Cada vez mais próximos da guerra

imagempor Brian Cloughley [*]

A Comissão de Ciência e Segurança do Bulletin of the Atomic Scientists advertiu que a probabilidade de uma guerra nuclear catastrófica está agora mais próxima do que em 1953. Como explicado pelo Bulletin, em 1947 este concebeu o Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock) “utilizando a imagem do apocalipse (meia noite) e a linguagem da explosão nuclear (contagem até zero) para comunicar ameaças à humanidade e ao planeta”.

A cada ano “a decisão de mover (ou deixar estático) o ponteiro do minuto do Relógio do Juízo Final é tomada pelo Conselho de Ciência e Segurança do Bulletin em consulta com o seu Conselho de Patrocinadores, o qual inclui 15 prêmios Nobel”. Em 1953 o Relógio estava a dois minutos da meia-noite. Nos piores anos da guerra fria estava nos 3 minutos para a meia-noite quando, em 1984, foi registado que as “relações dos EUA com a URSS atingiram o seu ponto mais gélido na década. O diálogo entre as duas superpotências virtualmente cessou. Todos os canais de comunicação foram reduzidos ou fechados; toda forma de contato foi atenuada ou desligada…”

E agora, em 2017, é evidente que canais de comunicação com a Rússia estão sendo deliberadamente desligados – e os ponteiros do Relógio do Juízo Final foram colocados a apenas dois minutos e meio da meia-noite.

O desastre assoma.

E quando ele assoma, o Senado dos Estados Unidos está agravando a sua abordagem confrontacional global e anunciou que pretende penalizar a Rússia por um certo número de supostos delitos.

O senador Lindsey Graham disse à CBS News que o Senado “punirá a Rússia por interferir nas nossas eleições” – alegação a respeito da qual não foi fornecido nem um farrapo de prova por qualquer pessoa. Investigações amplas estão em curso, naturalmente, mas pode-se assegurar que, se houvesse o mais ligeiro, mínimo ou microscópico bocado de prova real de qualquer interferência, ele teria sido revelado à mídia e fariam a manchete dos noticiários.

O senador Graham ultrapassou-se a si próprio dizendo ao presidente Trump, via CBS News , que “Você é o comandante em chefe. Você precisa enfrentar a Rússia. Nunca iremos restaurar nosso relacionamento com a Rússia enquanto não a punirmos por tentar destruir a democracia. E isto começa com mais sanções”.

Então o entrevistador da CBS trouxe à tona o assunto dos muitos inquéritos quanto às alegações de trama Trump-Rússia e mencionou que um democrata dissera que as investigações eram uma “expedição de pesca… Qual a sua resposta a isto?”

O senador respondeu: “Isso não é assunto seu. Estamos fazendo o que pensamos que é melhor. Os russos interferiram na nossa eleição. Eles estão fazendo isto por todo o mundo. Nenhuma prova ainda de que a campanha de Trump entrou em conluio (colluded) com os russos. Não acredito que o presidente tenha conspirado com os russos, simplesmente por causa do modo como se comporta. Há evidência zero de que o presidente Trump tenha feito qualquer coisa errada com os russos. Há evidência esmagadora de que a Rússia está tentando destruir a democracia aqui e no exterior. E se você perdoar e esquecer Putin, está obtendo mais do mesmo e estará atiçando o Irã e a China a virem em 2018 e 2020″.

O Senado dos EUA acredita que há “evidência zero” de que o presidente Trump tivesse ajuda da Rússia na sua campanha eleitoral – o que é verdade – mas também pensa que há “evidência esmagadora” de que a Rússia está tentando influenciar a votação na América, embora não haja nem um farrapo de prova quanto a isso.

O senador fala com a autoridade, força e majestade do Senado dos EUA, e o mundo tem de aceitar que os seus pronunciamentos representam as vontades dos legisladores da sua poderosa nação que tenta impor sanções mais duras sobre a Rússia. Como observou a [revista] Forbes, a nova lei “pune firmas russas de petróleo e gás ainda mais do que o atual regime de sanções… A Rússia não tem amigos no Capitol Hill”.

É intrigante que as sanções sejam centradas sobre a produção de petróleo e gás e a Bloomberg informou que a Alemanha e Áustria consideram que “as medidas procuram reforçar interesses econômicos dos EUA e incluem uma intervenção inaceitável no setor energético da região”. Numa manifestação sem precedentes – na verdade, uma explosão – de desaprovação, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Sigmar Gabriel, e o chanceler da Áustria, Christian Kern, disseram numa declaração conjunta que “o abastecimento de energia da Europa é uma matéria para a Europa, não para os Estados Unidos da América… instrumentos de sanções políticas não deveriam ser ligados a interesses econômicos” e que a emenda do Senado anunciava uma “qualidade nova e muito negativa nas relações europeias-americanas”.

Como informou o Financial Times de Londres, “as sanções à Rússia esboçam uma oposição ao Nord Stream 2, um gasoduto que duplicará a capacidade da Gazprom… de fornecer gás à Europa sob o Mar Báltico. As medidas poderiam afetar companhias de energia europeias, incluindo a Shell, Engie e OMV, as quais financiam o gasoduto. As ações das quatro companhias afundaram na quinta-feira”.

A missão de destruição lucrativa de Washington foi parcialmente alcançada, mas é aqui que se chega à essência da questão. A parte da Lei das Sanções (Sanctions Bill) envolvendo a Rússia foi um acréscimo a uma série de medidas vingativas contra o Irã, mas pareceu uma boa ideia sanção também à produção de petróleo e gás da Rússia, pois ninguém se beneficiaria mais com isso do que companhias de petróleo e gás dos Estados Unidos.

A Bloomberg explicou que o gasoduto Nord Stream “competiria com exportações de gás natural liquefeito dos EUA para a Europa”. E o Senado deixou claro que o governo dos EUA “deveria priorizar a exportações de recursos energéticos dos Estados Unidos a fim de criar empregos americanos, ajudar aliados e parceiros dos Estados Unidos e fortalecer a sua política externa”.

É difícil ver como a arrogante intromissão do Senado pode “ajudar aliados e parceiros”, mas aqueles na América que possuem recursos energéticos e querem continuar a ganhar vastos lucros continuam a ajudar seus aliados e parceiros no Senado e na Câmara. Sem o seu apoio financeiro, muitos legisladores nunca teriam ido para Washington.

Como registado por Open Secrets, companhias estreitamente associadas à produção de petróleo e gás deram a políticos dos EUA mais de 50 milhões de dólares em 2015-2016, a fim de ajudar a sua “democrática” eleição.

Principais contribuidores, 2015-2016
imagemE o senador Lindsay Graham recebeu grande soma de dinheiro de muitas organizações comerciais, encabeçadas pela Nelson Mullins , cujos US$ 254.247 entre 1993 e 2016 sem dúvida ajudaram-no seu caminho. A Nelson Mullins, a propósito, tem advogados que “têm experiência em aconselhar fornecedores de eletricidade e de pipelines em questões legais”. Ele obteve US$175.605 da SCANA, a qual é “uma companhia holding de US$ 9 bilhões com sede em Cayce, Carolina do Sul… Seus negócios incluem… operações de gás natural e outros negócios relacionados com energia”. Outro dos generosos patrocinadores do senador Graham é a Fluor Corparation (US$94.801), a qual “entende os fatores críticos de sucesso que guiam a produção de petróleo e gás e os negócios de terminais, providenciado soluções práticas para maximizar projetos de investimentos”.

Para estas pessoas, ou para os legisladores que elas compraram com os seus donativos, não importa que o Relógio do Juízo Final tenha ficado mais próximo da meia-noite do Armagedon e que a abordagem hostil dos Estados Unidos esteja alienando uma nação orgulhosa que tem limites antes de reagir à confrontação agressiva de Washington. A hipocrisia falaciosa dos legisladores dos EUA é lendária, mas é a sua cobiça e arrogância que são preocupantes.

Enquanto o senador Graham dançava ao ritmo dos seus anjos petrolíferos, o Washington Post informava que sete por cento dos adultos americanos acreditam que o leite achocolatado provém de vacas castanhas. Por outras palavras, “16,4 milhões de bebedores de leite mal informados”. O representante da FoodCorps, a qual estimula a alimentação sensata, disse que isto era lastimável e “Nós ainda encontramos crianças que ficam surpreendidas porque as French fry são feitas com batata, ou porque o picles é feito com um pepino”. Conhecimento é poder. Sem ele, não podemos tomar decisões informadas.

Tal como o Senado dos EUA. Ver também:

Corrupt US Senate Pushes America Toward War With Russia And Europe , Paul Craig Roberts

*Veterano das forças armadas da Grã-Bretanha e Austrália, antigo vice-chefe da missão militar da ONU em Cachemira e adido de defesa australiano no Paquistão.

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/news/2017/06/21/ever-closer-war.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/crise/guerra_21jun17.html

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