Ocupa Borel desafia toque de recolher da UPP
No dia 05/12/2012, mais uma vez a favela do Borel fez história. O movimento Ocupa Borel, inspirado nas mobilizações internacionais de ocupação de lugares públicos para protestar contra os poderes que agridem os direitos das pessoas, foi convocado via redes sociais e, principalmente, no “boca-a-boca”. O objetivo era protestar contra e, na prática, derrubar o “toque de recolher” arbitrário e ilegal imposto desde o dia 28/11 à comunidade pelos policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local.
Inicialmente apreensivos com a mobilização, feita em menos de uma semana, bem como com a possível reação da polícia, os organizadores logo foram surpreendidos pela adesão maciça de moradores, principalmente dos jovens da comunidade. Após se concentrarem na Rua São Miguel, em frente ao CIEP Doutor Antoine Magarinos Torres Filho, com aparelhagem de som e a fundamental presença da bateria da Unidos da Tijuca, o protesto se transformou num verdadeiro baile na rua, o que também foi muito simbólico, já que os bailes funk estão proibidos na favela desde a implantação da UPP em junho de 2010.
Mas a Ocupa não ficou por aí, todos sentiam que era necessário entrar na favela mesmo, para sentir se o desafio ao toque de recolher estava sendo bem sucedido. Embalados pela bateria e por uma “comissão de frente” formada por jovens levando cartazes, a Ocupa subiu a Estrada da Independência, principal via do Borel, até o largo conhecido como Terreirão, tradicional ponto de eventos da comunidade.
Em todo o trajeto e no final, ficou evidente que o toque de recolher havia sido completamente desmoralizado. Os policiais limitaram-se a ficar observando toda a manifestação, visivelmente contrariados, mas não cometeram nenhuma atitude truculenta. Pelas rua e becos, bares abertos, as pessoas na rua, nas janelas e em frente às suas casas, dançando ou simplesmente observando e aplaudindo.
Embora a esmagadora maioria dos participantes fossem moradores da comunidade, foi muito importante a presença de apoiadores externos, como universitários, funkeiros de outras comunidades, movimentos sociais, imprensa alternativa, etc.
A fantástica mobilização já deu resultados, embora como sempre o Estado reaja lentamente e de má-vontade. Ainda não foi agendada uma reunião do comando da UPP local e geral das UPPs com a rede de entidades do Borel, mas ontem (06/12) mesmo, à noite, em pleno plantão do grupo de policiais que mais aterroriza os moradores, não havia nenhum sinal do “toque de recolher”!
Como dissemos, mais uma vez o Borel faz história na caminhada de resistência das favelas do Rio de Janeiro. Há quase dez anos atrás, depois de uma brutal chacina onde PMs mataram 4 jovens da comunidade, o Borel também fez grande mobilização, incluindo umagrande marcha pelas ruas principais da Tijuca. Essa luta marcou o início de uma fase de organização e mobilizações mais organizadas das favelas e familiares de vítimas contra a violência policial.
Agora, na “nova” realidade inaugurada pela implantação das UPPs em algumas favelas do Rio a partir de 2008, mais uma vez os moradores do Borel mostram que é na rua e na mobilização direta que devemos desafiar a violência do Estado, em suas faces velhas e novas, e fazer valer os direitos e a dignidade do povo pobre e negro. E, mais uma vez, estamos juntos do Borel nessa luta pioneira.
Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência.