O conflito sírio deve ser resolvido pelo próprio povo sírio

Partido Comunista do Canadá

agosto de 2012

A crise na Síria continua a se aprofundar a cada dia que passa. Milhares de pessoas foram mortas ou feridas, incluindo inúmeros civis atingidos no fogo cruzado entre grupos armados da oposição e forças do governo. Milhares de pessoas foram deslocadas de suas cidades e aldeias e forçadas ao exílio interno ou externo pelos combates. Neste sentido muito real, a situação tornou-se uma tragédia humana e social de primeira ordem.

Mas o que de fato está acontecendo na Síria? Quem está realmente provocando a violência e prolongando a agonia do povo sírio?

Os mídia ocidental controlada pelas corporações nos quer fazer crer que a causa raiz do conflito é o governo “tirânico” do presidente Bashar Al-Assad, que se agarra ao poder a qualquer preço, disposto a sacrificar a saúde e a segurança de seu próprio povo. Esta “grande mentira” é central para a intensificação da campanha de propaganda que visa vilanizar Al-Assad, a fim de ocultar o papel das forças reacionárias e clericais empenhadas em desestabilizar e, finalmente, derrubar o atual governo, tomando o poder para si próprios. E, se necessário, esta campanha de demonização será usada como um pretexto para a intervenção e ocupação  militar imperialista a fim de diretamente impor uma “mudança de regime”, como foi feito no Iraque e, mais recentemente, na Líbia.

A ofensiva da mídia global contra a Síria é apenas um aspecto de uma estratégia imperialista multifacetada para esmagar (e possivelmente desmembrar) o Estado sírio. O objetivo mais amplo é a formação de um “Novo Oriente Médio” de Estados árabes fracos e flexíveis sob o domínio dos poderes imperialistas norte-americanos e europeus e seu gendarme local da região, o estado expansionista de Israel. Isso garantiria o acesso irrestrito ao petróleo e outros recursos naturais da região, e ampliaria a hegemonia geopolítica imperialista para a Ásia, cercando em seguida tanto a Federação Russa como a China.

Minar o Estado sírio é fundamental para alcançar esta ambição imperialista. Devido à sua localização central na região, seu caráter secular e a orientação política socialmente progressista, e sua firme solidariedade com a justa luta do povo palestino e sua oposição às políticas expansionistas de Israel sionista, a Síria tem estado na mira do imperialismo dos EUA. Por suas próprias razões, regimes árabes reacionários – especialmente da Arábia Saudita e Qatar -, assim como da Turquia, também estão ansiosos para enfraquecer e destruir a Síria.

Uma “mudança de regime” em Damasco e sua substituição por um regime mais flexível, pró-imperialista, iria agravar a catástrofe para o povo sírio. Seria também alterar drasticamente o equilíbrio regional de forças, enfraquecendo as forças anti-imperialistas, o que serve como um prelúdio – e antessala – para a agressão da OTAN/Israel contra o vizinho Irã, o Estado mais poderoso da região.

Quando protestos contra o governo eclodiram na Síria no ano passado, o imperialismo dos EUA e seus aliados locais e regionais aproveitaram a oportunidade para lançar a sua campanha de desestabilização “testada e verdadeira”, usando o descontentamento popular (e, por vezes, métodos brutais utilizados pelas autoridades locais sírias para reprimir os protestos) como uma cobertura para entrar em ação. Muitos sírios estavam justificadamente irritados com o impacto de “reformas” neoliberais que enfraqueceram a produção nacional, aumentaram o desemprego, e ampliaram as disparidades sociais e econômicas entre a massa de pessoas que trabalham e os capitalistas nacionais e estrangeiros, auxiliados por funcionários do governo fracos, equivocados e, por vezes, corruptos.

Mas as vozes da oposição legítimas foram rapidamente ou cooptados ou jogadas de lado pelas gangues armadas e financiadas forte e intensivamente pelo estrangeiro, determinadas a tornar a Síria ingovernável. Ataques terroristas para estimular a repressão do governo; violência sectária para incitar a desconfiança e a hostilidade entre a maioria sunita, minorias alauítas e outras; o contrabando de armas pesadas e até de mercenários estrangeiros e, finalmente, chamamentos abertos para a intervenção estrangeira direta na violação da soberania nacional da Síria – este tem sido o plano de jogo orquestrado colocado em prática pela “oposição interna”. A extensão da intervenção estrangeira secreta já evidente no conflito demonstra que esta não é uma “guerra civil”, mas sim uma conspiração imperialista altamente coordenada contra a Síria.

Os mal-nomeados “Amigos da Síria” – a cabala dos EUA e de outras potências imperialistas, os regimes reacionários e despóticos árabes, e o contra-revolucionário Conselho Nacional Sírio – rejeitaram todas as tentativas do governo de Assad ao diálogo com a “oposição”,  para obter um cessar-fogo sob o plano de paz de Kofi Annan, ou pela introdução de reformas constitucionais que terminam o Estado de emergência e abrem caminho para eleições parlamentares mais abertas. Em vez disso, eles têm forçado, em várias tentativas, a tomada de sanções anti-Síria no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, e denunciam a Rússia e a China por vetarem resoluções escandalosas e perigosas que teriam dado o sinal verde para a agressão imperialista estrangeira, sob a sanção da Organização das Nações Unidas, como foi feito em março de 2011 contra a Líbia.

O governo Harper tem desempenhado um papel particularmente desprezível neste caso sórdido, batendo os tambores para as sanções e a guerra na Síria. Infelizmente, os principais partidos de oposição no parlamento do Canadá – os Liberais e o NDP – não têm feito nada melhor. Na verdade, os três partidos têm jogado juntos em relação à conspiração imperialista contra a Síria, argumentando em favor do “intervencionismo humanitário” e da “responsabilidade de proteger” (R2P) como justificativa para uma agressão.

O Partido Comunista do Canadá rejeita frontalmente o frenético clima de guerra criado sobre a Síria e o Irã, e adverte que o aventureirismo militar pode levar a uma conflagração bem perigosa por todo o Oriente Médio e mais além. Chamamos para:

– O pleno respeito à soberania e independência nacional síria;

– A remoção de sanções; o fim imediato de todo o apoio secreto, financeiro e militar, para o Exército Livre da Síria e outros grupos armados no interior da Síria, e;

– O cancelamento de uma “solução” militar em favor de um cessar-fogo por todos os combatentes e um diálogo nacional amplo para restaurar a paz neste perturbado país.