Basta de violência contra as mulheres!

21 DIAS DE ATIVISMO PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Misoginia e fascismo no Brasil

Por Nathália Mozer – educadora popular NEP 13 de maio, célula Chico Bravo PCB Nova Friburgo

No contexto da grande crise capitalista que explodiu em 2008 e na qual o sistema não dá sinais de recuperação, observamos o aprofundamento dessa crise através da decadência burguesa nos âmbitos ideológico, cultural, político, inclusive com a reciclagem de ideias de períodos pré-capitalistas, revelando mais uma vez que a burguesia não tem interesse algum em resolver os problemas da humanidade.

Com esse cenário violento e turbulento, intensificaram-se nos últimos 15 anos os conflitos bélicos, a sanha do grande capital sobre os serviços públicos, a degradação ambiental e ampliou-se a exploração do proletariado, tendo as mulheres e populações não brancas como as frações proletárias mais atacadas. É nesse caldo da crise que o fascismo volta como opção preferencial de setores cada vez mais amplos do grande capital para dar cabo dos seus interesses, entre eles a necessidade de controlar a queda das taxas de natalidade, daí tantos ataques e violências contra os direitos reprodutivos das mulheres.

Essa é a conjuntura que torna cada vez mais necessário o combate à violência contra as mulheres, como a lembrança das atividades iniciadas no 25 de Novembro ao redor do mundo. No dia 25 de novembro, Dia Internacional de Não Violência Contra as Mulheres, inicia-se uma jornada de 16 dias de ativismo pelo fim da violência sistemática contra as mulheres. A iniciativa é estendida para 21 dias no Brasil para começar no Dia da Consciência Negra, apontando a vulnerabilidade das mulheres negras. O período engloba datas importantes, sendo o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres em 25 de novembro e o Dia Internacional dos Direitos Humanos em 10 de dezembro.

O dia foi estabelecido no primeiro encontro feminista da América Latina e do Caribe, que aconteceu em julho de 1981 em Bogotá e remete à memória das irmãs Mirabal (Minerva, Pátria e Maria Teresa) – “Las Mariposas”, como eram conhecidas clandestinamente. Elas foram brutalmente assassinadas devido à luta contra a ditadura sanguinária de Rafael Trujillo, na República Dominicana (1930 – 1961).

Em um contexto digital marcado pela rápida disseminação de ideologias e comunidades online, surge o movimento “Red Pill”, termo utilizado para um grupo de homens que defendem uma “masculinidade dominante”. A autodenominação dessa espécie de movimento remete ao filme “Matrix” (1999), na cena em que é dada a opção ao personagem principal de tomar a pílula azul ou a vermelha – a azul o manteria na ignorância, a vermelha (red pill) lhe daria consciência sobre a verdade do mundo. Na prática, propaga uma visão de ódio às mulheres e a narrativa de que os homens são as verdadeiras vítimas da sociedade moderna, “castrados” pelo feminismo, que teria concedido privilégios excessivos às mulheres e tornado os homens fracos e desprezados.

Esse movimento surge como uma reação aos avanços conquistados pela luta organizada dos movimentos de mulheres. Na medida em que a conquista de direitos de leis e proteção às mulheres, parte de certos homens vê seus privilégios históricos serem desafiados. Com a finalidade de esconder de onde realmente vem a exploração dos homens, o movimento oferece uma resposta, que em si não responde a coisa alguma ao reafirmar uma supremacia masculina, baseado em dominação, manipulação e ódio contra as mulheres – imputando a elas a responsabilidade pela exploração e opressão que trabalhadores homens sofrem diariamente da classe dominante.

As ideias propagadas por esses setores reacionários nada mais são do que óculos ideológicos que oferecem uma visão distorcida da realidade, impedindo a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores, estimulando divisões e violências que impedem a unidade das massas contra os verdadeiros inimigos: a classe que nos explora!

A misoginia é uma armadilha para os trabalhadores, pois reforça estereótipos falsos que os adoecem e violentam as trabalhadoras, gerando isolamento, fragilidade social e emocional que a ideologia burguesa impõe aos homens desde crianças – além de aprofundar a divisão de classes, que muito favorece a classe que tem interesse em continuar nos explorando.

O diálogo com os trabalhadores em relação a esses problemas perpassa pela luta na defesa dos direitos sociais, da saúde pública e da educação de qualidade, da revogação imediata das contrarreformas trabalhista e da previdência, do fim da escala 6×1 com 30 horas semanais de jornada, da reforma agrária popular, da reversão das privatizações, da estatização do sistema bancário e financeiro, entre outras medidas que vão no sentido de melhorar substancialmente a vida da classe trabalhadora.

Mas não basta a defesa desses direitos sociais, é necessário também, enquanto esquerda revolucionária e setores comprometidos com o campo do trabalho no combate ao capital, que estimulemos cada vez mais a autodefesa das mulheres contra as diversas formas de violência, divulgando informações úteis de órgãos públicos, dando amparo e força emocional para as mulheres denunciarem, bem como formulando e operando táticas de autodefesa física. Organizar as mulheres é parte imprescindível do processo de combate à violência e conscientização do proletariado. De igual modo não podemos esquecer de algumas bandeiras fundamentais como: criação de estrutura para acolhimento e cuidado das crianças, restaurantes e lavanderias coletivas (socialização do trabalho doméstico); defesa e ampliação dos direitos das trabalhadoras; ampliação e massificação de políticas para combate à violência contra mulheres; transporte público de qualidade, etc…

O capital explora os extratos da classe trabalhadora de maneira diferente, e é visível que mulheres sofrem de fato os impactos da exploração de maneira mais intensa e isso se manifesta nos espaços de organização da nossa classe, quando vemos muitos mais homens nos espaços políticos do que mulheres. Este fenômeno ocorre porque, somada à exploração do capital no mercado de trabalho, as mulheres realizam uma extensa jornada de trabalho invisível – o trabalho doméstico e de reprodução da força de trabalho – que é fundamental para a manutenção da exploração de classe e para a extração de mais-valor. Essa dupla carga torna a organização das mulheres mais complexa e dificulta sua constância nos espaços de organização política.

Não é mais possível taparmos o sol com a peneira e acreditar que, nas nossas organizações, homens e mulheres tenham as mesmas possibilidades de cumprir com as tarefas, que homens e mulheres saiam do mesmo lugar no que se trata de se organizar politicamente, nem que tenham a mesma carga de trabalho só por comporem a mesma classe. No que tange às nossas tarefas organizativas, é urgente reconhecer as dificuldades que as trabalhadoras têm para se manterem organizadas e buscar coletivamente maneiras de diminuir os impactos impostos pelo capital às trabalhadoras. Essa deve ser uma preocupação de todos os militantes comunistas que atuam ativamente para a emancipação da nossa classe!

A defesa e o aumento intransigente dos direitos das mulheres nessa conjuntura vai adquirindo contornos centrais no combate ao fascismo na próxima quadra histórica. Nós, militantes revolucionários, não podemos nos furtar de atuar nessa trincheira, não só nesses 21 dias de ativismo, não só nos atos que aconteceram no domingo (07/12), não só quando feminicídios são noticiados… A superação da exploração e violência contra mulheres perpassa pela superação do modo de produção capitalista pra ontem!

Por Allane de Souza e Layse Costa!

Pela vidas das mulheres!

Pelo Poder Popular no rumo do Socialismo!