O caos e a fome na Faixa de Gaza

Criança palestina recebendo tratamento contra a má nutrição na Cidade de Gaza
Créditos/ Anadolu

AbrilAbril

As autoridades em Gaza acusam Israel de promover a «engenharia deliberada do caos e da fome». Também alertam para os danos causados pelos lançamentos aéreos de ajuda e a necessidade de «abrir as passagens».

Em declarações do Gabinete de Imprensa divulgadas pela Prensa Latina, o governo palestino em Gaza criticou os ataques sistemáticos da ocupação contra forças de segurança no enclave, numa tentativa de perturbar qualquer esforço para proteger a ajuda e garantir que ela chegue às pessoas necessitadas.

Para as autoridades palestinas, a entidade sionista promove um ambiente de «caos e saque», em que atuam grupos de saqueadores e agentes infiltrados, sem qualquer controle por parte das autoridades responsáveis no enclave.

«Isto permite a Netanyahu fomentar a ideia de que carece de um parceiro palestino de confiança para coordenar os trabalhos de ajuda, contribuindo para os seus planos de reestruturação do panorama humanitário de acordo com a sua agenda», alertou o gabinete.

As autoridades palestinas em Gaza criticaram igualmente as tentativas da ocupação de demonizar os esforços palestinos para garantir que a comida e os medicamentos enviados para o território, nomeadamente por organizações não governamentais e ONU, cheguem às populações.

Também questionaram os chamados «corredores seguros» criados pelas tropas da ocupação, considerando que «não são mais que áreas militares expostas, usadas como armadilhas para o caos e o saque», sem que existam garantias reais e uma supervisão internacional, e onde civis e trabalhadores humanitários se tornam alvos.

Lançamentos de ajuda por via aérea também matam

Na quarta-feira passada, as mesmas autoridades denunciaram os danos causados pelos lançamentos aéreos de ajuda, incluindo mortes e a destruição de casas e tendas.

O alerta foi dado num comunicado divulgado por várias agências e citado pela almaplus.tv, no qual se denunciam os fatos referidos e se chama a atenção para «o caos e a delinquência» gerados por esses lançamentos de ajuda, num contexto de fome generalizada, decorrente do bloqueio imposto pelo regime sionista.

Para o governo palestino em Gaza, o esquema dos lançamentos – a que vários países ocidentais e árabes aderiram – está sendo enquadrado pela entidade sionista na sua «política de engenharia da fome».

Neste sentido, o documento exorta os países que participam nessas operações a reconsiderar a sua posição e insta a ocupação a «abrir todas as passagens terrestres e permitir o fluxo abundante de ajuda e comida diariamente».

Considerando que a ajuda lançada pelo ar é «insignificante quando comparada com o que transportam os caminhões», as autoridades palestinas em Gaza relembram que o enclave necessita de pelo menos 600 caminhões diários para satisfazer as necessidades básicas no âmbito de alimentação, saúde e combustível.

Unrwa insiste na abertura das passagens terrestres

A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (Unrwa) alertou repetidamente para os riscos associados a esta forma de ajuda e para a sua falta de impacto, sublinhando a necessidade de um cessar-fogo imediato e do fim do bloqueio sionista imposto a Gaza.

Na sua conta de Twitter, voltou a chamar a atenção para o que está se passando na Faixa de Gaza, onde as pessoas passando fome e são atingidas a tiros quando tentam acessar a ajuda.

«Isto não pode continuar», afirma o organismo, destacando que é necessário tomar uma «decisão política» para «abrir as passagens de forma incondicional».

«Deixem a ONU e os seus parceiros fazer o seu trabalho», afirma, junto a um cartão em que se lê: «É tempo de ajuda sem entraves, segura e digna.»

Mais e mais mortes

Fontes médicas no enclave revelaram no último dia 07, ao início da tarde, que pelo menos outras quatro pessoas tinham falecido devido à fome e má nutrição aguda, elevando o número de mortes nessas circunstâncias para 197 (96 das quais crianças).

Ao dar a notícia, a Wafa sublinha o agravamento da situação no território, no meio do bloqueio, da falta de comida e medicamentos, e dos bombardeamentos israelenses a várias zonas.

Desde 7 de outubro de 2023, a ofensiva sionista provocou pelo menos 61.258 mortos e 152.045 feridos entre a população palestina, indica a fonte.