Colômbia: o Império e nossa paz

imagemArtigo de Jaime Caycedo Turriago*

Voz, 14 de fevereiro de 2017

No sábado, 11 de fevereiro, ocorreu a anunciada chamada de Donald Trump a Juan Manuel Santos.

A imprensa elogiou o tom amigável do ianque com Santos, o reconhecimento do processo de paz entendido como prolongamento do Plano Colômbia, agora Paz Colômbia, e os compromissos militares do governo em instrução nos países centro-americanos, sem dizer o papel da Colômbia como instrumento da política intervencionista e de polícia internacional de Washington, a que nos incorporam, sem consultar, aos acordos do governo com a OTAN.

Esta postura de submissão e adulação que hoje se apresenta como uma natural e indiscutível continuação do Acordo de Paz é, na realidade, uma distorção total do significado do mesmo para aqueles que o veem a partir do continente e se contrapõe a sentimentos de profunda raiz anti-imperialista na América Latina e no Caribe, que compreendem como sua a esperança de paz na Colômbia.

O comunicado de Trump é ainda mais revelador. Exalta o regime governante e o define como seu principal aliado no hemisfério ocidental. Nenhum indício de indenizar ou reparar o país por sua intervenção aberta na promoção, armamentismo e direção da guerra contrainsurgente, responsável por milhares de compatriotas mortos e/ou mutilados.

Trump parece coincidir com Santos nessa caracterização da Colômbia como “estado vassalo” e aliado incondicional, que já teve desastrosas consequências com Turbay Ayala, quando da guerra das Malvinas ou, mais recentemente, com os caprichos agressivos e provocadores de Álvaro Uribe ante o Equador e a Venezuela.

Por isso, tantos elogios devem ser motivo de preocupação e, para a esquerda, de indignação. Contrastam com o tratamento grosseiro, desdenhoso e arrogante com o México e a Venezuela, para não dizer com Cuba, logo após a morte de Fidel.

Com o México, despertam repúdio as ordens executivas em matéria migratória e acerca da construção do muro nos dois terços faltantes da fronteira que, segundo Trump, deve ser paga pelos próprios mexicanos. Com a Venezuela, nesta segunda-feira, a administração do mandatário republicano decidiu incluir o vice-presidente Tareck El Aissami na lista dos ‘Grandes Chefes do Narcotráfico’, também chamada de ‘Lista Clinton’. Esta classificação abertamente despótica e ilegal se acrescenta à de “ameaça à segurança nacional dos EUA”, que já tinha sido decretada e ratificada por Obama antes de deixar a Casa Branca. O império acumula falsidades em busca de pretextos para hostilizar o governo bolivariano e propiciar sua destruição.

A América Latina está sendo submetida a uma estratégia de subordinação, de humilhação, de novo colonialismo e ameaça de anexação de maneira seletiva, para fortalecer as divisões e o enfrentamento entre países irmãos. Estamos chamando à solidariedade, à resistência e à rebeldia ante tais pretensões. Sem perder de vista que estamos no olho do furacão, em meio às tensões internas daqueles que querem fazer da reversão do Acordo, da negação e do boicote a sua implementação ou ao diálogo com outras insurgências e da recorrente invocação ao genocídio um projeto de governo.

Já a República Popular da China pôs freio ao frenesi de Trump ao impor seu reconhecimento de uma só China. Os juízes e as Cortes em seu próprio solo o estão enfrentando. O povo colombiano, empenhado no esforço de implementação e realização do Acordo, não espera do Império esmolas sem reparação, condicionadas à revisão do Acordo, à continuação da contrainsurgência e ao enfoque de inimigo interno, agora sob o abrigo de uma paz sem soberania nem autodeterminação.

Temos que unir as forças do povo e da nação para defender, consolidar e construir a paz com justiça social. Um poder de transição não pode ser diferente de um governo pluralista, dotado de um compromisso democrático e de um programa em cujo coração esteja a materialização e o cumprimento dos Acordos de Paz e das reformas avançadas para superar o Estado decadente, submisso e corrupto relutante à mudança.

Jaime Caycedo

Editorial Voz

*Secretário Geral do Partido Comunista Colombiano

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/02/14/colombia-el-imperio-y-nuestra-paz/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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