A Revolução Cubana, vítima de seu êxito

imagemIlustração: «Monstriña», de María Verónica Ramírez, publicada no Clarín em 18/07/21

Atilio A. Boron

Cuba é vítima de seu próprio êxito. Uma conquista de formidável envergadura, mas que a opinião “bem pensante” insiste em caracterizar como um fenomenal fracasso.

Alguns o fazem por ignorância, repetindo a mensagem que lhes enviam os meios de comunicação dominantes e seus “opinólogos” a partir de um roteiro que em linhas gerais foi elaborado nos Estados Unidos desde os primeiros meses do triunfo da Revolução. Porém, na maioria dos casos, esta mensagem é emitida por uma nutrida caterva de mercenários da guerra comunicacional que sabem que estão mentindo, mas a generosa recompensa que lhes proporciona o império consegue silenciar suas dúvidas e virar frenesi para a difamação e a mentira contra os inimigos que Washington lhes apontou.

Disse sucesso, intencionalmente, porque de que outra forma poderíamos qualificar a atuação de um pequeno país que, apesar de ser vítima do bloqueio mais longo e abrangente da história da humanidade, conseguiu, graças à sua revolução, produzir admiráveis indicadores sociais.

Tomemos como exemplo, sem ir mais longe, a luta contra a pandemia Covid-19 e observemos o comportamento de um indicador-chave: o número de mortes por milhão de habitantes. Apesar das restrições criminosas impostas pelo bloqueio reforçado por Donald Trump e mantido por Joe Biden, a taxa de mortalidade por milhão de habitantes em Cuba é, até hoje, igual a 195 / milhão. No Brasil é 2.555, na Argentina 2.259; Bélgica 2.166; os Estados Unidos, carrascos do povo cubano, têm uma taxa de 1.881, sempre por milhão de habitantes; Chile, 1.808; Uruguai, 1.696 e Suécia 1.438 [1].

Resumindo: o “regime” cubano (como é batizado para desqualificá-lo) tem uma taxa de cuidado de sua população quase dez vezes maior que a da exemplar “democracia” americana e cerca de sete vezes mais eficaz que a dos tão admirados “democratas” suecos. Já que a proteção da cidadania é uma característica essencial da democracia, enquanto a existência de um sistema multipartidário não é nenhuma garantia disso (lembre-se que na ditadura brasileira pelo menos dois partidos políticos “funcionavam” e que sob os regimes de Anastasio Somoza e Alfredo Stroessner teve ainda mais ), com eleições periódicas e todas as características que a sabedoria convencional da ciência política considera consubstancial à democracia, a conclusão a que podemos chegar é que, desse ponto de vista, cuidando da população, Cuba Revolucionária é muito mais democrática do que qualquer um dos países nomeados acima.

Isso seria tudo, seus sucessos na luta contra a Covid-19? Não, de maneira nenhuma. A saúde como direito do cidadão atinge níveis formidáveis em Cuba, enquanto nos Estados Unidos (país agressor) é mais uma mercadoria, acessível a quem a puder pagar por ela. Quem tem dinheiro tem acesso à saúde, outros devem orar ao bom Senhor para libertá-los de todo mal. Um indicador sensível dos muitos que poderiam ser usados para representar graficamente o desempenho da saúde de Cuba é a taxa de mortalidade infantil: enquanto esta é de 4 por mil nascidos vivos na maior ilha das Antilhas, nos Estados Unidos, para sua desgraça, é de 6 por mil nascidos vivos, de acordo com o Banco Mundial. Na Colômbia, cujo governo se gaba (para sua desgraça) de ter convertido aquele país na “Israel da América Latina” e sobre o qual chovem os elogios de Mario Vargas Llosa, a cifra sobe para os criminosos 12 por mil nascidos vivos [2].

Como se isso não bastasse, Cuba é o único país da América Latina e do Caribe que alcançou a autossuficiência vacinal, não com uma, mas com duas vacinas já em uso e outras três em vias de aprovação. Países com muito mais população e economias muito maiores (Brasil, México, Argentina, por exemplo) mostram uma dependência lamentável nesta área, embora nenhum deles sofra um bloqueio como aquele que oprime cubanas e cubanos.

Some-se a isso o fato de que a Revolução Cubana apresenta uma taxa de alfabetização de 99,8% na população de 15 anos ou mais, contra 99,0% nos Estados Unidos; uma competição acirrada, mas na qual Cuba leva as honras [3]. E que o acesso à cultura, em todas as suas manifestações, é uma das grandes conquistas da Revolução Cubana, evidenciada na qualidade universal de seus músicos, seus artistas visuais, pintores, escritores e assim por diante. Junto com essa preocupação de socializar não só a economia, mas também a cultura, vem a democratização do acesso ao esporte. Em termos demográficos, o pequeno país é o primeiro da América Latina e do Caribe no que se refere ao cálculo das medalhas obtidas nos Jogos Olímpicos: com 226 medalhas no total, das quais 78 de ouro, está à frente não só de todos os outros países da região, mas também de outros como Canadá, Espanha, Dinamarca, Turquia e muito confortavelmente de Brasil, México e Argentina. E se olharmos o quadro de medalhas dos Jogos Pan-americanos, atrás do Golias norte-americano, que lidera com 2.066 medalhas de ouro, logo atrás vem Cuba com 908, Canadá com 491, Brasil 383, Argentina 327 e México 258 [4 ].

Nem é preciso dizer que essas conquistas não escondem os problemas que afligem a economia cubana. Fidel recordou permanentemente que a Cuba socialista era uma economia subdesenvolvida, dependente e altamente vulnerável, mais que qualquer outra na região por causa do bloqueio genocida a que está submetida. E embora seja um erro atribuir ao bloqueio todas as dificuldades econômicas de Cuba, já que muitas são endógenas – por exemplo, a atualização tardia do modelo econômico e o excesso de burocracia na gestão macroeconômica – não pode haver a menor dúvida de que esses problemas foram alimentados além da medida pelos efeitos devastadores de um bloqueio de sessenta anos. Qualquer análise da economia cubana que ignore este fato fundamental nunca poderá dar uma explicação convincente de seus problemas e deve ser considerada como uma grosseira peça de propaganda.

Conclusão: se o império realmente acreditou no que dizem seus porta-vozes, deveria suspender o bloqueio imediatamente para que possa saltar em vista que os problemas da economia cubana se devem à irracionalidade do socialismo e à inépcia do governo revolucionário, fazendo com que a população se rebelasse contra as autoridades e provocasse sua derrubada. Mas eles sabem que não é assim e por isso persistem com o bloqueio. Se não, por que incitar o sistemático repúdio universal contra uma política genocida que nos últimos 29 anos foi rejeitada por unanimidade quase absoluta na Assembleia Geral das Nações Unidas? Se Washington mantém o bloqueio é porque sabe muito bem que sem ele a economia cubana floresceria como nenhum outro país da região, e isso seria um péssimo exemplo para o resto do mundo. Seria a corroboração empírica da superioridade de uma economia socialista sobre a capitalista, e isso é um tabu para a direita e os imperialistas. Daí a obsessão doentia de todos os governos dos EUA, de 1959 até hoje, em manter o bloqueio.
Si no, ¿para qué concitar el periódico repudio universal en contra de una política genocida que en los últimos 29 años fue repudiada por la casi por absoluta unanimidad en la Asamblea General de las Naciones Unidas?

Si Washington mantiene el bloqueo es porque sabe muy bien que sin él la economía cubana florecería como en ningún otro país de la región, y eso sería un pésimo ejemplo para el resto del mundo.

Sería la corroboración empírica de la superioridad de una economía socialista sobre la capitalista, y eso es un tema tabú para la derecha y los imperialistas. De ahí la enfermiza obsesión de todos los gobiernos, desde 1959 hasta hoy, por mantener el bloqueo.

[1] Datos accesibles, al día 22 de julio del 2021 en https://www.worldometers.info/coronavirus/
[2]https://datos.bancomundial.org/indicator/SP.DYN.IMRT.IN?end=2019&locations=OE&name_desc=false&start=2019&view=bar
[3] https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Pa%C3%ADses_por_tasa_de_alfabetizaci%C3%B3n
[4] https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Medallero_de_los_Juegos_Panamericanos

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte:

La Revolución Cubana, víctima de su éxito