“É uma grande vitória do povo e do governo sírio derrotar os terroristas que têm tanto respaldo do mundo”
A análise de James Petras em CX36, 26 de dezembro de 2016
“Existem mais de 1.500 terroristas que vêm da Arábia Saudita para lutar contra o governo eleito da Síria. Porém, de todo modo, é algo espetacular que a Síria, com o apoio da Rússia, Irã e Hezbollah, possa derrotar tantos países agrupados contra seu governo: Arábia Saudita, União Europeia, EUA e todos os demais, incluindo a Turquia. É uma grande vitória do povo e do governo sírio derrotar os terroristas que têm tanto respaldo do mundo; isso se deve à capacidade do povo sírio em avançar no processo de libertação. E não devemos minimizar a aliança entre a Rússia e a Síria no avanço para estas vitórias”, disse o sociólogo norte-americano, professor James Petras, em sua coluna semanal de análise da conjuntura internacional na CX36 (*). Além disso, Petras falou dos anúncios de Donald Trump, da reação sionista pela votação do Conselho de Segurança da ONU e advertiu sobre os eventos trágicos que ocorreram contra a Rússia – o assassinato do Embaixador na Turquia e a queda do avião que levava o coro russo para cantar às tropas na Síria – se a responsabilidade não for dos EUA, tendo em conta as ameaças de Obama contra a Rússia. Transcrevemos esta análise que pode ser ouvida novamente no link:
http://www.ivoox.com/analisis-
Efraín Chury Iribarne: James Petras, bom dia. Como está neste 26 de dezembro?
James Petras: Estou bem, recuperando-me do grande almoço de ontem no dia de Natal. É tempo de fazer uma longa caminhada para ajudar na digestão.
EChI: Sim, isso faz muito bem.
O ano de 2016 vai se encerrando. No entanto, queria começar com as Nações Unidas (1), sobre os assentamentos israelenses na Palestina.
JP: Devemos entender que Israel há tempos está ocupando os territórios palestinos. Há mais de seiscentos mil judeus ocupando terra palestina e está programada a construção de mais de cinco mil casas; uns quinze mil judeus a mais, tomando mais terras da Palestina, em Jerusalém e em outros lugares.
Devemos considerar também que, depois da decisão da grande maioria do Conselho de Segurança, Israel lançou uma onda de ataques à Palestina, inclusive atacando uma marcha de Papai Noel e outras figuras natalinas com balas, arrebentando as portas das casas e entrando, prendendo várias pessoas. A reposta de Israel é como a dos nazistas, ou seja, cada vez que a maioria da comunidade internacional os condena, se colocam histéricos e começam a castigar, atacar e matar mais palestinos.
A única forma que temos de entender a aprovação desta resolução do Conselho de Segurança da ONU e a abstenção dos EUA é porque, depois de oito anos de humilhação, Obama decidiu dizer basta e abster-se para castigar Israel, não só pelas políticas contra a Palestina, mas também pela forma que dirige e controla a política norte-americana.
A resposta israelense é incrível. Após receber um novo acordo de finanças de 3.8 bilhões a cada ano a partir de 2018, acusam Washington de trair, de violar acordos e toda uma série de coisas de teor mais estúpido que alguém pode imaginar. O fato é que é algo pendente.
Agora, Trump anunciou que vai mudar o voto norte-americano e voltará a ser o servo de Israel. Assim, não podemos ser demasiado otimistas quanto ao fato de que os Estados Unidos manterão uma posição independente e a favor da maioria das Nações Unidas.
Devemos repudiar Israel em todas suas políticas, suas acusações e suas apologias por crimes contra os palestinos.
EChI: O chamado aos Embaixadores supõe uma sorte de ameaça aos países que votaram contra Israel.
JP: Sim, porém, Israel necessita do mundo, e o mundo não necessita de Israel. Essas são as coisas loucas de Israel. Acreditam ser a raça superior no mundo, acreditam que sua palavra vale mais. Israel tenta intimidar, porém, não tem nenhum impacto nas grandes maiorias dos povos que estão horrorizados pelos crimes constantes de Israel.
Contudo, este chamado aos Embaixadores é uma forma de enviar sinais aos sionistas em países como os EUA, de aumentar pressões, utilizar os bilionários para pressionar os congressistas. Porém, não tem efeito sobre o voto, não vai afetar os povos. No entanto, sim, pode influir os congressistas, a partir dos sionistas que têm o dinheiro e as influências nos países da Europa e América do Norte.
EChI: Passemos à sorte de enfrentamento que surge entre a Coroa e a Primeira Ministra pelo tema ‘brexit’ na Inglaterra.
JP: A imprensa financeira está muito preocupada porque não quer perder o mercado financista na Europa e tem empresas e funcionários que chegam de diferentes países, e é o lugar do qual Washington e os poderes mundiais dependem. Então, é muito importante que o ‘brexit’ signifique uma fragmentação do poder e permita que os ingleses, por fim, possam tomar suas decisões e não esperar as decisões da oligarquia em Bruxelas. Está provocando grandes descontentamentos nos centros financeiros mais que em qualquer outro, porque significa algo mais de autonomia para os capitais ingleses, para avançar no comércio em muitos lugares. Porém, sem os mercados europeus, os grandes capitais estão em situação mais complicada e não têm ideia de como escapar e entrar no mercado europeu se não possuem as mesmas vantagens que a Alemanha, França e os outros países. No entanto, estão negociando como é possível combinar alguns acordos entre os capitais desses países, principalmente do setor financeiro, porém os franceses e os ingleses estão em conflito porque a França quer deslocá-lo como centro de finanças na Europa.
EChI: A Síria foi, neste ano, um dos centros dinâmicos quanto à informação, teve o mundo em vigília.
JP: Sim, recebemos hoje a notícia que dos dois mil terroristas da Arábia Saudita atuando contra qualquer governo, mais de dois terços estão na Síria. Ou seja, existem mais de 1.500 terroristas que vêm da Arábia Saudita para lutar contra o governo eleito da Síria. Porém, de todo modo, é algo espetacular que a Síria, com o apoio da Rússia, Irã e Hezbollah, possa derrotar tantos países agrupados contra seu governo: Arábia Saudita, União Europeia, EUA e todos os demais, incluindo a Turquia.
É uma grande vitória do povo e do governo sírio derrotar os terroristas que têm tanto respaldo do mundo; isso se deve à capacidade do povo sírio em avançar no processo de libertação. E não devemos minimizar a aliança entre a Rússia e a Síria no avanço para estas vitórias.
EChI: Bem, Petras Os minutos finais, como sempre, ficam para que você comente outros temas.
JP: Bem. Existem duas ou três coisas que quero mencionar.
Primeiro, o mais breve, é que o novo presidente estadunidense, Donald Trump, anunciou que vai assinar decretos anulando 70% dos decretos presidenciais de Obama, incluindo alguma legislação de proteção ao meio ambiente e outras medidas que davam algum apoio fiscal para a proteção da saúde dos mais pobres; e, portanto, podemos esperar com Trump que se eliminem todas as regulações sobre Saúde, trabalho, etc.
Outra coisa que quero ressaltar e que devemos reconhecer: mais de 56% do povo russo está lamentando a dissolução da União Soviética e se sentem defraudados pela democracia ocidental, que eliminou os programas sociais. Agora entendem que a URSS e o socialismo eram muito mais positivos que o liberalismo ocidental.
Finalmente, quero destacar algo que é preciso considerar. Depois que Obama começou com as acusações contra a Rússia, que dizia estava envolvida com Trump, intervindo nas comunicações do Partido Democrata, Obama, em um momento de histeria, disse que vai empreender represálias contra a Rússia, clandestinas e abertas. E disse textualmente que ‘não vamos anunciar nem definir o que vamos fazer, porém, vamos empreender represálias’.
Então, em poucos dias, assassinaram o Embaixador russo na Turquia; posteriormente, um acidente levou à queda de um avião russo, com 92 passageiros, que se desintegrou pouco depois de sair do aeroporto. O avião levava a orquestra e o coro russo que ia tocar para os soldados na Síria. É preciso perguntar-se se Obama não está envolvido nestes eventos, se está usando a CIA clandestina para contratar o assassino e aplicar um cyberataque para derrubar o avião. Devemos levar Obama a sério quando declarou que ia empreender represálias em um contexto como este, com assassinatos, ataques, panes na Rússia. Os EUA não estarão envolvidos?
EChI: Muito bem, Petras. Obrigado por esta contribuição. Reencontramo-nos na segunda-feira.
JP: Um abraço. Tchau.
Notas da Redação:
(1) A ONU condena os assentamentos de Israel na Palestina
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, na sexta-feira 23 de dezembro, uma resolução contra os assentamentos de Israel na Palestina.
A resolução número 2.334 foi aprovada com 14 votos a favor dos 15 países que formam o Conselho de Segurança. Os Estados Unidos se abstiveram de votar.
(*) Escute ao vivo às segundas-feiras, às 11:30 (hora local), a audição de James Petras na CX36, Radio Centenario de Montevidéu (Uruguai) na 1250AM do Dial; e para todo o mundo através de www.radio36.com.uy
Fonte: http://www.radio36.com.uy/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)