UNE Volante por uma Universidade Popular!

Manifesto do Movimento por uma Universidade Popular (MUP) para o 60º Congresso da UNE

UNE Volante por uma Universidade Popular – por que esse mote?
A UJC e o MUP vêm para disputar o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE) com o mote: “UNE Volante por uma Universidade Popular”. Com isso, retomamos o passado de mobilizações de uma UNE combativa e popular, por meio do resgate de uma das estratégias de luta mais importantes do movimento estudantil brasileiro: a UNE Volante, que, junto aos Centros Populares de Cultura (CPCs) da UNE, percorreu diversas regiões do Brasil para debater a Reforma Universitária e fortalecer a organização dos estudantes por meio de caravanas culturais e políticas, além de estratégias mobilizadoras e combatentes.

Hoje, a entidade se mostra fragilizada pela direção majoritária da UNE e suas conciliações com o governo, sendo central a retomada de uma UNE independente, ampla e combativa para construir a entidade em novas bases, dar substância a essas mobilizações e colocar no horizonte político a Universidade Popular. Colocamos também como prioridade a necessidade de resgatar a iniciativa da UNE Volante, que representou uma articulação inédita entre cultura, política e educação, consolidando a entidade, no passado, como combativa e como espaço de resistência e produção cultural.

Esse resgate não se dá apenas pela caravana em si, mas pela forma de mobilização das bases estudantis que pressionou o governo pela reforma universitária. A UNE Volante só foi um sucesso porque extrapolou os muros da universidade e chegou às ruas, aproximando a população da universidade, mostrando sua importância, suas produções e como funciona a visão de uma universidade do povo para o povo: a Universidade Popular!

Breve panorama histórico da UNE
A União Nacional dos Estudantes (UNE) é a entidade de representação histórica dos estudantes brasileiros, tendo sido fundada com ativa participação da UJC no fim dos anos 1930. Ela lutou na campanha “O Petróleo É Nosso!”, promoveu a alfabetização no interior do país, levou cultura e arte para todos os rincões do Brasil com os CPCs e resistiu aos golpes e às ditaduras nacionais.

Justamente por seu passado de resistência e combatividade, a estratégia política dos governos aliados ao campo democrático popular e à coalizão com a burguesia, especialmente após a redemocratização do país nos últimos 30 anos, vem aparelhando, imobilizando e submetendo seus interesses aos da burguesia.

Após a UNE Volante em 62, diversas tentativas de retomadas parecidas foram feitas, como caravanas em que apenas a direção da UNE participava – deixando de construir um movimento de massas e evidenciando a baixa mobilização ao longo dos anos –, e a tentativa da atual gestão da caravana “Clima de Futuro”, que buscou debater clima e reforma universitária e fracassou, pois não é possível fazer uma caravana nacional com a concentração de tarefas gigantescas nas mãos de poucos.

Democracia na UNE
Hoje, temos uma UNE burocrática, construída de cima para baixo e com pouca capacidade de mobilização. Apesar dos sucessivos “maiores congressos” que ocorrem a cada ano, vemos espaços com menos debates, menos disputa, mais aparelhamento e fraudes. São centenas de eleições fraudadas, entidades fantasma que só servem para contar votos no CONEG, milhares de irregularidades na distribuição de delegados e medidas antidemocráticas para manter a hegemonia da corrente majoritária.

Nos espaços da UNE, para as forças majoritárias, o que importa é a manutenção dessa hegemonia. Se fossem coletivizadas as demandas e distribuídas as tarefas entre todos que compõem a entidade, poderíamos utilizar todo o potencial mobilizador da UNE para aproximar os estudantes que só a conhecem em tempos de eleição e festival. A UNE tem, não só o potencial, como estrutura e estudantes que querem construir, mas que ficam à mercê do imobilismo da direção, que não aceita a construção coletiva com diferentes coletivos.

É preciso revitalizar o movimento estudantil e levá-lo a sério. Fortalecer os fóruns nacionais, estaduais e locais, construir entidades gerais e de base orgânicas, acabar com as fraudes são os princípios para reorganizar a UNE em novas bases. Isso é necessário para retomar a entidade para o lado das lutas e reafirmar seu compromisso político com os estudantes! Reconstruir a democracia na UNE é resgatar uma entidade combativa, independente e transparente: uma UNE dos estudantes!

Acesso e permanência estudantil
A situação atual do ensino superior no Brasil é que 71,3% (SEMESP, 2025) das matrículas estão na rede privada, enquanto o acesso na rede pública é condicionado à aprovação nos vestibulares. Isso se aplica apenas ao ensino presencial, pois no EAD chega a 97,4% dos estudantes na rede privada, que segue dominando a oferta dos cursos. De 2013 a 2023, o aumento de ingressantes na modalidade chegou a 543%. Ou seja, o acesso ao ensino pela classe trabalhadora é restringido, condicionando esse acesso à competição desigual ou ao endividamento. Ao mesmo tempo, a ausência ou insuficiência das políticas de permanência estudantil prejudicam as condições de estudo das classes trabalhadoras.

A renovação e expansão da Lei de Cotas é uma importante vitória, mas se mostra insuficiente para garantir o acesso real à educação de qualidade. Mesmo onde há acesso, não há condições de permanência. Vemos, ao longo dos anos, que, apesar do acesso à universidade ter aumentado, a evasão no ensino superior também cresce a cada ano. Isso ocorre porque as condições de permanecer – independente da modalidade de ensino – estão cada vez piores. Sem condições básicas como alimentação, água e sala de aula, é impossível reverter esse cenário.

A verdadeira solução para as desigualdades no acesso ao ensino superior é o fim da transferência de recursos públicos para o capital privado e o investimento sistemático na educação pública, garantindo uma expansão com qualidade rumo à universalização do acesso e ao fim do vestibular. Essa solução mexe diretamente com os interesses do capital privado na educação brasileira. Somente os estudantes, por meio de sua própria organização, podem assumir esse protagonismo sobre os rumos da universidade no Brasil, como a história muitas vezes mostrou.

A Universidade Popular em nosso horizonte
As demandas estudantis estão diretamente ligadas à luta de classes na pauta da Universidade Popular – uma universidade com ampla democracia interna e autonomia –, com um projeto pedagógico, científico e extensionista vinculado aos interesses estratégicos da classe trabalhadora. É preciso retirar as universidades das garras da burguesia e do interesse privado, colocá-las nas mãos da classe trabalhadora e vinculá-las ao interesse coletivo!

A universidade, sob os monopólios privados da educação, também funciona como instrumento de manutenção da ordem. Se a burguesia detém o poder nas universidades, a educação será transmitida de modo que o sistema capitalista seja mantido. Por isso, a UNE, enquanto entidade máxima de representação e defesa dos estudantes do Brasil, precisa urgentemente manter postura firme nas universidades, utilizando-as como “arma política” aliada à cultura da classe trabalhadora.

Devemos criar cada vez mais extensões populares, como uma ponte entre a população e a universidade, priorizando estudos que resolvam as necessidades da população, em vez de atender aos interesses lucrativos dos conglomerados privados. Estabelecendo pontes entre saberes técnicos e populares, mostramos que a educação deve estar ligada a um projeto de transformação social mais amplo.

No horizonte imediato, é preciso derrubar o arcabouço neoliberal e a Lei de Responsabilidade Fiscal, priorizando a Lei de Responsabilidade Social – que coloca como foco não o enriquecimento de rentistas, mas as demandas da classe trabalhadora. Defendemos 10% do PIB para a Educação, garantindo um ensino público, gratuito, de qualidade e alinhado aos interesses da classe trabalhadora.

Neste contexto de ofensiva neoliberal cada vez mais profunda na educação, precisamos ter em mente o horizonte futuro que queremos alcançar. Resgatar o caráter combativo da UNE, com posições firmes em defesa dos estudantes, é só o primeiro passo. Não é momento de abaixar a cabeça (ou seremos engolidos) nem de competição burguesa entre forças políticas que constroem a entidade, mas de fortalecer a democracia estudantil – que só existe com o trabalho coletivo dos estudantes. Contra o neoliberalismo, por uma Universidade Popular!

Contra os tubarões da educação: investimento público para a universidade pública!
Pelo fim da austeridade fiscal: revogação imediata das medidas neoliberais!
Por uma Lei de Responsabilidade Social, com 10% do PIB para a educação!
Por acesso e permanência, democracia e autonomia universitária!
Pela expansão da universidade pública e pelo fim do vestibular!
Por uma Universidade Popular!

Acesse a página da UJC, a Juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

https://ujc.org.br/une-volante-por-uma-universidade-popular/