Juan Manuel Santos recebe Caprilles

A ofensiva imperialista contra a Venezuela corre em várias frentes, mas na frente colombiana ela pode custar a Juan Manuel Santos a perda da possibilidade de um 2º mandato, também um penoso fim do mandato actual, com uma acentuada diminuição da sua aceitação junto do mais importante eixo latino-americano, Caracas-Brasília-Buenos Aires, como na esmagadora maioria dos países da América Latina, que não aceitam bem a violação do «consenso existente à volta da necessidade da ordem democrática».

A decisão do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, de reunir ontem [dia 28 de Maio] na Casa de Narino com o fascista venezuelano Caprilles Radonsky é um grave erro político que mostra que a oligarquia santanderista ainda não está preparada para se adaptar às realidades de um mundo multipolar.

Juan Manuel Santos, ao receber o instigador de uma onda de violência golpista que custou 11 vidas humanas depois das eleições de 14 de Abril na Venezuela (e contra quem decorre uma investigação da Justiça por estes factos), na prática desconheceu os resultados eleitorais que anteriormente tinha reconhecido, violou o seu relacionamento com a Venezuela de, pelo menos, respeitar a ordem institucional da V República, pôs em risco o Processo de Paz que tem em curso com a guerrilha (e de que a Venezuela é um dos principais garantes), e, o que é muito grave, foi contra o consenso existente na CELAC e na UNASUR de não aceitar o golpismo fascista.

Na realidade, Juan Manuel Santos está submetido a fortíssimas pressões, por um lado dos sectores oligárquico-militares dependentes do narco-paramilitarismo e do Plano Colômbia estadunidense, e por outro, da própria Casa Branca.

O narco-paramilitar Álvaro Uribe Velez, que aspira regressar à Casa de Narino, há já algum tempo que faz uma desapiedada campanha contra Juan Santos tendo em mira as eleições do próximo ano. Por outro lado, sondagens dos próprios meios da oligarquia colombiana agitam com uma suposta perda de popularidade de Juan Manuel Santos por causa dessa campanha, que assestou as suas baterias para o boicote das conversações de paz, e na sabotagem das relações com a Venezuela, impulsionadas por Juan Santos, e explora os fracassos colombianos, como a sentença judicial, adversa aos interesses colombianos no Caribe, no processo movido pela Nicarágua no Tribunal de Haia,

Por sua vez, os Estados Unidos estimulam a Aliança do Pacífico, um esquema de «livre comércio» com o objectivo de «conter» o avanço da China no mercado mundial e de destruir o processo de integração latino-americano expresso no MERCOSUR, na UNASUR, na CELAC e na ALBA. Nesse esquema, a Casa Branca quer impor uma versão do fenecido ALCA com o apoio de ambos os lados do Pacífico. Além do estímulo da Aliança do Pacífico, os Estados Unidos pretendem, obviamente, destruir o processo revolucionário venezuelano.

O custo político de ter recebido Caprilles é muito elevado para Juan Santos. Quem a credita que os sectores sob influência de Uribe o vão deixar em paz depois de deteriorar as suas relações com a Venezuela e com os países mais pujantes do processo de integração latino-americano engana-se, visto que o verdadeiro objectivo de Uribe é destruir o processo de paz com a guerrilha, destruindo no processo o próprio Juan Manuel Santos.

São esses sectores representados por Uribe, os que beneficiam directamente dos 6% do PIB colombiano destinados à guerra, para não falar das vultuosas receitas do narcotráfico. Por outro lado, o comércio da Colômbia com a Venezuela atinge vários milhares de milhões de dólares, cerca de 6.000, e calcula-se 40% das exportações colombianas para a Venezuela são compras do Estado bolivariano.

Além disso, Juan Manuel Santos parece ignorar que na Colômbia também existe uma opinião favorável que precisamente agora se fez ouvir nas ruas, mal se soube da reunião com Caprilles. É a mesma opinião que reclama as mudanças que agora se estão a ser discutidas no processo de paz em Havana e que, ao não verem satisfeitas as suas esperanças de reformas democráticas mínimas que permitam pôr fim à violência, manterão os níveis de conflitualidade (da luta armada à luta social de todo o tipo), que em primeiro lugar motivaram Juan santos a sentar-se á mesa das negociações.

Se Juan Santos acredita que pode agredir a Venezuela e ao mesmo tempo manter um status quo que lhe permita o fluxo de investimentos do outro lado do Pacífico e dentro da região, subestima quer o eixo Caracas-Brasília-Buenos Aires, como o pragmatismo da China. Os países sul-americanos não aceitarão o rompimento do consenso existente à volta da necessidade da ordem democrática que Juan Manuel Santos violou ao receber o golpista Caprilles. Por outro lado, apesar do seu pragmatismo, a China não se resignará a ver como os Estados Unidos desestabilizam impunemente uma das suas fontes mais importantes de recursos naturais.

Na realidade, o problema não é de Juan Santos mas da pouca capacidade da oligarquia colombiana para afrontar o desafio do declínio do Ocidente e do aparecimento de um mundo multipolar. Ou continua presa pela arreata à teta do Pentágono, mantendo os seus privilégios mas vendo cair as taxas de lucro e perdendo cada vez mais autonomia face aos interesses das transnacionais, perante os quais provavelmente acabará por afundar-se, ou aceita fazer as alterações, no interior e externamente, que prolonguem a sua existência, ainda que a ameacem a longo prazo. São decisões difíceis de tomar, especialmente para uma classe social tão reacionária e atrasada como a colombiana.

É possível que ao ver as consequências do seu deslize com Caprilles, Juan Santos termine por fazer marcha-atrás. Esperemos que a maioria da oligarquia colombiana se dê conta de que é melhor estimular as alterações que estas serem impulsionadas por conta da realidade.

*Jornalista e escritor

Publicado por Jorge Capelán para Comentarios e Información desde Nicaragua el 30/5/2013 emhttp://anncol.eu/

Tradução de José Paulo Gascão

http://www.odiario.info/?p=2895