Colômbia: lançamento da campanha “Com a Força do Comum”
Discurso do candidato à Presidência da República Rodrigo Londoño – Timo
Domingo, 28 de janeiro de 2018
“A partir de hoje, sou candidato à Presidência da República. Represento meu partido:a Força Alternativa Revolucionária do Comum. E me comprometo encabeçar esse governo de transição, que gere as condições para o nascimento de uma nova Colômbia”.
Muito boa tarde,
A Força Alternativa Revolucionária do Comum, o Partido da rosa, saúda, com verdadeiro entusiasmo e alegria, aos habitantes da Cidade Bolívar.
Esta gigantesca localidade bogotana, que agrupa mais de 700 mil pessoas em mais de quatrocentos bairros, lidera em seu interior uma angustiante luta coletiva pela sobrevivência, pela vida digna e pela superação de enormes dificuldades.
Ao fazê-lo, estendemos também nosso abraço a todo o povo colombiano. Somos esse caudal imenso de homens e mulheres que sonham com um futuro melhor.
Sabemos que a esperança nos partidos ou movimentos políticos está pelo chão. É compreensível; são muitas as décadas que levam sendo burlados pelos próprios com as mesmas.
Por isso, a FARC se apresenta às eleições. Para romper com essa lógica na qual se faz política para enriquecer com o dinheiro do povo.
A FARC chega para inaugurar uma nova forma de fazer política. Uma política que coloca as pessoas do comum no centro do Estado.
Somos um punhado de mulheres e de homens que, após ter liderado uma luta armada contra os poderes dominantes em nosso país, assinamos um Acordo de Paz com o Estado colombiano.
Ao iniciar nosso processo de reincorporação à vida civil e deixar as armas, obtivemos o direito de fazer política com plenas garantias de nossa vida e liberdade. Ainda assim, a perseguição não cessa, tivemos 37 mortos e mais de 500 companheiros e companheiras continuam na prisão.
Porém, nós não baixamos os braços. As dificuldades não deterão essa força irresistível do comum.
Em um país no qual a propaganda suja se encarrega de enlamear aqueles que se ocupam em defender os mais pobres e esquecidos, nós não vacilamos em apresentar nossos nomes, nossas candidaturas e programas para um debate eleitoral.
E é por isso, por essa identidade que sentimos com as pessoas do comum, que escolhemos esta localidade para lançar nossa luta política.
Conhecemos a história de violências e despojos que deu origem ao surgimento deste setor da cidade, que por certo também compreende uma ampla zona rural. Sabemos o quanto lutou para obter a água, a luz, as ruas, a saúde, o transporte.
Nada aqui foi dado como presente, nem sequer as escolas e colégios construídos por diferentes administrações. Cada metro de tubulação ou asfalto, cada ladrilho preso com cimento ou cada inundação derrotada, foi o produto do esforço e do trabalho comuns, de uma angustiosa luta pela superação. Ainda assim é muito o que falta, e consegui-lo impõe um novo caminho.
Da Cidade Bolívar se escrevem e dizem muitas coisas. Que é uma localidade cheia de perigos, onde além da pobreza e da miséria, existem todos os males. Gangues, toxicomania, microtráfico, paramilitarismo, deslocamento forçado e todo tipo de violência. Uma comunidade ameaçada pelo desemprego, pela informalidade e pelas explorações mineradoras que atentam contra o ambiente. Uma total ausência do Estado.
Talvez, como o grande poeta que foi e será, sobre isso cantava Samurai. Cantava com fé certa no futuro: “Tempos de guerra vem e vão, rir para não chorar, sofrer, andar, pecar, sonhar…”.
Sua dolorosa partida e sua estranha morte, que como outras tantas chora a lua da Cidade Bolívar, também colocam em destaque as grandes coisas que aqui habitam, e a esperança no amanhã melhor.
Na Cidade Bolívar, amadurece a semente da organização popular, da comunidade de vizinhos, da união das mães que são chefes de família, da juventude que se move. Desde as colinas que a forma, seus habitantes contemplam todas as noites, como se fosse uma lagoa de estrelas, uma outra Bogotá. A Bogotá do progresso pujante que a eles sempre foi negada. Todos têm direito a apreciá-la e trabalham para consegui-lo.
Por isso, a grande importância de seus projetos de recuperação da memória histórica, suas organizações sociais de mulheres, os esforços de professores e coletivos de jovens com movimentos artísticos, culturais e ambientalistas. Todos eles se encarregam de mostrar que aqui não é tudo violência e angústia, como apresentam as grandes mídias.
É muito mais a gente boa e criativa. E é, diante de todos eles e elas, que nos apresentamos agora.
Seria demasiado extenso tentar aqui uma exposição completa das causas geradoras de tanta injustiça. Porém, falemos do essencial. Não é à toa que nosso país alcança o segundo lugar em desigualdade entre ricos e pobres em nosso continente, sendo superado apenas pelo Haiti.
E isso obedece fundamentalmente ao fato de que o aparato do Estado foi planejado e funciona para servir de maneira principal ao enriquecimento dessa elite privilegiada. A economia do país se encontra organizada de forma tal que os grandes capitais, os bancos, as seguradoras, as firmas construtoras, os grandes proprietários de terras e as máfias aumentam diariamente sua fortuna.
Sem importar que milhões de colombianos e colombianas careçam das mínimas possibilidades de sair adiante. Que os campesinos emigrem às cidades, engrossando os cinturões de miséria. O que conta é que os grandes projetos agroindustriais de exportação se multipliquem e lucrem. Lá os pobres que consigam se virar como puderem, a culpa é de sua preguiça. Assim pensam.
E esse Estado, a serviço dos poderosos, foi possível graças ao controle que sobre ele mantém políticos profissionais do engano e da mentira. Em nosso país se construiu durante décadas uma máquina clientelista e corrupta. Um mercado de favores para seus próprios bolsos.
Os velhos e corruptos partidos, como o liberal ou o conservador, foram sucedidos por outros partidos e movimentos. Sempre encabeçados por reconhecidos caudilhos dessas mesmas coletividades, com nomes, cores e símbolos novos. Apenas em aparência renovaram a política colombiana, porque na realidade a afundaram ainda mais na lama da podridão.
As novas figuras, os autênticos partidos e dirigentes que trabalharam pelas classes mais desfavorecidas, sem pensar no interesse dos capitais, sempre encontraram uma morte violenta. Jorge Eliécer Gaitán, Jaime Pardo Leal, Luis Carlos Galán, Carlos Pizarro, Bernardo Jaramillo, entre tantos homens e mulheres. O extermínio impune da União Patriótica e uma prova contundente desta prática.
Daí, nossa convicção de que somente libertando o Estado das mãos dessa classe política, podem os pobres e necessitados deste país ter futuro. A Colômbia requer uma nova política, que ponha o enfoque principal no povo trabalhador, em sua condição e dignidade humana, em sua reabilitação econômica, social, política e cultural.
Nosso partido não chega para apresentar-se como a fórmula mágica da salvação. Viemos propor um despertar geral, uma tomada de consciência, no sentido de que mudar as coisas é possível. A política se transformará do qu é hoje, em uma atividade nobre e benfeitora, quando os colombianos do comum forem seus verdadeiros protagonistas, se apoderarem dela.
Em nosso país só participam da política uns quarenta por cento dos colombianos, ou seja, apenas 4 em cada 10 compatriotas decidem o futuro dos demais. E sabemos que boa parte deles vende seu voto, ou o troca por pequenos favores ou grandes promessas que ficam no ar. É urgente que 60 por cento de ausentes se façam presentes e se façam respeitar.
Temos que compreender que se não fizermos política, estaremos sempre dominados pela minoria que se ocupa dela. Nós nos oferecemos como a opção de organização e unidade das pessoas do comum. Somos colombianos e colombianas que deixamos tudo para lutar pela causa de nosso povo. Arriscamos tudo, até a vida, para mudar a favor das coisas.
Que nos acusem das maiores barbaridades é apenas natural em uma classe política egoísta e corrupta, acostumada a mentir e violentar sem piedade alguma. Nos Acordos de Havana, se pactuaram as fórmulas que permitirão conhecer a verdade verdadeira, um sistema integral da verdade, justiça, reparação e não repetição, que esperamos que a oligarquia de nosso país deixe operar.
Então, sobram as acusações imprudentes. Não queremos converter esta campanha em um leva e traz de recriminações e insultos. Queremos que a verdade venha à tona, e que os responsáveis de fatos repudiáveis paguem por seus crimes. Nós não tememos a verdade, pelo contrário, estamos ansiosos de que surja. Cremos que são outros os que temem, e de que maneira.
Por isso, seus reiterados ataques frágeis contra o que se pactou nos Acordos de Paz de Havana. Ali se sentaram as bases para uma reforma rural integral. Para que os homens e mulheres que não tenham terra e queiram trabalhá-la, possam ter acesso a ela e contar com toda a ajuda do Estado. Além de elevar seu nível de vida com a verdadeira assistência estatal.
Que os agora donos de terras despojadas violentamente possam ver-se brigados a restituí-las, movimenta um importante setor a difamar interessadamente o acordado. Do mesmo modo que se opõem à unidade de investigação dos crimes do paramilitarismo, pactuada em Havana, porque temem que seus nomes saíam envolvidos quando florescerem as investgações.
Pactuou-se também no Acordo Final uma abertura democrática, para que os setores excluídos da política possam organizar-se e tomar parte nela, com toda classe de garantias. Isso implica uma reforma política e um novo regime eleitoral, reformas que no Congresso da República se obscureceram, pelo medo que os políticos tradicionais têm acerca das novas formas.
Não é meu propósito elevar aqui um memorial de agravos pelos descumprimentos do Estado, que são numerosos, porque estamos convencidos de que somente lutando conseguiremos fazer cumprir sua palavra. Já assinamos um Acordo de Paz, deixamos as armas, nos convertemos em partido político, ninguém pode duvidar de nossa seriedade e disposição ao cumprimento.
Por isso estamos aqui, frente a vocês, apresentando nossos nomes a sua consideração, e convidando-os a somarem-se à luta por um novo país. Para isso, será indispensável escolher um governo de transição, que consiga materializar uma mudança efetiva da guerra e da violência, para um estado de paz, reconciliação e justiça social. Que ponha fim à mão assassina na política colombiana.
A partir de hoje, sou candidato à Presidência da República. Represento meu partido: a Força Alternativa Revolucionária do Comum. E me comprometo a encabeçar esse governo de transição, que gere as condições para o nascimento de uma nova Colômbia. Um governo que representará por fim os interesses dos pobres da Colômbia, que trabalhará por eles e para eles, sem trégua alguma.
Para tornar possível esse governo, necessitaremos da ajuda de milhares de compatriotas, dispostos a transformar este país para bem. Por isso, estendemos nosso chamado a todas as forças e movimentos políticos e sociais, cansados dos políticos tradicionais. Nunca como esta vez as eleições serão tão decisivas na Colômbia, unamo-nos para vencer e o conseguiremos.
Se existe algo certo é que os do comum são muitos mais, o que nos faz falta é nos unirmos. Temos que nos sacudir contribuir para fazer despertar os que se deixaram enganar por tanto tempo.
Todo colombiano tem direito, pelo simples fato de sê-lo, a sua integridade física e moral, a gozar de uma vida digna. Cada um e uma tem, portanto, o direito a uma Renda Vital de Existência, e vamos garanti-la em nosso governo.
Não pode existir um só colombiano ou colombiana cujo trabalho não seja reconhecido. A nação garantirá que o trabalho doméstico que realizam as mulheres, e alguns homens também, tenha reconhecimento e retribuição econômica. É o justo, esse trabalho invisível e silencioso de tantas mães tem que merecer um pagamento. Sabemos que não existe paz com fome, por isso vamos combatê-la.
“Que não pode”, “que isso é demagogia e populismo”, sabemos que o dirão de imediato os privilegiados de sempre, os ricos neste país, os donos das maiores fortunas. Nós diremos que SIM é possível, com a força do comum.
Cremos que é apenas de elementar justiça nivelar os encargos. Redistribuir equitativamente o produto do trabalho nacional. A partir daí e do combate à corrupção que devora o orçamento nacional, uma soma que especialistas calculam em mais de 50 bilhões de pesos ao ano, podem e devem obter-se os recursos que os pobres requerem para viver com dignidade.
Não foram as FARC que derrubaram a ponte Chirajara, nem roubaram impunemente a Reinaria de Cartagena. Não. Nós nunca tomamos um peso do Estado para entregá-lo aos mais ricos, a fim de que apoiassem nossos nomes em uma campanha. Isso o fazem os líderes da política tradicional, os que, como os Nule, agora querem processar o Estado.
A Colômbia requer uma verdadeira democracia. Que a voz dos de baixo, esses milhões e milhões de pobres que nunca contaram, seja escutada e possa decidir sobre seu futuro. Que seus clamores por justiça social tenha eco, que sua defesa de seus direitos como mulheres, como diversidade sexual, da água e do ambiente são, seja atendida e remediada.
Já basta dos passeios da morte. A saúde é um direito vital, e não um negócio para as EPS e o capital privado. Nisso a converteu a classe política que governa a Colômbia. Que paguem por ela os que têm dinheiro de sobra. Do mesmo modo que devem ser públicas e gratuitas a educação técnica e universitária. Só a educação para a mudança nos fará um país livre.
Não queremos um país de ódios e ressentimentos. Queremos um país reconciliado, no qual se respeite a diferença e se debata de modo civilizado. Isso requer uma mudança nos costumes, uma transformação cultural. Por isso, dirigiremos um importante esforço à ciência, à investigação científica e social, à arte e à cultura. O esporte e a recreação são direitos e não luxos.
Cremos que são enormes as necessidade sociais, as estradas e as vias urbanas, os pavimentos, as habitações, as escolas, colégios, postos de saúde, aquedutos e linhas elétricas que devem ser construídas. Isso demandará um grande esforço nacional, no qual as forças armadas podem contribuir com amor à pátria.
São muitas coisas a serem mudadas na Colômbia, e não quero abusar mais do tempo e do cansaço de vocês. Visitaremos uma quantidade de lugares, onde pensamos nos apresentar como o que realmente somos, para escutar e trocar com a Colômbia profunda e esquecida. Cada vez mais ampliaremos nossas propostas para um novo país, o país de todos e todas.
Esse país que sonhou o grande poeta Carlos Castro Saavedra, onde se possa andar pelas aldeias e pelos povoados sem anjo da guarda, onde brilhem mais as vidas que as armas, onde a liberdade entre nas casas com o pão diário, com bela carta, onde o povo se encontre e com suas mão teça ele mesmo seus sonhos e sua manta, onde possamos dizer: temos pátria.
Viva a gente da Cidade Bolívar! Vida a gente comum! Viva a Colômbia!
Rodrigo Londoño – Timo
27 de janeiro de 2018
Fonte: https://www.farc-ep.co/comunicado/discurso-del-candidato-a-la-presidencia-de-la-republica-rodrigo-londono-timo-en-el-lanzamiento-de-la-campana-con-la-fuerza-del-comun.html
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)