Curso de Introdução a Friedrich Engels
A Fundação Dinarco Reis oferece o Curso de Introdução a F. Engels, a ser ministrado durante o mês de janeiro/2025 por José Paulo Netto, em quatro sessões de trabalho (duração de 3 horas cada) às quartas, das 19:00 às 22:00, nos dias 08, 15, 22 e 29 de janeiro de 2025, na Plataforma Even3.
José Paulo Netto é um dos mais destacados intelectuais marxistas brasileiros. Professor titular da PUC de São Paulo, professor emérito da UFRJ, é militante do PCB e incansável divulgador do marxismo crítico no Brasil, responsável por traduções de textos de autores clássicos, tais como Marx, Engels, Lênin e Lukács.
Segundo José Paulo Netto:
“A referência de Engels à sua condição de segundo violino sinaliza um dos aspectos principais da relação que manteve com Marx – a sua modéstia em face da estatura inegavelmente maior do companheiro, modéstia que, porém, não pode obscurecer a sua relevância nessa relação. O professor Florestan Fernandes sempre insistiu, com razão, no fato de Engels haver sido um pensador que tinha ‘luz própria’. Na realidade, são incontáveis os indicadores que assinalam objetivamente a precedência (bem como a autonomia intelectual) de Engels diante de questões e problemáticas que só ulteriormente seriam objeto dos cuidados teóricos e críticos de Marx.”
Programação do Curso
Dia 08/01/2025:
1. subsídios para a biografia de F. Engels
2. os escritos juvenis de F. Engels
Dia 15/01/2025:
3. a opção revolucionária de F. Engels
4. a colaboração com K. Marx
Dia 22/01/2025:
5. as revoluções de 1848
6. a produção intelectual de F. Engels nos anos de exílio (Londres/Manchester)
Dia 29/01/2025:
7. a experiência da Associação Internacional dos Trabalhadores e a Comuna de Paris
8. os últimos anos (1883-1895).
Link para inscrição:
https://www.even3.com.br/introducao-a-friedrich-engels…/
Para desenvolver/aprofundar as reflexões expostas nas sessões de trabalho, sugere-se a seguinte bibliografia:
*Osvaldo Coggiola, Engels, o segundo violino. S. Paulo: Xamã, 1995.
* Tristam Hunt, Comunista de casaca: a vida revolucionária de Friedrich Engels. Rio de Janeiro: Record, 2010.
* Gustav Mayer, Friedrich Engels: uma biografia. S. Paulo: Boitempo, 2020.
* José Paulo Netto, “Apresentação” de Friedrich Engels, Esboço para uma crítica da economia política e outros textos de juventude. S. Paulo: Boitempo, 2021.
Sugere-se ainda a leitura dos textos do próprio F. Engels recolhidos no volume 17 da coleção Grandes cientistas sociais. S. Paulo: Ática, 1981 (org. por José Paulo Netto, sob a coordenação de Florestan Fernandes).
Sobre a atualidade do pensamento de Engels nos escreveu a camarada Sofia Manzano no ano de 2020, quando se comemoraram os 200 anos de nascimento do grande revolucionário:
“Engels viveu praticamente todo o século XIX – nasceu em 28 de novembro de 1820 e morreu em 05 de agosto de 1895, a maior parte de sua vida adulta em Manchester e Londres, na Inglaterra, que era o centro do mundo, pois ali se desencadeavam as transformações mais profundas que hoje se pode verificar no desenvolver do capitalismo por todo o mundo. Para termos uma ideia do que isso significa, teríamos que nos imaginar, hoje, vivendo em Pequim, Xangai, Suzhou ou Guangzhou, na China. No entanto, assim como antes, milhões de pessoas vivem nessas localidades, mas apenas algumas conseguem capturar, de forma tão profunda, científica e inovadora, o que realmente acontece para além da superficialidade dos fenômenos cotidianos. Esse é o caso de Friedrich Engels.
Filho de rico industrial alemão foi encaminhado para um estágio em Manchester, na fábrica em que o pai era sócio. Do período de 21 meses Engels produziu, aos 24 anos de idade, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, seu primeiro livro, repleto de originalidade na formulação de sínteses que servirão de base para o léxico categorial marxista. Para além da pesquisa empírica – tanto presencial, quanto nos dados coletados nos materiais disponíveis – esse livro introduz ideias que serão muito caras para a compreensão da realidade capitalista.
Apesar de os formuladores da economia política clássica – como Adam Smith, Malthus e Ricardo, em suas contribuições à ciência econômica, terem tratado de forma categoricamente distinta a situação do capitalista, de um lado, e do trabalhador, de outro, no livro de Engels, a massa de trabalhadores submetidos à relação capitalista de produção é introduzida como classe. Com esse salto categorial Engels pode desenvolver uma série de questões que expõem a situação concreta dos trabalhadores, moralmente informadas nos trabalhos dos economistas clássicos, em sua materialidade. Mesmo quando trata das “questões morais” dos trabalhadores e das trabalhadoras, como o roubo, a preguiça, o alcoolismo e a prostituição, ele vai à raiz da constituição moral, ou seja, as condições concretas e materiais da existência.
Dessa forma, traz para o centro da análise, o ser humano em suas relações humanas e não ideais, ou de uma “natureza humana” que possa existir independentemente das relações sociais a que esses seres humanos estão submetidos.
É do conhecimento geral a importância que Engels tem para a vida de Marx, tanto material, mas principalmente como interlocutor intelectual. Por outro lado, ele produziu uma vastíssima obra, além de ter mantido intensa militância na organização dos trabalhadores. Muitas vezes seu papel fica subsumido na magistral contribuição de Marx para o entendimento do mundo em que vivemos. A divisão do trabalho que se desenrolou entre os dois não pode relegar as específicas contribuições desse genial pensador que, além da grande facilidade com línguas diversas, acompanhava arguta e atentamente os avanços nas mais diversas áreas científicas.
Muitos são os livros, textos, materiais de divulgação e instrução política que Engels produziu juntamente com Marx, dos mais importantes: O Manifesto do Partido Comunista, A ideologia alemã, A Sagrada Família, aos prefácios de livros marxianos publicados após a morte do amigo e o magistral trabalho de organização, edição e publicação dos Livros 2 e 3 de O capital. Entretanto, de sua própria lavra, cumpre destacar o Anti-Dühring e A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Este último, sem dúvida, leitura obrigatória para o enfrentamento das condições desiguais em que permanecem todas e todos aqueles que não o homem branco e burguês.
A convicção engelsiana na revolução socialista é outra marca de seu caráter que se deve destacar. Em qualquer de seus livros, textos, prefácios, etc. podemos perceber um autor verdadeiramente otimista com o sucesso da luta da classe trabalhadora sobre qualquer forma de exploração. Mesmo os textos mais críticos, e são muitos, Engels não abre mão de uma argumentação cientificamente substantiva. A fina ironia com que tece suas críticas jamais se constituiu em biombo para escamotear seu profundo conhecimento e a certeza na vitória da classe trabalhadora. Por outro lado, não deixa de apontar as deficiências, falhas, escorregadas reformistas e desvios que, no seio mesmo da classe trabalhadora, aparecem e emperram a seu triunfo definitivo.
Nós, trabalhadores e trabalhadoras desse século XXI ainda não vislumbramos essa necessária vitória. No entanto, é urgente e reconfortante termos à nossa disposição, com tantos avanços tecnológicos que nos permite livre acesso, a leitura das contribuições ímpar de Engels à nossa luta.”
Disponível em https://pcb.org.br/portal2/26503