Vassalos

imagemJorge Cadima

ODiario.info

A violação das resoluções da ONU sobre Jerusalém pelos EUA/Trump deu luz verde ao bárbaro massacre israelense de muitas dezenas de manifestantes palestinianos. Tornou claro, juntamente com o rasgar do acordo nuclear sobre o Irã, que a classe dirigente dos EUA não tem palavra. Não é uma novidade. Há 70 anos que os EUA dão cobertura aos crimes e infindáveis violações da legalidade internacional pelo Estado sionista de Israel. Todas as guerras dos EUA/OTAN no último quarto de século violaram a legalidade internacional. A Resolução da ONU (1244) que pôs fim aos bombardeios da Iugoslávia pela OTAN (com Clinton) reafirmava «a soberania e integridade territorial da República Federativa da Iugoslávia», que foi em seguida desmembrada. O Iraque e a Líbia assinaram acordos de desarmamento mas foram atacados pelos EUA/OTAN, e os seus dirigentes assassinados (com Bush e Obama). Para o imperialismo norte-americano, acordos e o desarmamento de terceiros são meros passos que facilitam futuras agressões.

A pútrida classe dirigente dos EUA só conhece a violência e a arrogância nas suas relações internacionais. O ex-chefe da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), o brasileiro Bustani, contou ao The Intercept (29.3.18) que, meses antes da invasão do Iraque, John Bolton (hoje Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, na altura um subsecretário no governo Bush) apareceu na sede da OPAQ e disse-lhe: «Tem 24 horas para abandonar esta organização, e se não o fizer temos formas de retaliar contra si». Acrescentando: «Sabemos onde vivem os seus filhos. Tem dois filhos em Nova Iorque». Talvez assim se explique a súbita demissão, três dias após ter sido rasgado o acordo sobre o Irã, do chefe da equipa de inspeções da Agência Internacional para a Energia Atômica, o finlandês Varjoranta (RT, 12.5.18). A AEIA tem certificado que o Irã cumpre o acordo (Washington Post, 13.11.17). John Kiriakou recorda os seus 15 anos como agente da CIA, quando da corrida para a invasão do Iraque: «Tudo se baseou numa mentira. Foi tomada uma decisão e depois criaram-se ‘fatos’ para sustentar a decisão. Creio que o mesmo está se passando hoje» (globalresearch.ca, 11.5.18). Kiriakou foi quem denunciou as torturas nas prisões da CIA. Passou dois anos na prisão (no tempo de Obama), enquanto a chefe de um desses centros secretos de tortura, Gina Haspel, foi nomeada por Trump para chefe da CIA. São estes os ‘valores democráticos’ dos nossos ‘aliados atlânticos’. Que mandam na OTAN, da qual a UE é, oficialmente, o ‘pilar europeu’.

O repúdio ao acordo nuclear tirou o tapete aos fiéis súbditos europeus dos EUA. O anúncio de Trump veio acompanhado da ameaça de sanções às empresas que mantenham relações comerciais com o Irã. O ministro das Finanças francês, indignado, pergunta: «queremos ser vassalos dos EUA […] ou defender os nossos interesses econômicos?» (CBS, 11.5.18). Pergunta legítima, que chega com décadas de atraso. Mas a UE colaborou na destruição do edifício do Direito Internacional nos últimos 25 anos – da Iugoslávia às guerras do Médio Oriente, às campanhas antirrussas, à impunidade dos crimes de Israel. Alimentou o monstro e agora queixa-se da sua ingratidão. E Portugal? Vai insistir na sua vassalagem aos EUA, à OTAN e à UE?

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº2320, 17.05.2018

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