aos nossos maiores inimigos. Além de pararmos de falar somente para nossas bolhas, pois falando para mais gente, a chance de conscientização revolucionária de uma maior parcela popular cresce. Fazer luta de classes pressupõe saber navegar na diversidade de pensamentos, buscando criar as melhores condições para avançar concretamente. E com a experiência progressiva popular, arregimentar mais pessoas. Não estamos numa competição moral de quem está mais à esquerda, isso serve mais para regozijos individuais que talvez Freud explique.

Tudo isso de maneira alguma invalida as críticas que temos aos rumos que o governo tem tomado. Óbvio que criticamos ferrenhamente, por exemplo, o arcabouço fiscal, de viés neoliberal, que não passa de uma PEC da morte 2.0. Assim como a total falta de ânimo para lutar pelas reestatizações e pela revogação das danosas contrarreformas trabalhista e previdenciária dos últimos governos. No setor do petróleo, denunciamos os leilões recentes que privatizaram mais uma enorme fatia das reservas petrolíferas nacionais, entregando nossas promissoras e gigantes riquezas.

Também sabemos dos riscos de todo movimento capitular por imposições de cúpulas, ou ser capturado por interesses eleitorais… Mas todos esses riscos estão aí para serem corridos, e quanto mais botamos em marcha o movimento, maior o embalo, e portanto, maior o desgaste para que tentem desviá-lo ou freá-lo! Se houver ônus, ou será por omissão dos que não quiseram se “misturar”, ou dos que pretendem deturpar a legitimidade do movimento.

De nossa parte, a tarefa é engrossar o caldo dessa fervura! Não por acaso, eles estão dando chilique, acusando o golpe ao dizerem que esse discurso do “nós contra eles” é proibido. Claro, tudo isso porque é necessário esconderem que a realidade do “eles contra nós” grita! Eles os burgueses, nós, os trabalhadores. E segue a luta, que é de classes!