Jaime Caycedo: a paz não será possível com outro genocídio
Tribuna Popular TP – ENTREVISTA INTERNACIONAL/Por Juan Carlos Millán / Terra Colombia.- Em diálogo com Terra Colombia, o secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caycedo, explicou as principais razões que, na sua opinião, levaram a direção do Polo Democrático a buscar sua expulsão, provocando o aprofundamento da crise enfrentada pela principal coalizão de esquerda existente no país, assim como o papel que deverá ser empenhado pela coletividade quanto a um eventual processo de paz com as guerrilhas das FARC e ELN.
Filho de senador da República, enfatiza que não é dos Caycedo que algumas pessoas imaginam. O dirigente localiza suas origens em um setor de classe média do Valle del Cauca, oriunda da região campesina de Caloto. A mãe, natural de Bogotá, e o pai, de Caloto, trabalhavam juntos.
Professor da Universidade Nacional, na qual se formou antropólogo há 40 anos, Caycedo reconhece em seu pai uma grande influência, através de sua militância no Movimento Revolucionário Liberal (MRL), fundado pelo ex-presidente Alfonso López e do qual acabou se separando, além de ser enfático em afirmar nunca ter comungado com as ideias da direita.
Companheiro de carreira do chefe máximo das FARC desaparecido, Alfonso Cano, com quem chegou a militar na Juventude Comunista (JUCO), embora reconheça as convergências no ponto de vista social e da luta política, se surpreendeu quando o jovem guerrilheiro tinha decidido empreender o caminho das armas. Respeitou a determinação pelas implicações que ela teve no momento para sua família, esposa e filho.
“Em grande medida, se existe um processo de paz é graças à proposta por ele defendida com relação à busca de uma solução política por parte desse movimento insurgente”, assegura o calejado político. Para Caycedo, a atual ofensiva das FARC e do ELN obedece à necessidade de reconhecer a condição das insurgências como negociadoras e não na qualidade de derrotadas.
Militante do Partido Comunista Francês, ao qual aderiu durante seus anos de formação acadêmica em Paris, o acadêmico se define como um produto das experiências que adquiriu, como uma pessoa medianamente inteligente e disposta a pensar nos demais.
A CONTROVÉRSIA
Como o Partido Comunista Colombiano (PCC) ingressou ao movimento da Marcha Patriótica?
No marco da comemoração do bicentenário, em 20 de julho de 2010, realizou-se uma primeira grande mobilização deste tipo. Ela ocorreu junto a uma similar, realizada pela Juventude Comunista, que nós acompanhamos como membros do Partido Comunista e conselheiros do Polo na cidade de Bogotá, no meu caso particular, acompanhando sua chegada à cidade de Bogotá de comum acordo com a administração distrital.
Desde então, temos mantido contato permanente e contínuo com este processo. Assim como o partido político, quer representar alguns setores, posto que se trata de um projeto político com múltiplas convergências de lutas sociais, inclusive em regiões do país que estão à margem da atenção estatal e fazem parte das 16 zonas de consolidação do Exército.
Qual participação teve seu partido na maciça caminhada celebrada pela Marcha Patriótica no mês de abril?
Fizemos um acompanhamento no qual alguns companheiros participaram na elaboração e redação de documentos de discussão. Continuamos muito próximos desse processo.
Existiu algum tipo de censura por parte da direção do Polo ao longo destes dois anos?
Nenhuma, mesmo porque nós vinhamos de uma série de acompanhamentos similares a grandes mobilizações, como a minga nacional indígena e outras marchas, como a realizada pelos cortadores de cana de açúcar do Valle del Cauca, que terminaram convertendo Bogotá no ponto de convergência até para casos como o do professor Moncayo, nas quais trabalhamos de mãos dadas com vários setores do Polo.
Quando começaram os atritos que desembocariam no anúncio da expulsão do Polo?
Isso é um assunto muito recente. Porque, inclusive, lembro que os organizadores da Marcha Patriótica se reuniram com a presidenta do Polo e apresentaram a possibilidade de participar sem nenhum compromisso de ordem orgânica. Em nenhum momento se esteve em cogitação a constituição de um partido político.
Dessa maneira, quando o Polo decidiu limitar-se a acompanhar com uma saudação ao movimento, nós entramos em desacordo. Pensamos a Marcha como um projeto de coincidências e trabalho comum de diferentes setores, inclusive o Polo, além de outras coisas.
Com uma crise tão profunda como a que atravessa o Polo, não caberia a possibilidade que este novo movimento possa terminar por absorvê-lo?
O nosso pensamento não é de absorções, já que o que buscamos é encontrar os elementos que temos em comum para trabalhar de maneira conjunta. Entre outras coisas, essa foi a maneira como se construiu o Polo. Um projeto que não é homogêneo e onde existem várias visões da esquerda que permitem funcionar nas condições apresentadas pelo país.
De fato, nós contribuímos para evitar que a Marcha Patriótica termine convertida em outro partido político. Mesmo porque esse não é o projeto, mas sim o do chamado a uma convergência de forças nas quais o Polo tem o papel importante de convocar a uma unidade mais ampla, por sua condição de núcleo originário nas diferentes tendências da esquerda.
Como seria essa recomposição de forças frente a um eventual processo de paz?
Creio que existirão profundas mudanças políticas e a primeira delas é por parte daqueles que estão a favor de que esse processo comece e se consolide, de maneira que se produza um resultado de paz.
Para esse momento, a opção política tomada pelos antigos membros das FARC e do ELN será a de alinhar-se a um partido de esquerda. Não acredito que tenham nenhuma afinidade com setores tradicionais. E isso também gera medo e, por isso, não se permite que exista um processo de paz suficientemente amplo.
O Polo está tentando se proteger do eventual ingresso de futuros ex-membros das FARC?
Pode ser. Acredito que, para qualquer força política, se um processo de paz é vitorioso, suas fileiras crescerão e isso deveria ser visto como uma nova oportunidade. No entanto, fechar as portas sem saber o que vai acontecer é um imenso erro político.
Fonte: http://www.pcv-venezuela.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1964
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)