Brasil 40 graus: uma breve análise da conjuntura

Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

Lucas Silva, membro do Comitê Central do PCB

Para O Poder Popular nº 85

O governo Lula-Alckmin trouxe algum respiro democrático depois da desgraça vivida durante os governos de devastação nacional de Temer e Bolsonaro. No entanto, o abandono das mobilizações nas ruas e a falta de incentivo à organização popular deu margem à volta das manifestações da extrema-direita, demonstrando que o neofascismo não está morto nem no Brasil, nem na América Latina, como observamos na Argentina, Peru, El Salvador, entre outros, produtos diretos da profunda crise do capitalismo, mais sentida a partir de 2008.

O governo federal, em vez de aprofundar as medidas para minar as bases econômicas e sociais do neofascismo, reforça a lógica liberal na economia ao permitir a privatização de empresas importantes (como a Copel no Paraná e a não reestatização da Eletrobrás) e manter uma parte considerável da essência do teto de gastos no novo arcabouço fiscal, que restringe investimentos públicos e gastos sociais, colocando em risco principalmente a saúde e a educação.

A direita tradicional (o chamado “centrão”), sentindo a fragilidade cada vez maior do governo e suas opções liberais, aperta o cerco, aumenta a chantagem e em unidade tática com o bolsonarismo avança no Congresso com apetite voraz por cada vez mais cargos nas estatais e nos ministérios, transferência de recursos públicos para as grandes empresas privadas nacionais e internacionais e também projetos para reduzir os poderes do executivo (como os projetos golpistas de semipresidencialismo e o fim da reeleição), assim como demonstrações de força perante o STF (a catastrófica PEC das drogas 45/2023, etc).

Neste cenário difícil, ainda temos o crescimento da aprovação dos governadores alinhados ao bolsonarismo. Em recente pesquisa da Quaest, Ronaldo Caiado (GO) obteve 86% de aprovação, Ratinho Júnior (PR) 79%, Tarcísio e Zema, 62% cada. Todos esses governadores são sustentados por uma articulação envolvendo a grande mídia, a militância bolsonarista e o agronegócio, principal beneficiado por essas políticas. É nítido o movimento do grande capital de tentar alavancar algum dos 4 para enfrentar Lula em 2026, numa clara demonstração de que o PT sempre foi tolerado, mas jamais aceito pela grande burguesia, por mais que o PT se esforce em agradá-la.

Por isso é fundamental a construção de uma frente única que articule os setores revolucionários, social-democratas e progressistas em unidade de ação em 2 pilares fundamentais: 1 – a luta contra o avanço da direita e suas movimentações golpistas, inclusive o semipresidencialismo e 2 – a defesa dos direitos da classe trabalhadora, governe quem governe. Direitos como a reversão das privatizações, a desmilitarização da segurança pública, a reforma agrária popular, o fortalecimento do SUS 100% público, as creches e demais espaços de acolhimento para crianças, a Petrobrás sob controle popular, as 30 horas semanais, entre outros, que fortaleçam a reorganização da classe trabalhadora, a construção do ENCLAT e do Poder Popular.