NÃO SEREMOS OS CADÁVERES DO SÉCULO XXI
(entrevista a Andrés Paris, Comandante das FARC-EP)
Às 8h e 15m da manhã de sexta-feira, 15 de março de 2013, a Delegação de Paz das FARC-EP chegou ao Palácio das Convenções de Havana. Com um bom dia e reiterando a exigência de que Simón Trinidad participe da mesa de Diálogos de Havana, o comandante Andrés Paris, membro plenipotenciário da Delegação das FARC, começou sua intervenção e recordou que, neste mês, fazem cinco anos do assassinato do comandante Raúl Reyes. Lembrou ainda que seu corpo permanece sob a posse do Estado colombiano e exigiu que os restos mortais de Raúl sejam entregues a seus familiares.
O comandante Paris também mencionou que, dia 26 de março, faz aniversário o desaparecimento físico do comandante Manuel Marulanda Vélez. A data foi transformada em Dia Internacional do Direito à Rebelião Armada. Convidou os jovens do mundo a apoiarem as causas de libertação dos povos, a fazerem uma grande jornada em homenagem à memória do comandante Marulanda e, concretamente, a retomarem a ideia de um plebiscito a favor da Paz na Colômbia. Em seguida, disse estar disposto a responder perguntas que os jornalistas ali presentes formulassem…
A primeira pergunta estava relacionada com o tempo do processo, pois, segundo declarações do presidente Santos, a assinatura de alguns acordos com a insurgência seria uma questão de meses e que o povo seria encarregado de referendar os ditos acordos. O comandante começou dizendo que estas declarações são motivo de debate no país e que, melhor dizendo, o povo realmente quer escutar é a vontade de avançar de fato, não de palavras, na busca dos acordos que ponham fim ao conflito. Porém, acrescentou que essa vontade deve transparecer não é só através de pregações, mas na prática, dado que as políticas que vem sendo implantadas no país e a maneira como vem sendo legisladas, não promovem garantias ao processo. Muito pelo contrário, são fatos totalmente adversos ao que está sendo buscado a partir dos diálogos: a Paz permanente. Ou seja, a paz estável e duradoura.
Compreende-se a partir das palavras do comandante Andrés, que a linguagem utilizada pelo presidente Santos que, entre outras coisas, emprega palavras muito próprias das propostas feitas pelas FARC-EP, é muito contrária aos fatos e à linguagem hostil e de guerra que permanece na boca de alguns dos principais ministros de seu governo. Assim, não se pode esquecer que a insurgência defende que na Paz verdadeira se produzam mudanças profundas, tomando como base as cem propostas feitas até agora pelas FARC.
A segunda pergunta se referiu ao caso de ser dada uma possibilidade de participação política das FARC, à qual movimento os guerrilheiros adeririam. Em resposta, o comandante disse que as FARC não emitem opiniões a respeito da participação concreta na política formal e muito menos de vincular-se a nenhuma força política. Porém, Paris aproveitou para lembrar que o foco deve ser continuar a denúncia, mostrando não estarem dispostos a se tornarem os cadáveres do século XXI, dizendo com isto que não existem garantias para uma plena participação política.
Terminou dizendo que “o contrassenso entre o que ocorre na mesa de conversações e o que expressa o presidente Santos está ligado ao fato de que as declarações públicas sempre se mostram mais avançadas diante da construção levada à mesa. No entanto, não se trata de desencorajar a obra que mantemos em curso no âmbito da agenda. Saudamos e dizemos que é um fato muito importante, se comparado aos processos anteriores, como os desenvolvidos em Caguán, Caracas e Tlaxcala, onde nem sequer foi possível esboçar o primeiro ponto…”.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)