NED, a janela legal da CIA
Desde há 30 anos, a National Endowment for Democracy (NED), tem sido subcontratada para a parte legal das operações ilegais da CIA. Sem despertar suspeitas, pôs em prática a maior rede de corrupção do mundo, subornando sindicatos, associações patronais, partidos políticos, tanto da direita e como da esquerda para defenderem os interesses dos EUA em vez de defenderem os dos seus associados. Neste artigo descreve-se a extensão deste sistema.
Em 2006, o Kremlin denunciou a proliferação de associações estrangeiras na Rússia, algumas das quais participaram de um plano secreto, orquestrado pelo NED, para desestabilizar o país. Para evitar uma “revolução colorida”, Vladislav Surkov elaborou uma estrita regulamentação sobre estas organizações não-governamentais (ONGs). No Ocidente, esse quadro administrativo foi descrito como um “ataque à liberdade de associação” por Putin, o “Ditador” e pelo seu conselheiro.
Esta política tem sido seguida por outros Estados os quais, por sua vez, são rotulados pela imprensa internacional como dominados por “ditadores”.
O governo dos EUA alega que o Congresso pode subsidiar a NED e que a NED pode, por sua vez e de forma totalmente independente, ajudar direta ou indiretamente, associações, partidos políticos ou sindicatos, em todo o mundo. As ONGs, sendo, como seu nome sugere, “não-governamentais” podem tomar iniciativas políticas que embaixadores não poderiam assumir sem violar a soberania dos Estados que os recebem. O cerne da questão encontra-se aqui: a NED e a rede de ONGs que financia são iniciativas da sociedade civil injustamente reprimidas pelo Kremlin ou uma cobertura para os serviços secretos dos EUA apanharem os povos de mãos atadas com a sua ingerência?
Para responder a esta pergunta, vejamos as origens e funções do NED. Mas o nosso primeiro passo será analisar o significado deste projeto oficial dos EUA: “exportar a democracia”.
Que democracia?
Os EUA, como povo, subscreve a ideologia dos seus fundadores. Pensam de si mesmos como uma colónia que veio da Europa para estabelecer uma cidade obedecendo a Deus. Eles vêem o seu país como “uma luz na montanha” nas palavras de S. Mateus, adotada desde há dois séculos pela maioria dos seus presidentes nos seus discursos políticos. Os EUA seriam uma nação modelo, brilhando no topo de uma colina, iluminando o mundo inteiro. E todas as outras pessoas no mundo gostariam de emular este modelo para alcançar o seu bem-estar.
Para o povo dos Estados Unidos, esta crença muito ingénua implica que o seu país é uma democracia exemplar e que têm um dever messiânico de impô-la ao resto do mundo. (…)
Impregnado por essa mitologia nacional, o povo dos Estados Unidos não percebe que a política externa de seu governo é uma forma de imperialismo. (…) Por exemplo, aprendem na escola, que levaram a democracia para a Alemanha, não sabem que os factos históricos indicam o oposto: seu governo ajudou Hitler a derrubar a República de Weimar e criar um regime militar para combater os soviéticos. Esta ideologia irracional impede-os de contestar a natureza das suas instituições e o absurdo conceito de “democracia pela força”.
De acordo com o presidente Abraham Lincoln, a “democracia é o governo do povo, pelo povo para o povo”. Deste ponto de vista, os Estados Unidos não são uma democracia, mas um sistema híbrido onde o poder executivo está voltado para a oligarquia, enquanto as pessoas limitam este exercício arbitrário através de poderes legislativos e judiciais que podem controla-lo.
Com efeito, enquanto o povo elege o Congresso e alguns juízes, são os Estados da Federação que elegem o poder executivo e este último nomeia os juízes de mais alto escalão. Embora os cidadãos tenham sido chamados para determinar a escolha do Presidente, seu voto nesta matéria só funciona como uma ratificação, como o Supremo Tribunal salientou em 2000, em Gore versus Bush. A Constituição dos EUA não reconhece que o povo é soberano, porque o poder é dividido entre o povo e uma Federação de Estados, por outras palavras, entre os líderes dessas Comunidades. (…)
Nos últimos trinta anos, esta contradição foi suportada pela NED e à qual foi dada uma forma específica como desestabilizador de numerosos Estados. Com um sorriso, milhares de ativistas e ONG tornadas credíveis têm violado a soberania popular.
Em 1982, Ronald Reagan estabeleceu a NED em parceria com o Reino Unido e Austrália, para derrubar o “Império do mal”.
Uma fundação pluralista e independente
No seu famoso discurso em 8 de junho de 1982 no Parlamento britânico, o Presidente Reagan denunciou a URSS como “o Império do mal” e propôs-se ir em auxílio dos dissidentes lá e em quaisquer outros lugares. Ele declarou: “Precisamos criar a infraestrutura necessária para a democracia: a liberdade de imprensa, sindicatos, partidos políticos e universidades. Isto permitirá para as pessoas a liberdade de escolher o melhor caminho para eles para desenvolverem a sua cultura e para resolver suas disputas pacificamente”. Nesta base consensual da luta contra a tirania, uma Comissão de reflexão bipartidária patrocinou a criação da NED em Washington, criada pelo Congresso em novembro de 1983 e imediatamente financiada.
A Fundação subsidia quatro estruturas independentes que redistribuem dinheiro no exterior, tornando-o disponível para associações, sindicatos, membros da classe dominante e partidos da direita e da esquerda:
- Free Trade Union Institute (FTUI), atualmente renomeado American Centre for International Labour Solidarity (ACILS), gerido pela central sindical AFL-CIO;
- Centre for International Private Enterprise (CIPE), gerido pela Camara de Comércio dos EUA
- International Republican Institute (IRI), gerido pelo Partido Republicano
- National Democratic Institute for International Affairs (NDI), gerido pelo Partido Democrata.
Apresentado desta forma, a NED e os seus quatro tentáculos parecem estar ancorados na sociedade civil, refletindo a diversidade social e o pluralismo político. Financiado pelo povo dos EUA, pelo Congresso, estariam a funcionar para um ideal universal. Seriam completamente independentes da administração presidencial e a sua ação transparente não poderia ser uma máscara para operações secretas, servindo interesses não declarados. A realidade é completamente diferente.
Um drama produzido pela CIA, MI6 e ASIS
O discurso de Reagan em Londres teve lugar na sequência de escândalos envolvendo revelações em comissões do Congresso para inquirir sobre golpes sujos da CIA. O Congresso então proibiu a Agência de organizar mais golpes de Estado para serem conquistados mercados. Mas enquanto isso, na Casa Branca, o Conselho de Segurança Nacional (NSC) procurava pôr em prática outros instrumentos contornar esta proibição. (…)
O Presidente da Comissão bipartidária do Congresso era o representante especial dos EUA para o comércio, que considerou que a comissão não visava promover a da democracia, mas, de acordo com a terminologia corrente, a “democracia de mercado”. Este estranho conceito está de acordo com o modelo político dos EUA: uma oligarquia económica e financeira que impõe as suas escolhas políticas através dos mercados e um estado federal, enquanto parlamentares e juízes eleitos pelo povo protegem as pessoas de um governo arbitrário.
Três das quatro organizações periféricas do NED foram formadas na ocasião. No entanto, não havia necessidade de estabelecer uma quarta, a ACILS. Tinha sido criada no final da segunda guerra mundial embora tenha mudado de nome em 1978, quando a sua subordinação à CIA foi desmascarada. Com isso podemos tirar a conclusão de que a CIPE, IRI e NDI não nasceram espontaneamente, mas foram projetadas pela CIA.
Além disto, embora a NED seja uma associação sob a lei americana, não é apenas uma ferramenta da CIA, mas um instrumento compartilhado com os serviços secretos britânicos (por isso Reagan anunciou a sua criação, em Londres) e os serviços secretos australianos. Este ponto-chave é muitas vezes encoberto sem comentários. No entanto, é validado por mensagens de felicitações pelos primeiros-ministros Tony Blair e John Howard por ocasião do 20º aniversário desta assim chamada “ONG”. A NED e seus tentáculos são órgãos de um pacto militar anglo-saxão, ligando Londres, Washington e Canberra; o mesmo vale para o Echelon, a rede de intercepção electrónica, que pode ser utilizada não só pela CIA mas também pelo MI6 britânico e o australiano ASIS.
Para esconder esta realidade, a NED estimulou entre seus aliados a criação de organizações similares que trabalham com ela. Em 1988, o Canadá criou o centro Droits & Démocratie, que teve um foco especial primeiro no Haiti, depois no Afeganistão. Em 1991, o Reino Unido estabeleceu a Fundação de Westminster para a democracia (DQA). O funcionamento deste órgão público é decalcado da NED. A sua administração é confiada a partidos políticos (oito delegados: três para o partido conservador; três para o Partido Trabalhista; um para o Partido Liberal e outro para os outros partidos representados no Parlamento). A DQA tem trabalhado sobretudo na Europa Oriental. Desde 2001, a União Europeia está equipada com um instrumento europeu para a democracia e os direitos humanos (IEDDH), que desperta menos suspeitas que suas contrapartes. Este escritório é o EuropeAid, liderado por um alto funcionário tão poderoso quanto é desconhecido: o holandês, Jacobus Richelle.
Diretiva presidencial 77
Quando os parlamentares dos EUA votaram a o estabelecimento da NED em 22 de novembro de 1983, não sabiam que esta já existia em segredo nos termos da diretiva presidencial de 14 de janeiro. Este documento, desclassificado somente duas décadas mais tarde, organiza a “diplomacia pública” uma expressão politicamente correta para designar “propaganda”. A diretiva estabelece na Casa Branca grupos de trabalho para a NSC. Um destes grupos tem a tarefa de liderar a NED.
(…)
As coisas, no entanto, não passaram a ser transparentes. A maioria dos altos funcionários que têm desempenhado um papel central no NSC foram diretores da NED. Tais são os exemplos de Henry Kissinger, Franck Carlucci, Zbigniew Brzezinski ou até mesmo Paul Wolfowitz; personalidades que não permanecerão na história como idealistas da democracia, mas como cínicos estrategistas de violência.
O orçamento da NED não pode ser visto isoladamente, porque recebe instruções do NSC para liderar a ação como parte de vastas operações onde participam várias agências. Merece menção que os fundos são libertados pela International Aid Agency (USAID), sem serem registados no balanço da NED, simplesmente para não se dizer que é governamentalizada. Além disso, a Fundação recebe dinheiro indiretamente da CIA, após ter sido branqueado por intermediários privados como o Smith Richardson Foundation, o John M. Olin Foundation ou mesmo o Lynde e Harry Bradley Foundation.
Para avaliar a extensão do presente programa, precisamos combinar o orçamento do NED com correspondentes itens de orçamentos da Secretaria de Estado, da USAID, da CIA e do departamento de defesa. Hoje, tal estimativa é impossível.
No entanto, certos elementos podem nos dar uma ideia de sua importância. Durante os últimos cinco anos, os Estados Unidos gastaram mais de mil milhões de dólares em organizações e partidos da Líbia, um pequeno estado de 4 milhões de habitantes. No geral, metade deste maná foi lançado publicamente pela Secretaria de Estado, a USAID e a NED; a outra metade foi secretamente entregue pela CIA e pela Secretaria da Defesa.
Este exemplo permite-nos extrapolar que o orçamento global para corrupção institucional dos EUA equivale a dezenas de milhar de milhões de dólares anualmente. Além disso, o programa equivalente da União Europeia que é inteiramente público e prevê a integração com ações dos EUA, é de 7 mil milhões de euros por ano.
Em última análise, a estrutura jurídica da NED e volume do seu orçamento oficial são apenas disfarces. Na sua essência, não é uma organização independente para ações legais anteriormente confiadas à CIA, mas sim uma janela através da qual o NSC dá as ordens para ações legais incluídas nas operações ilegais.
A estratégia trotskista
Quando estava sendo organizada em 1984, a NED foi presidida por Allen Weinstein, em seguida, por John Richardson durante quatro anos (1984-88), finalmente por Carl Gershman (desde 1998). Estes três homens têm três coisas em comum:
- Estão ligados ao judaísmo;
- Eram membros ativos no partido trotskista, Trotskyite Party – Social Democrats USA
- Haviam trabalhado na Freedom House
Há uma lógica nisto: o ódio ao estalinismo levou alguns trotskistas a juntarem-se à CIA para lutar contra os soviéticos. Trouxeram com eles a teoria do poder global transpondo-o para as “revoluções coloridas” e a “democratização”. Eles simplesmente aplicaram a vulgata de Trotsky à batalha cultural analisada por Gramsci: o poder exercido psicologicamente, ao invés de pela força. Para governar as massas, a elite tem que primeiro inculcar uma ideologia que programe a sua aceitação do poder que pretende domina-lo.
American Centre for the Solidarity of Workers (ACILS)
Conhecido também como Solidarity Centre, o ACILS é o ramo sindical da NED, e pode ser considerado como o seu principal canal: distribui mais de metade dos donativos da Fundação. Substituiu organizações anteriores que serviram durante a Guerra Fria para organizar sindicatos não-comunistas pelo mundo, do Vietnam a Angola, passando pela França e pelo Chile.
O facto de sindicatos serem escolhidos para dar cobertura a este programa da CIA é de rara perversidade. Longe do lema marxista: Proletários de todo o mundo, uni-vos”, a ACILS junta os sindicatos dos EUA numa ação imperialista que esmaga trabalhadores de outros países. Esta subsidiária foi dirigida por Irving Brown, uma personalidade exuberante, desde 1948 até 1989, ano da sua morte.
Alguns autores garantem que Irving Brown era filho de um “russo branco”, companheiro de Alexander Kerensky. O que sabemos de certeza é que foi agente do OSS (serviço secreto dos EUA durante a Segunda Guerra mundial) e que participou na criação da rede Gladio organização da CIA e da NATO. Contudo recusou-se lidera-la, preferindo focar-se na área em que era perito, os sindicatos. Residiu em Roma, depois em Paris, nunca em Washington. Teve portanto um significativo impacto na vida pública italiana e francesa.
Em 1981 Irving Brown colocou Jean-Claude Mailly como assistente de André Bergeron secretário-geral da Force Ouvrière (FO). Este último reconheceu ter financiado as suas atividades graças à CIA. Em 2004 Mailly tornou-se secretário-geral da FO.
No fim da sua vida, gabou-se de nunca ter deixado de conduzir a central sindical francesa FO por detrás da cortina, para além de puxar os cordelinhos da associação estudantil UNI (em que estiveram ativos Nicolas Sarkozy e os seus ministros François Fillon, Xavier Darcos, Hervé Morin e Michèle Alliot-Marie, bem como o presidente da Assembleia Nacional, Bernard Accoyer e o presidente do grupo parlamentar da maioria Jean-François Copé) e ter formado pessoalmente membros de um grupo trotskista dissidente que incluíam Jean-Christophe Cambadelis e o futuro primeiro-ministro Lionel Jospin.
No final dos anos noventa, membros da Confederação AFL-CIO pediram contas da atividade real do ACILS, quando o seu caráter criminoso havia sido totalmente documentado em vários países. Poderia pensar-se que as coisas mudariam após esta exibição de provas. Nada disso ocorreu. Em 2002 e 2004, ACILS participou ativamente num fracassado golpe de Estado na Venezuela para derrubar o presidente Hugo Chávez e noutro com sucesso no Haiti para derrubar Jean-Bertrand Aristide. Atualmente, o ACILS é dirigido por John Sweeney, o ex-presidente da Confederação, AFL-CIO, que por sua vez é ele próprio originário do Trotskyite Party – Social Democrats USA.
Centre for International Private Enterprise (CIPE)
A CIPE centra-se na divulgação da ideologia liberal capitalista e luta contra a corrupção. O primeiro sucesso da CIPE: transformar em 1987 o European Management Forum (um clube de CEOs das grandes empresas europeias) no World Economic Forum (o clube da classe dominante transnacional). Esta grande reunião econômica e política anual de “quem é quem” no mundo, realiza-se na estância de esqui de Davos na Suíça, contribui para a criação de uma associação de classe que transcende a identidade nacional. CIPE certifica-se de que não tem nenhum vínculo estrutural com o fórum de Davos, e não foi possível – até o momento – provar que o Fórum Econômico Mundial é um instrumento da CIA. Mas pelo contrário, os chefes de Davos teriam muita dificuldade em explicar por que certos líderes políticos teriam escolhido o Fórum econômico como o lugar para atos da maior importância se não houvesse operações planeadas pelo NSC norte-americano.
Por exemplo:
- 1988: foi em Davos – não na ONU – que a Grécia e a Turquia fizeram as pazes.
- 1989: foi em Davos, que as duas Coreias, realizaram sua primeira reunião a nível ministerial e as duas Alemanhas realizaram sua primeira reunião sobre a reunificação.
- 1992: é novamente em Davos que Frederik de Klerk e Nelson Mandela libertado se reúnem para apresentar o seu projeto comum para a África do Sul pela primeira vez no exterior.
- 1994: ainda mais improvável, é em Davos, após o acordo de Oslo, que Shimon Peres e Yasser Arafat vêm negociar e assinar seu acordo para Gaza e Jericó.
A ligação entre Washington e o Fórum é notória através de Susan K. Reardon, ex-diretora da Association of Professional Employees of the Department of State tendo-se tornado diretora da Fundação da Câmara de Comércio dos EUA que gere a CIPE.
Outro sucesso da CIPE é a Transparency International, uma “ONG” oficialmente estabelecida por Michael J. Hershman, um oficial dos serviços secretos militares dos EUA. Além disso, é um dos diretores da CIPE e líder do serviço de recrutamento de informadores do FBI, bem como administrador do serviço de segurança e investigação privado Fairfax Group.
Transparency International é a primeira e principal cobertura para as atividades de espionagem económica da CIA. É também uma ferramenta para a comunicação social para obrigar os Estados a alterar a sua legislação garantindo a abertura dos mercados.
Para mascarar a origem da Transparency International, a CIPE apela para o savoir-faire do antigo responsável junto da imprensa do Banco Mundial, o neoconservador Frank Vogl. Este último instituiu uma Comissão que contribui para criar a impressão de que é uma associação nascida da sociedade civil. Esta Comissão de fachada é liderada por Peter Eigen, ex-diretor do Banco Mundial na África Oriental. Em 2004 e 2009, sua esposa foi candidata do SPD para a Presidência da República Federal da Alemanha.
O trabalho da Transparency International serve os interesses dos EUA e não lhe pode ser concedida credibilidade. Assim, em 2008, esta pseudo ONG denunciou que a PDVSA, a empresa petrolífera pública da Venezuela, era sujeita a corrupção; com base em informações falsas, e colocava-a como a última no seu ranking global de empresas públicas. O objetivo era, evidentemente sabotar a reputação de uma empresa que constituía o fundamento econômico da política anti-imperialista do presidente Hugo Chávez. Apanhada no ato de envenenamento da informação a Transparency International recusou-se a responder a perguntas da imprensa latino-americana e a corrigir o seu relatório.
Além disso, é surpreendente quando recordamos que Pedro Carmona, o correspondente da CIPE na Venezuela, foi colocado no poder por breve espaço de tempo pelos Estados Unidos, durante o golpe de Estado falhado para derrubar Hugo Chávez em 2002.
Focando a atenção sobre a corrupção económica a Transparency International permite mascarar as atividades do NED, corrompendo as elites governantes. para vantagem anglo-saxónica.
The International Republican Institute (IRI) and the National Democratic Institute for International Affairs (NDI)
O objetivo do IRI é corromper os partidos de direita, enquanto o NDI lida com partidos de esquerda. O primeiro é presidido por John McCain, o segundo por Madeleine Albright. Estas duas personalidades não devem ser consideradas políticos comuns, mas sim, como ativos líderes dos programas do NSC.
Para contextualizar, IRI e NDI renunciaram ao seu controlo sobre a Internacional Liberal e a Internacional Socialista. Assim, criaram organizações rivais: a União Democrática Internacional (IDU) e a Aliança para Democratas (AD). O primeiro é presidido pelo australiano, John Howard. O russo, Leonid Gozman da Causa Justa (Правое дело) é seu vice-presidente. O segundo é liderado pelo italiano Gianni Vernetti e co-presidido pelo francês, François Bayrou.
IRI e NDI são também suportados por fundações políticas, ligando-os a grandes partidos políticos na Europa (seis na Alemanha, dois na França, um na Holanda e outro na Suécia). Além disso, algumas operações foram subcontratadas a misteriosas empresas privadas tais como Democracy International Inc. que organizou recentes eleições manipuladas no Afeganistão.
Tudo isso deixa um gosto amargo. Os EUA corromperam a maioria dos grandes partidos políticos e sindicatos em todo o mundo. (…). As campanhas eleitorais tornaram-se espetáculos onde a NED escolhe o elenco, fornecendo os meios financeiros necessários para uns e não para outros. Mesmo a noção de alternativa perdeu o sentido desde que NED promove a alternância de um campo ou outro desde que siga as mesmas políticas de negócios estrangeiros e de defesa.
Atualmente, na União Europeia e noutros países, lamenta-se a crise da democracia. Os responsáveis por isto são claramente a NED e os EUA. E como podemos classificar um regime como o dos Estados Unidos, onde o líder da oposição, John McCain, na verdade é um líder do NSC? Certamente que não como uma democracia.
Balanço do sistema
Ao longo do tempo, a USAID, a NED, suas instituições satélite e suas bases intermediárias produziram uma burocracia complicada e gananciosa. A cada ano, quando o Congresso vota o orçamento da NED, animados debates surgem sobre a ineficácia deste sistema tentacular e rumores de que os fundos têm sido apropriados para beneficiar os políticos dos EUA encarregados de administrá-las.
Para conseguir uma boa gestão, têm sido encomendados estudos para quantificar o impacto destes fluxos financeiros. Especialistas compararam os montantes atribuídos em cada Estado e o ranking democrático destes Estados segundo a Freedom House. Então calculam quanto precisam gastar em dólares por habitante para melhorar de um ponto o ranking democrático de um dado Estado.
Claro, tudo isso é apenas uma tentativa de autojustificação. A ideia de estabelecer uma classificação de democracia não é científica. Em alguns aspectos, é totalitária, pois assume que existe apenas uma forma de instituições democráticas. Por outro lado, é infantil estabelecer uma lista de critérios díspares com coeficientes fictícios transformando uma complexidade social num único número.
(…)
Seja como for, em 2003, no seu vigésimo aniversário, a NED elaborou um relatório da sua ação, evidenciando ter financiado mais de 6.000 organizações políticas e sociais do mundo, um número que não parou de aumentar a partir de então. A NED afirma que sozinha criou o sindicato Solidarnosc na Polónia, a carta 77 na Checoslováquia e o Otpor na Sérvia. Estava orgulhosa por ter criado a partir do zero a rádio B92 ou o diário Oslobodjenje na ex-Jugoslávia e uma série de novos meios de comunicação independentes no Iraque “libertado”.
Em dezembro de 2011, as autoridades egípcias fizeram uma busca nos escritórios do NDI e IRI no Cairo. Os documentos que foram apreendidos são da maior importância para compreender a ingerência dos EUA desde que o “ninho de espiões” foi removido de Teerão, em 1979. Acusados de espionagem, os líderes locais do NED são julgados. Os documentos provaram que a NED é inteiramente responsável por ter manipulado a pseudo revolução que teve lugar na Praça Tahrir e que resultou em mais de 4.000 mortes levando a Irmandade Muçulmana ao poder.
Mudando de cobertura
Depois de experimentar um sucesso global, a retórica de democratização já não convence. Ao utilizá-lo em todas as circunstâncias, o presidente George W. Bush empobreceu o seu significado. Ninguém pode reivindicar seriamente que os subsídios pagos pela NED vão fazer desaparecer o terrorismo internacional. A alegação de que as tropas dos EUA derrubaram Saddam Hussein para oferecer democracia aos iraquianos, não pode mais ser afirmada de forma persuasiva.
Além disso, os cidadãos em todo o mundo que lutam pela democracia tornaram-se desconfiados. Agora entendem que a ajuda oferecida pelo NED e seus tentáculos na verdade visam manipular e apanhar os seus países numa armadilha. Eis porque cada vez mais recusam as contribuições “sem teias ou bastões anexados” que lhes são oferecidas.
Nos EUA dirigentes de diferentes canais de corrupção tentaram silenciar o sistema por mais de uma vez. Após os truques sujos da CIA e da transparência da NED, pretendiam criar uma nova estrutura que substituiria um pacote desacreditado. Não seria gerido por sindicatos, patronato e os dois grandes partidos, mas pelas multinacionais no modelo da Fundação Ásia.
Na década de oitenta, a imprensa revelou que esta organização foi uma cobertura da CIA para lutar contra o comunismo na Ásia. Posteriormente foi reformada e a sua gestão confiada às multinacionais (Boeing, Chevron, Coca-Cola, Levis Strauss, etc….). Esse novo estilo foi suficiente para dar a impressão de que era não-governamental e respeitável – porém era uma estrutura que nunca deixou de servir a CIA. Após a dissolução da Rússia, ela foi replicada na Fundação Eurásia, cujo mandato cobre a ação secreta para os novos Estados asiáticos.
Outra questão que anima o debate é se as contribuições para a “promoção da democracia” teriam de assumir a forma exclusiva de contratos para realizar projetos específicos ou subsídios com nenhum dever de atingir metas. A primeira opção oferece melhor cobertura legal, mas o segundo é uma ferramenta muito mais eficaz de corrupção.
Dado este panorama, os requisitos previstos por Vladimir Putin e Vladisl Surkov para regular o financiamento das ONGs na Rússia é legítimo, mesmo se a burocracia que eles criaram para o fazer é enorme e difícil de satisfazer. O instrumento NED, criado sob a autoridade do NSC não apenas falha em apoiar as tentativas de democracia em todo o mundo como as envenena.
Devido à extensão do texto alguns trechos foram omitidos. A versão integral pode ser consultada em www.voltairenet.org/article192992.html.
Tradução de DVC.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/eua/ned_cia.html