O Senador que a imprensa mais respeita: sobre a necessidade de democratizar os meios de comunicação

imagemPor Antonio Lima Júnior, jornalista e militante do PCB no Ceará

No dia 01/02, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) foi eleito Presidente do Senado para os próximos dois anos, gerando grande repercussão nos meios de comunicação, que não cansaram de estampar seu rosto draconiano nos principais cadernos políticos da imprensa local, utilizando-se do regionalismo para enaltecer a escolha do senador, haja vista que o último Presidente do Senado de origem cearense fora Mauro Benevides (PMDB), entre 1991 a 1993. Ruralista, dono de grandes latifúndios, Eunício Oliveira aparece na delação da Odebrecht acusado de receber R$ 2,1 milhões, além de ter enriquecido 749% como senador entre 2010 e 2014.

Tecendo louros ao senador, as matérias jornalísticas recordaram a retrospectiva da sua “trajetória política” em seus cadernos políticos, numa espécie caricata de “Revista Caras”, trajetória essa marcada por alianças coronelistas, com direito a casamento entre famílias (sua esposa é filha de Paes de Andrade, político cearense que foi Presidente da Câmara dos Deputados e embaixador em Portugal) e coligações com o reformismo petista, chegando a nomear Eunício como Ministro das Comunicações em 2004, mesmo sendo dono ilegal de concessões públicas de rádios: Serrinha FM, de Corumbá de Goiás (GO) e Tempo FM, de Juazeiro do Norte (CE).

Lamentavelmente, o PT fez questão de fortalecer um coronel midiático e ruralista (duas pautas que diziam fazer parte do projeto democrático popular), criando o ovo de serpente que eclodiu ao apoiar o impeachment e seguir na linha de derrocada do petismo no Ceará, fortalecendo a oposição. A imprensa cearense se cala diante dos fatos, mostrando-nos a necessidade de ampliar a discussão sobre o papel dos meios de comunicação na manutenção e hegemonização do sistema capitalista e dos interesses da burguesia que comanda o país nesse momento pós-impeachment.

No momento de crise da alternativa petista e no processo de autocrítica da esquerda, a pauta da democratização dos meios de comunicação precisa estar presente. Cabe lembrar que nos treze anos de governo petista não houve nenhum avanço nessa questão, muito pelo contrário: nunca na história desse país a imprensa burguesa lucrou tanto com recursos federais e seguiu com suas concessões intocáveis. O ex-presidente Lula, após depor em condução coercitiva, chegou a criticar o papel da Rede Globo no processo. Esqueceu ele de mencionar que não deixou de tecer elogios a Roberto Marinho em seu enterro, pouco depois de ser empossado Presidente da República pela primeira vez.

Para a esquerda socialista, realmente comprometida com a construção de um novo sistema, a partir da luta anticapitalista e anti-imperialista, é preciso demarcar a necessidade de uma comunicação voltada para a classe trabalhadora e populações oprimidas pelo capitalismo, contrapondo a mídia hegemônica e sua disseminação do pensamento burguês, sem deixar de, concomitantemente, exigir a imediata cassação das concessões públicas de transmissão de rádio e TV que estão hoje nas mãos de latifundiários, políticos e toda uma corja de burgueses que lucram com nossas mazelas transformadas em espetáculo. É preciso propagar para a classe operária quem de fato é o senador Eunício Oliveira: ruralista, golpista e burguês, que vai aprovar sem nenhum pudor as reformas trabalhista e da Previdência!

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