Carta de protesto dos parlamentares franceses e europeus contra a nomeação de Álvaro Uribe Vélez na França

Nós, parlamentares franceses e europeus, manifestamos a nossa indignação com a nomeação do ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe Vélez como professor na França na escola Nacional de Engenheiros de Metz (ENIM).

A União Europeia e a França reivindicam ser defensores dos direitos humanos. Aceitar essa nomeação seria adicionar uma nova incoerência ao cumprimento destes objetivos políticos, e dar um mau exemplo para a educação dos jovens europeus.

Gostaríamos de lembrar o balanço do mandato do Sr. Uribe na defesa dos direitos humanos:

O Sr. Uribe desenvolveu uma controversa política de “Segurança Democrática”, que buscava oficialmente lutar contra a insegurança e reforçar o Estado de Direito. Em um contexto de conflito armado na Colômbia há mais de 50 anos, este prometeu aos soldados, bônus e benefícios para cada guerrilheiro morto em combate. Esta “políticas de cifras” desastrosas teve o efeito de incitar os militares a matar mais de 3000 civis inocentes, provenientes das favelas para disfarçá-los e apresentá-los como “guerrilheiros mortos em combate.”

Vários casos de assassinato, corrupção e revelações em consequência da lei “Justiça e Paz” foram capazes de mostrar fortes laços entre os esquadrões da morte (paramilitares), ligado à máfia e à família política de Uribe. Mais de 120 políticos próximos ao seu governo estão sendo investigados e dezenas são condenados por ligações criminosas. Até mesmo o primo do ex-presidente e associado político, Mario Uribe, acaba de ser condenado a sete anos de prisão por ter usado organizações criminosas para facilitar sua eleição para o parlamento nacional, e grilado grandes quantidades de terra fértil.

A Colômbia é hoje o segundo país (depois do Sudão), com mais deslocados no mundo. Assim, o fenômeno que começou antes de Álvaro Uribe chegar ao poder, estima-se que 2,4 milhão de pessoas foram deslocadas durante seu mandato. Além disso, existem relatos de mais de mil sepulturas em massa na Colômbia e um cemitério com mais de 2.000 corpos não identificados, localizado no departamento de Meta, “alimentado” pelos militares desde 2005. Em outras regiões, os relatórios mostram que os crematórios estavam instalados para desaparecer os corpos das vítimas.

Vários casos de corrupção envolvendo o governo e a família política de Uribe foram descobertos durante seu mandato. É o caso, por exemplo, do seu ex-ministro da agricultura, que está sendo julgado por desvio de enormes quantias de dinheiro de seu principal objetivo (ajudar o pequeno campesinato) para beneficiar os grandes latifundiários e, indiretamente, contribuir para o financiamento de reeleição do Sr. Uribe.

Sob a presidência de Uribe, o serviço secreto colombiano (DAS) foi usado ​​para espionagem, perseguição, ameaças, estigmatizar e atacar os defensores dos direitos humanos, sindicalistas, opositores políticos, jornalistas, o Supremo Tribunal de Justiça; a recente descoberta de documentos internos da DAS revelam o plano de vigiar e desacreditar a Comissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu, o Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU e ONGs de direitos humanos. Entre estas organizações ou pessoas, várias foram explicitamente identificadas pelo ex-presidente como “vitrine intelectual” das FARC, e colocadas em perigo.

A nomeação do Sr. Uribe para o cargo de “professor universitário” na l’ENIM não é fortuita. Isso aparece depois que o governo colombiano durante o mandato de Uribe, concedeu-lhes a modernização dos centros de formação na Colômbia (SENA). Na ocasião, Uribe tinha sido nomeado “Engenheiro Honoris Causa da ENIM”. O Sr. Uribe, comprometido por vários casos graves em seu país, havia tentado criar uma respeitabilidade e tornou-se nomeado professor na Universidade de Georgetown (EUA). Mas essa tentativa havia criado uma forte rejeição pelo ambiente estudantil e da sociedade civil dos EUA.

Hoje, apelamos a todos os cidadãos e cidadãs franceses e europeus para denunciar a nomeação de Álvaro Uribe para a ENIM, e exortar esta instituição de ensino para quebrar o presente contrato.

Acreditamos que o sistema de ensino europeu não pode servir para “limpar” as pessoas que cometeram violações dos direitos humanos, e que o Sr. Uribe deve responder pelas acusações de que é responsável perante as autoridades colombianas, ou na falta deste, frente ao Tribunal Penal Internacional

ASSINAM:

Jürgen Klute, deputado europeu, Alemanha, Delegação à Assembleia parlamentaria EUROLAT.

Jean-Luc Mélenchon, deputado europeu, França, Vice-presidente da Comissão de Assuntos Exteriores.

Martine Billard, deputada francesa, Vice-presidente do Grupo de Amizade França-República da Colômbia.

Nikolaos Chountis, deputado europeu, Grécia, Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários.

Marie-Christine Vergiat, deputada europeia, França, Comissão de Direitos Humanos.

Cornelia Ernst, deputada europeia, Alemanha, Comissão Liberdades Civis, Justiça e Assuntos do Interior.

Gabriele Zimmer, deputada europeia, Alemanha, Comissão de Desenvolvimento.

Eva-Britt Svensson, deputada europeia, Suécia, Presidente da Comissão de Direitos da Mulher e Igualdade de Gênero.

Georgios Toussas, deputado europeu, Grécia, Comissão de Transportes e Turismo.

Charalampos Angourakis, deputado europeu, Grécia, Comissão de Desenvolvimento Regional.

Bairbre de Brún, deputada europeia, Reino Unido, Comissão do Meio Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar.

Thomas Händel, deputado europeu, Alemanha, Comissão de Emprego e Assuntos Sociais.

Willy Meyer, deputado europeu, Espanha, Vice-presidente da Delegação à Assembleia parlamentar EUROLAT.

Sabine Wils, deputada europeia, Alemanha, Comissão do Meio Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar.

Helmut Scholz, deputado europeu, Alemanha, Comissão do Comércio Internacional.

Catherine Grèze, deputada europeia, Delegação à Assembleia parlamentar EUROLAT.

Sabine Losing, deputada europeia, Alemanha, Comissão de Assuntos Exteriores.

Miguel Portas, deputado europeu, Portugal, Comissão de Crises Financeiras, Econômicas e Social.

Jacky Henin, deputado europeu, França, Comissão de Indústria, Pesquisa e Energia.

Raül Romeva i Rueda, deputado europeu, Espanha, Delegação à Assembleia parlamentar EUROLAT.

Dominique Voynet, parlamentar francesa, Secretária da Comissão de Assuntos estrangeiros, defesa e forças armadas.

Noël Mamère, deputado francês, Secretaria da Comissão de Leis.

Francois de Rugy, deputado francês, Secretaria da Comissão da Assembleia Nacional.

Jean Desessard, parlamentar francês, Comissão de Assuntos Sociais.

Ivan Renar, parlamentar francês, Vice-presidente da Comissão de Cultura, educação e comunicação.

Marie-Christine Blandin, parlamentar francesa, Secretária da Comissão de Cultura, educação e comunicação.

Michel Billout, parlamentar francês, Vice-presidente da Comissão de Assuntos Europeus.

Alima Boumediene-Thierry, parlamentar francesa, Comissão de Assuntos Europeus.

Anny Poursinoff, deputada francesa, Comissão de assuntos econômicos.

Pascal Canfin, deputado europeu, França, Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários.

Fonte: http://www.kaosenlared.net/noticia/carta-protesta-parlamentarios-franceses-europeos-contra-nominacion-alv